sexta-feira, 31 de maio de 2024

O DNA BRASILEIRO. Selvino Antonio Malfatti

 



Qual a tua identidade no mundo como brasileiro? És americano?  Sul-americano? Latino? Como és visto pelos outros que não são brasileiros? Quando se encontram juntos franceses, ingleses, espanhóis, italianos, portugueses o que tem de comum entre si? Consideram-se europeus. E se juntassem argentinos, brasileiros, chilenos, uruguaios o que considerariam terem em comum? Sul-americanos? Sentir-se-iam orgulhosos de serem sul-americanos?

Numa ocasião que estive na Europa percebi que ao se juntarem algumas nacionalidades a palavra que se ouvia era: somos europeus. Na América latina só uma vez ouvi em Buenos Aires de um garçom: somos do Mercosul. Em outras ocasiões cada um se representava pelo seu país.

Isto evidencia a não existência de um eu comum na América e menos ainda na América Latina.  Individualmente se identifica como brasileiro, argentino, chileno etc. E por que isto? A hipótese é que houve uma ruptura com a pátria-mãe e por isso se desvinculou da raiz a que pertencia: a Europa. Não podemos ser europeus, mas nem por isso nossa matriz histórico-cultural não seja a Europa. Claro que não somos europeus, mas herdamos sua cultura. Numa abrangência mais ampla a Europa é ocidental. Sugiro, por isso que nos identifiquemos como ocidentais. O que nos une como ocidentais? Não é a geografia, não é a língua, não é a nacionalidade, mas a cultura. È um DNA axiológico que remonta à Grécia antiga como, uma economia de mercado, uma ordem jurídica e um regime político democrático. Estes três valores atravessaram os séculos, sobreviveram às guerras na Europa e migraram para as novas terras através dos descobridores europeus. Temos um liame cultural com a Antiga Grécia de Sócrates, Platão e Aristóteles, Homero, Heródoto, Tucídides, Eurípides ou Sófocles. O poeta e escritor Paul Valéry divisou os valores dos pensadores gregos: “Devemos-lhe a disciplina do Espírito (…). Devemos-lhe um método de pensamento que tende a relacionar todas as coisas ao homem, ao homem completo. » As invasões dos bárbaros que fragmentaram o império romano, não destruíram suas raízes culturais. A influência do Cristianismo assimilou a cultura grega e  conseguiu um centro de poder na Europa e devido a isso não  foram sepultados aqueles valores. Há de se destacar o papel dos mosteiros cujos monges copiavam e difundiam a cultura grega, logo após conhecerem Aristóteles através do árabe Averrois. As ordens religiosas eram transnacionais e intercambiavam a cultura.

Os valores adormecidos germinaram pelo Renascimento e tomaram vigor no Iluminismo, nas universidades europeias, Bolonha, Oxford. O Iluminismo inicialmente uma esnobação em cafés, salões e lugares de emulação intelectual, a "belle èpoque". Desde um demolidor Voltaire até o suprassumo da racionalidade Kant discutiam-se os valores relacionados com o homem. Sua obra “A paz Perpétua” é o maior modelo de uma Europa e do ocidente unidos em torno dos valores humanos.

Estes valores atravessaram séculos e mantiveram-se vivos na Europa. Com os Descobrimentos foram estendidos à América e atualmente fazem parte não só da Europa, mas do Ocidente. Como dizia Erasmo de Roterdam: “O mundo inteiro é a pátria de todos nós”, na Querela Pacis. »

Em que pese a península ibérica, Portugal e Espanha, terem ficado à margem do Renascimento, pois seguiram praticando as normas do Concílio de Trento, no período iluminista recuperaram o atraso, introduzindo reformas culturais nas metrópoles e nas colônias como exemplo em Portugal o ministro iluminista Marquês de Pombal. Com isso os futuros países ficaram conectados à cultura do ocidente e por isso mantiveram-se fiéis àqueles valores.

Portanto, nosso DNA brasileiro é dos valores do ocidente europeu.


Postagens mais vistas