sexta-feira, 1 de junho de 2018

A Vida e seu sentido. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei




Falar do sentido da vida é dialogar com Viktor Emil Frankl, médico psiquiatra e filósofo. Ele construiu um diálogo entre a Psicologia e a Filosofia, que podemos observar na sua proposta psicoterápica. Acompanhando sua trajetória mergulhamos nas grandes questões da Filosofia e da Psicologia na segunda parte do século XX. Ele desenvolveu uma escola de psicoterapia que ficou conhecida como logoterapia ou análise existencial. Inserindo-se com essa criação na tradição fenomenológica ou humanista, seguiu trajetória semelhante ao médico e filósofo Karl Jaspers, embora não tenha se destacado como ele na Filosofia. Jaspers e Heidegger foram os dois mais importantes filósofos da Alemanha do século passado.
Na juventude, Frankl foi influenciado por Freud e Adler antes de desenvolver sua escola psicoterapêutica. Os três tornaram-se conhecidos como os criadores das três escolas de Viena. Frankl não negou a importância do que aprendeu com os psicanalistas, mas deles se afastou porque não entendeu que se pudesse reduzir as grandes realizações humanas à sublimação da libido. E também porque não considerou a energia sexual ou a luta pelo poder os mais importantes moventes humanos, afirmando ser esse o sentido.
E ao retomar a questão proposta pelos filósofos para explicar a condição e situação humanas, Frankl deu a ela o peso da ciência. Para ele, afirmar que o homem precisa de um sentido para viver melhor, mesmo que não desapareçam os problemas ou a dor da proximidade da morte, não é apenas uma orientação filosófica, mas uma verdade cientifica. Assim, se como diziam os filósofos, a vida não é fato, mas uma escolha ou valor, essa questão tem sentido filosófico, mas também psicológico ou científico. Assim é porque as realizações espirituais do homem, dizia Frankl, representam algo tipicamente humano. E por que a questão do sentido se tornou tão importante? Porque se vive num tempo de crise.
Muitos filósofos falaram dessa crise. Dela é importante destacar a volatividade. Se recordamos de Zymunt Bauman e a teoria que elaborou em 1999 na obra a Modernidade líquida, temos uma referência precisa de para onde a crise se encaminhou. Se tornou-se difícil viver com as crenças das antigas gerações porque a vida se encarregou de colocá-las em suspeição, como observou Ortega y Gasset; se os valores da civilização foram rearticulados como disseram os culturalistas adquirindo um novo perfil, se a percepção de que a vida parece absurda porque quando começa não é possível descobrir uma razão para sua contingência como disse Martin Heidegger; foi porque a vida passou por transformações intensas. E onde nos levaram essas transformações na segunda metade do século passado foi o que resumiu Bauman: ao fortalecimento da competição em detrimento da solidariedade, ao enfraquecimento dos sistemas de proteção social com aumento das incertezas da vida, ao deslocamento dos fracassos para o plano individual, à redução dos planejamentos de longo prazo e ao afastamento do poder da política. Então nesse novo mundo o que se tornou necessário foi descobrir um sentido para a vida se quisermos empregar as palavras de Frankl.



Postagens mais vistas