sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Economia pós-capitalista. Selvino Antonio Malfatti -professor titular UFSM.

 



Para o sociólogo Adam Arvidsson parece que o capitalismo chegou a um estágio tal que nem mesmo as tecnologias digitais conseguem gerar crescimento. Tamanha a estagnação.

Isto é o que consta na sua obra Changemaker – O Futuro Industrioso da Economia Digital. Defende a imperiosa necessidade de mudanças baseado na análise de perdas de conexões que constituíram os desafios que provocaram a passagem do feudalismo ao capitalismo. Da mesma forma atualmente aparecem novamente dois elementos que acionam os motores da economia industrial em direção ao um futuro industrioso de uma economia digital.

O dilema que se descortina é o seguinte: todos querem as mudanças, mas ninguém sabe como fazer. Disso se configura uma encruzilhada insuperável. O pessimismo da inteligência e um exacerbado otimismo da vontade. Todos querem a mudança, mas ninguém sabe como atingi-la. Apresentam-se como inovadores os keinesianos, os defensores do estado social, os fordistas, a escola austríaca, neoliberais entre outros. Conforme Arvidssnon as reformas não irão tão longe.

Primeiramente o capitalismo não será substituído por uma economia industriosa e igualitária de mercado, mas poderá ocorrer uma evolução do capitalismo, no sentido de que as elites se auto reproduzirão assimilando alguns elementos deste modelo de economia a outros que advirão. Este é um conceito já consagrado no capitalismo, como ocorreu com a passagem dos anos Oitocentos para Novecentos: de um capitalismo originalmente de elite (que não previa um consumo de massa) de quem capitalismo sob a pressão da classe operária, se abre ao consumo de massa, incorporando um como consumidores com consequências de abertura de novos mercados e em decorrência uma nova expansão.

O tema central do livro de Arvidsson é a questão: como fazer o trânsito entre uma economia industriosa e uma economia industrial?

Uma economia industriosa se caracteriza por um trabalho intensivo e capital pobre, por uma economia industrial que gire em torno a grandes organizações com fartos recursos disponíveis. Ora, isto se tornou possível com a digitalização, pois a tornou central. Contudo estamos numa era nem as tecnologias digitais parecem gerar crescimento. Estamos de posse de smartphone, computadores, inteligência artificial, algoritmos, mas não temos crescimento econômico, ao contrário estas ferramentas são operadas dentro de um sistema que se contrai e não tem outra perspectiva que incrementar o consumo.

Uma consequência é que o ideal de: até o último da lista ( the last of the list), inverteu-se: sempre aumenta mais a fila dos excluídos. A economia industrial, laboriosa e digital chegou até aqui e não sabe mais o que fazer. Não só não se incorporou o último, como a lista dos últimos aumentou.

Mas o paradoxo do azar mostrou o caminho: a pandemia do Coronavírus.  Diante desta encruzilhada que não importa que rumo tomar, pois sempre será o mesmo, a pandemia sacudiu o mundo econômico principalmente desatando-lhe as amarras da indefinição e imobilismo. Os empreendedores surgiram de toda parte e inovaram. E não foi nos estratos superiores, mas médios e baixos. Não foram os executivos das multinacionais, mas os pequenos e médios empreendedores que tomaram a direção do volante da economia rasteira e a levaram adiante. Com a ferramenta que dispunham um smartphone ou um celular conectado à internet chegou.

Já não se precisa ir ao restaurante para fazer as refeições fora de casa. O delivery traz o almoço no seu trabalho. Não precisa ir ao banco para ver saldos, movimentar conta, fazer aplicações. Na palma de sua mão está o celular com o qual você pode fazer tudo isso. Aulas presenciais podem ser dispensadas. Cirurgias à distância já são possíveis sem falar em consultas online. O mundo se libertou das amarras dos princípios capitalistas e socialistas. O homem pequeno e médio abriu as asas e voou num voo para o infinito.  A economia teve nova vida. Já nem depende mais das decisões dos grandes. Os nanicos tornaram-se gigantes. As compras e vendas são pela internet. As transações também. Dinheiro é só virtual. Sai de uma conta e entra em outra. Não tem mais presença física. É só um valor que consta em sua conta.

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