ALCIDE DE GASPERI
Natural da província de Trento, Itália, foi o mais importante político da Itália do pós-guerra. No contexto europeu os “Pais da Europa” são Alcide de Gasperi, Konrad Adenauer, Robert Schuman e Jean Monnet.
De Gasperi sempre esteve ligado à Igreja Católica. Inimigo do regime
fascista foi preso e condenado. Mas graças à intervenção do Papa Pio XI foi
libertado. Para enfrentar o fascismo fundou o Partido da Democracia Cristã.
Este partido se disseminou para a maioria dos países europeus e conduziu os
destinos da Europa por meio século.
O período “degasperiano”, desde a fundação da Democracia
Cristã até 1953, é um período particularmente desafiador para a Democracia
Cristã . Primeiramente é um partido novo, com alguns participantes com
experiência no extinto Partido Popular como Alcide De Gasperi e Luigi Sturzo.
Em segundo lugar, não foi um partido que emergiu da sociedade italiana, mas em
boa parte criado artificialmente em laboratório, mormente no Vaticano. Guindado
ao governo deveria dar conta de algumas tarefas nada fáceis para um pós-guerra,
no qual a Itália não somente foi perdedora, como ficou falida economicamente.
Mas, a maior de todas as missões era de conter fascismo de direita, e o
comunismo de esquerda, o segundo partido mais forte da Itália. Neste preciso
período, a Democracia Cristã será atacada pelos amigos e inimigos, pelos seus
apoiadores e opositores, precisamente quando estava se organizando.
Neste primeiro período predomina a figura carismática De
Gasperi. É considerado como uma autêntica liderança: forte, decidido, de
marcante influência pessoal. Faz-se sentir no enfrentamento dos problemas
cruciais e na organização do novo partido. Sob sua inspiração a Democracia
Cristã amadureceu, ou feita amadurecer, num ambiente eclesiástico e no laicato
católico. Foi criada com o objetivo de contrapor-se às forças laicizantes e
comunistas, para tutelar, defender e promover os interesses da Igreja e dos
católicos na fase de reconstrução, reduzindo ao mínimo os inconvenientes
decorrentes dos compromissos da Igreja com o Fascismo. Mas na prática
significou muito mais que isto, como por exemplo, a incorporação dos eleitores
católicos num regime democrático.
Nesta fase tornava-se crucial conseguir os máximos de
recursos organizativos com o fito de conter a esquerda, máxime os comunistas.
Passados os primeiros momentos, o partido deu
mostras de estar atingindo os
objetivos. Para o momento subsequente, era preciso continuar contar com o apoio
da organização católica e por outro, defender a democracia republicana. O
primeiro era tanto mais importante, pois em alguns setores da Igreja se pensava
em criar outro partido. Isto se tornava crucial para o partido da Democracia
Cristã. O apoio eleitoral da Democracia Cristã, neste período estava dependente
do empenho do catolicismo da Democracia Cristã. Por isso, o partido não poderia
perder nenhum apoio. O preço de optar pelo “partido dos católicos”, neste
momento, talvez tenha sido inevitável para a Democracia Cristã radicar-se na
sociedade italiana, e desempenhar o papel que lhe foi cometido. Isto não
significa que não tenham advindo consequências negativas. Uma delas é o fato de
que o partido conseguia mover-se com dificuldade pois sentia o peso da mediação
católica, mormente da alta hierarquia, quando não do vértice do Vaticano. Mas
há também as positivas, sendo que se pode apontar como uma das mais importantes
é que a Democracia Cristã evitou que alguns setores eclesiásticos enveredassem
para experiências do tipo salazarista, mantendo o mundo católico dentro dos
limites democráticos. Nesse sentido, parece que a balança pende positivamente,
pois, perante tantas dúvidas, mesmo da parte da hierarquia eclesiástica, a
liderança degasperiana garantiu para a Itália a opção democrática.
Em consequência disso, o partido da Democracia Cristã tem
como primeiro desafio de sua organização a assimilação dos dirigentes da ação
católica nos seus quadros. Nesse sentido inicia um intenso trabalho de
recrutamento de filiados para poder preencher os cargos em nível local e
nacional. Nesse momento inicia o processo de desvencilhamento da tutela
eclesiástica, pois precisa expandir-se além do seu raio de ação. É consenso se
afirmar que o sucesso do primeiro período da Democracia Cristã se deveu á
organização da ação católica atraída para o partido. Mas a Democracia Cristã
não para aí, passando a partir de então a andar com autonomia, aceitando
criticamente o apoio dos meios católicos. Isto por que De Gasperi, tinha
consciência que um partido de uma religião, seria um contra senso. Poderíamos
nos perguntar: como foi possível que de uma doutrina religiosa adviesse uma
proposta política que conseguiu sublimar a opinião pública e imantou os
interesses nacionais? Ocorreu aquilo que John Rawls denominou de “concepção
política de bem”. Conforme o autor, uma concepção de bem em política é
diferente de uma concepção religiosa ou filosófica. Esta última é abrangente,
isto é, absoluta. A política é específica, isto é, é para aquele objeto
concreto, de modo que, ao aceitar uma determinada ideia de bem em política não
é necessário aceitar esta ou aquela religião. Com isso ela se torna razoável e
não matéria de fé ou sentimento. É isto precisamente o que caracteriza um
regime democrático. Caso fosse a concepção de bem absoluta, certamente
cairíamos no totalitarismo, fundamentalismo ou outro regime, mas nunca o
democrático. Uma proposta de bem político democrático pode ser aceito por toda
sociedade, composta de cidadãos livres e iguais, pois que não pressupõe uma
doutrina abrangente.
Com efeito, foi o que ocorreu com a Democracia Cristã a
partir da concepção da lavra de De Gasperi. Ele, paulatinamente, passou a atuar
politicamente de forma autônoma em relação à hierarquia eclesiástica.
Estabeleceram-se metas e programas fora do manto da Igreja. Eram metas de uma
sociedade civil, como a inserção da Itália na comunidade europeia, ou a
industrialização. De Gasperi quando organizava a economia no sentido de o
Estado fazer o papel de regulador criando uma estrutura para o processo
econômico capitalista, fazendo conviver prosperidade e liberdade, não tinha em mente uma determinada religião,
mas um interesse que atingia a comunidade civil. Nisso, parece, que consistiu a
possibilidade de êxito da Democracia Cristã na Itália e nos demais países
europeus que a adotaram, como foi o caso da Alemanha e outros países.