Qual a tua identidade no
mundo como brasileiro? És americano?
Sul-americano? Latino? Como és visto pelos outros que não são
brasileiros? Quando se encontram juntos franceses, ingleses, espanhóis,
italianos, portugueses o que tem de comum entre si? Consideram-se europeus. E
se juntassem argentinos, brasileiros, chilenos, uruguaios o que considerariam
terem em comum? Sul-americanos? Sentir-se-iam orgulhosos de serem
sul-americanos?
Numa ocasião que estive na
Europa percebi que ao se juntarem algumas nacionalidades a palavra que se ouvia era: somos
europeus. Na América latina só uma vez ouvi em Buenos Aires de um garçom: somos
do Mercosul. Em outras ocasiões cada um se representava pelo seu país.
Isto evidencia a não
existência de um eu comum na América e menos ainda na América Latina. Individualmente se identifica como
brasileiro, argentino, chileno etc. E por que isto? A hipótese é que houve uma
ruptura com a pátria-mãe e por isso se desvinculou da raiz a que pertencia: a
Europa. Não podemos ser europeus, mas nem por isso nossa matriz histórico-cultural
não seja a Europa. Claro que não somos europeus, mas herdamos sua cultura. Numa
abrangência mais ampla a Europa é ocidental. Sugiro, por isso que nos
identifiquemos como ocidentais. O que nos une como ocidentais? Não é a
geografia, não é a língua, não é a nacionalidade, mas a cultura. È um DNA axiológico que remonta à Grécia antiga como, uma economia de mercado, uma
ordem jurídica e um regime político democrático. Estes três valores
atravessaram os séculos, sobreviveram às guerras na Europa e migraram para as
novas terras através dos descobridores europeus. Temos um liame cultural com a
Antiga Grécia de Sócrates, Platão e Aristóteles, Homero, Heródoto, Tucídides,
Eurípides ou Sófocles. O poeta e escritor Paul Valéry divisou os valores dos
pensadores gregos: “Devemos-lhe a disciplina do Espírito (…). Devemos-lhe um
método de pensamento que tende a relacionar todas as coisas ao homem, ao homem
completo. » As invasões dos bárbaros que fragmentaram o império romano, não destruíram suas raízes culturais. A
influência do Cristianismo assimilou a cultura grega e conseguiu um
centro de poder na Europa e devido a isso não foram sepultados aqueles valores. Há de se destacar
o papel dos mosteiros cujos monges copiavam e difundiam a cultura grega, logo
após conhecerem Aristóteles através do árabe Averrois. As ordens religiosas eram
transnacionais e intercambiavam a cultura.
Os valores adormecidos germinaram pelo
Renascimento e tomaram vigor no Iluminismo, nas universidades europeias, Bolonha,
Oxford. O Iluminismo inicialmente uma esnobação em cafés, salões e
lugares de emulação intelectual, a "belle èpoque". Desde um demolidor Voltaire até o suprassumo
da racionalidade Kant discutiam-se os valores relacionados com o homem. Sua
obra “A paz Perpétua” é o maior modelo de uma Europa e do ocidente unidos em torno dos valores
humanos.
Estes valores atravessaram
séculos e mantiveram-se vivos na Europa. Com os Descobrimentos foram estendidos
à América e atualmente fazem parte não só da Europa, mas do Ocidente. Como
dizia Erasmo de Roterdam: “O mundo inteiro é a pátria de todos nós”, na Querela
Pacis. »
Em que pese a península
ibérica, Portugal e Espanha, terem ficado à margem do Renascimento, pois
seguiram praticando as normas do Concílio de Trento, no período iluminista
recuperaram o atraso, introduzindo reformas culturais nas metrópoles e nas
colônias como exemplo em Portugal o ministro iluminista Marquês de Pombal. Com
isso os futuros países ficaram conectados à cultura do ocidente e por isso
mantiveram-se fiéis àqueles valores.
Portanto, nosso DNA brasileiro é dos valores do ocidente europeu.