sexta-feira, 16 de agosto de 2024

VOTO = DEMOCRACIA? Selvino Antonio Malfatti.

 



Eleição nos USA. O candidato ex-presidente Donald Trump não aceita a derrota contra Joe Biden.

Eleição no Brasil. Ex-presidente Jair Bolsonaro não reconhece a vitória de Luís Inácio Lula da Silva.

Eleição na Venezuela. O opositor Edmundo González Urrutia  não aceita a derrota contra o presidente Nicolás Maduro.

Eleições municipais no Brasil em outubro. Como serão?

Nos três resultados eleitorais - Estados Unidos, Brasil e Venezuela - o perdedor não aceita a derrota, invocando fraudes que favoreceram seu opositor no pleito. Nos três casos a discórdia ocorreu com resultado. Por quê? Por que não bastam eleições, mas regras da eleição, a processo eletivo e lisura na apuração. Imaginemos:

Cenário 1 – Uma assembleia decide que haverá eleição. Espalha-se a notícia: alto falantes anunciam, jornais veiculam a notícia, rádios e canais de televisão informam nomes de candidatos de suas preferências.

Cenário 2- Eleição. Comparece o povo qualquer dia e qualquer hora, com crianças, jovens e adultos, gritando aleatoriamente nomes. Surgem protestos daqui e dali dizendo que crianças não podem votar. Uma confusão. generalizada.

Cenário 3- Apuração. Qualquer um atribui voto para qualquer um. Uns vociferam que o voto do delegado vale mais, outros que o voto é igual de todos, outros que o voto do pastor vale em dobro. Ninguém se entende

Nestes três cenários acima se constatam três momentos da eleição:  regras, processo e apuração.

Há um consenso em torno da aceitação da democracia e outro na condenação de outros regimes. Não se quer ditaduras, oligarquias, autocracias e o pior, o totalitário.

A História nos ensina que a passagem de um regime para outro, não se dá bruscamente. Só excepcionalmente ocorre uma ruptura repentina. O normal é que avance imperceptivelmente.

Vejamos como se transita de um regime democrático para um totalitário. Há um longo caminho a ser percorrido que precede este regime. Cada etapa prepara e torna mais fácil a próxima. A etapa antecedente molda a mente de cada um e da sociedade para aceitar a posterior. Esta dinâmica em tempos cruciais pode potenciar o processo. Quando ingressa nesta dinâmica algum ingrediente vivencial, identitário individual ou social se torna obsessivo e fora de controle. Esta psicose empana a mente deixando ter a correta percepção da realidade social e econômica. Podemos seguir a trajetória de um regime liberal para um totalitário.

Hitler liderava o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Tentou derrubar o governo alemão e foi preso. Durante o julgamento somou inimigos, mas também fanáticos seguidores. Na prisão escreve Mein Kamp (Minha Luta) expondo e esclarecendo seu pensamento político. Pretendia: expansão territorial, estado racial pura (ariano), eliminação dos judeus, ciganos e outros povos. 

Fora a prisão abandona o método revolucionário para conseguir o poder e opta por vias legais. Consegue isto em 1933 quando o presidente Paul von Hindenburg nomeou-o chanceler, cargo equivalente a primeiro ministro.

O programa do Mein Kamp vai tomando forma no seu governo. Desvia-se do rumo do governo e foca-se no aumento de poder. Para tanto passa a contestar as instituições, dissemina e incentiva a brutalidade, atira a culpa dos fracassos sobre grupos como judeus, divide a nação entre alemães puros e párias intrusos e exploradores. Dissemina o joio do ódio entre grupos e partidos e incentiva atos racistas.

O desfecho é conhecido. O líder totalitário ataca os demais poderes colocando-os no banco dos traidores. Fecha o congresso e o judiciário. Entrega ao exército e ao grupos de juízes escolhidos por ele o julgamento das acusações de ordem e de política. 

Institui o regime da rolha. Destrói a consciência individual, regime do terror, a desolação como diria Hanna Arend. 

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