sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O aniversário de Jesus. José Mauricio de Carvalho

 



Convencionou-se considerar 25 de dezembro a data do nascimento de Jesus. Pela descrição bíblica do fato, encontrada no evangelho de Lucas : (2,1-14), provavelmente o nascimento de Jesus deu-se em março. Em dezembro não haveria pastores no campo, devido à temperatura estar muito baixa para permanecer no campo. O que importa não é, nesse caso, a exatidão histórica do fato, mas que 25 de dezembro foi escolhido para comemorar o fato de que Deus enviou ao mundo seu Filho.

Nele se cumpriram as promessas e profecias do Primeiro Testamento e pela fé Nele a civilização ocidental cristã se consolidou assumindo os valores que ele deixou, em especial o pano de fundo do amor aos outros homens que que é a dignidade de cada um. O reconhecimento dos valores cristãos não significa, contudo, que eles sejam sempre cumpridos, ao contrário, vivê-los não é fácil. Difícil também são as obrigações com o próprio Deus, porquanto amá-lo sobre tudo o mais também exige esforço.

O cristianismo emergiu do povo judeu e introduziu na cultura ocidental um extraordinário mistério, um Deus em três pessoas. Esse povo desde sua origem acreditava num Deus pessoal e único, razão da sua vida. Aquele que tirou o povo do Egito, deu-lhe terra, leis e, finalmente, a promessa de um Enviado. Esse povo era o menos propenso a propor uma divindade com mais de uma pessoa ou de um Deus que, altíssimo em sua dignidade, pudesse se apresentar como homem. Não parecia razoável nascer como homem, sofrer como homem e, finalmente, morrer como um. No entanto, entre pessoas de extrema fé judaica é que surge essa boa e surpreendente notícia, uma proposta de vida, o anúncio de um Reino no qual as contradições humanas encontram resposta na transcendência e imanência do Deus Altíssimo, que se fez homem e veio morar conosco.

Maravilha de simplicidade e mistério profundo esse Deus. O menino cujo nascimento se comemora agora traduziu todo o programa de fé do primeiro testamento (não terás outro Deus, não tomarás seu nome em vão, honrarás teu pai e tua mãe, não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não darás falso testemunho, não desejarás as coisas do próximo) em dois princípios singelos e radicais: ame a Deus e ao próximo. Ame não apenas como no livro do Levítico

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo,” (Levítico 19,18) mas com maior exigência: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei!” (João 13,34) e naturalmente aquele outro e o primeiro mandamento que se resume em não ter outro Deus diante de ti a quem sirvas. Deus pede o melhor de nós.

 

O resumo de Jesus da mensagem do Primeiro Testamento é claro, como firme são suas orientações. Ao assumir a mensagem cristã não se pode invocar Deus contra os irmãos, não se pode invocar Deus contra seu próprio caráter, não se pode usar o nome de Deus para dividir, mentir ou discriminar. Deus está acima da razão, mas não age de forma irracional, brutal, violenta ou mercenária. O Reino de Deus cresce na paz e não na guerra, nem no conflito, terrorismo, radicalismo ou ignorância, que é pior quando vem dos próprios religiosos.

 

Num século em que vemos os dias repetirem o pior do passado recente, quando as teses nazistas se espalham no ar, será preciso cuidado para que o futuro não repita o passado, mas aprenda a evitar o que ele teve de ruim. Para que nosso futuro não tenha novos Auschwitz, que não foi simplesmente o genocídio de milhões de pessoas, mas uma proposta violenta de tratar homens como coisas. O nazismo fez isso retirando de cada homem a dignidade e o valor que o Filho de Deus veio anunciar. Nenhum homem é uma vida indigna. Que este seja um natal de paz e alegria aos homens justos e de boa vontade.

 

 

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