sexta-feira, 6 de maio de 2022

EMPRESA E HUMANISMO. Selvino Antonio Malfatti.

 




No Brasil é comum ouvir-se e ver impropérios, acusações e condenações a empresas. O diapazão são as supostas explorações dos empregados pelos empregadores através de suas ermpresas.

Isto iniciou quando o alemão Marx afirmou, opinativamente, sem base científica, que as empresas para sobreviverem aplicam a ”mais valia” sobre os trabalhadores. Estes são roubados nos seus salários e, através disso, os empresários se sustentavam, as empresas se financiavam e o mundo industrial se reproduz. 

A partir daí começou a dissociação entre empresa e sociedade. A empresa, a vilã, como um tumor alojado na sociedade corroendo-a. Precisa urgentemente ser extirpado. 

A mais valia, uma criação ideológica socialista, não foi submetida ao crivo da crítica e passou como uma verdade incontestável e digna de dogma de fé.

Na prática o que aconteceu foi uma ruptura da tradição sobre o conceito de empresa. Para Aristóteles a empresa pertence à atividade da razão prática. Esta conhece por experiência o que é melhor e como realizar esta atividade. A razão teórica pode auxiliar o mundo da experiência, mas esta é soberana sobre como realizar determinadas atividades.

Santo Tomás e Agostinho na idade média enfatizava a ideia de justiça nas relações de trabalho. “O trabalhador é digno de seu salário e de um salário digno”, como consta no Evangelho. Disso resulta que o trabalhador não pode ser explorado pelo seu patrão.

O movimento industrial introduziu a ideia de lucro na atividade produtiva. A ideologia da mais valia apontou o lucro como exploração. Nisso está a falha do silogismo. Lucro e exploração são conceitos distintos, não idênticos. Nem sempre o lucro é proveniente da exploração, isto é, pode haver lucro sem exploração.

O raciocínio de Marx:

Todo salário é o valor do trabalho embutido nele;

A apropriação de qualquer parte do salário é roubo.

Pronto. Instalada a confusão. Empresa, ladra do salário do trabalhador. 

Onde está o sofisma?

Que o salário é todo valor da produção do trabalhador.

O correto seria que o salário é um trato bilateral entre trabalhador e empresa. Ambos devem concordar, senão não há trato.

Por isso, a questão salarial do trabalhador na empresa deve levar em conta:

- Os empregados são auxiliares na produção e não explorados;

- Os lucros são retorno do trabalho do empresário;

- As empresas oferecem bens de consumo imediatos aos trabalhadores;

- Os empresários precisam continuamente reinvestir na empresa para mantê-la vida: manutenção.

A crítica à empresa acima não é em bem assim em outras partes do mundo, mormente na Europa. É o caso do livro de “L' avvenire della memoria”, (Egea, 2022), livro de Antonio Calabrò, cujo título em português: O Futuro da Memória.

Caladró, presidente do Musimpresa, quer evitar o saudosismo do passado ao querer propor uma sociedade melhor. Seria a retrotopia. Uma atitude em que sempre se imagina o passado melhor que o presente e como consequência, propor implantar uma sociedade do passado para o presente. Seria a nostalgia da Sociedade de Rousseau: natural, sem tecnologia, sem indústria. Caladrò, ao invés, quer uma sociedade inovação. Se ele olha para as raízes é para ter autoconsciência. Outra questão que quer evitar é uma sociedade sem a indústria, somente natural. Seria semelhante a uma alimentação humana puramente vegana. A proposta de uma sociedade sem indústria implica ausência do empresário, culpado de toda desgraça deste mundo: dinheiro, lucros, multinacionais, exportações, explorações, pobreza, miséria, degradação ambiental, cataclismos, numa palavra o capitalismo. 

Seus tentáculos avançam para a produção de conteúdos/símbolos, já com poucos rivais sobreviventes. Surge uma experiência coletiva de fabricação inteligente, não confiável à transmissão ao storytelling corporativo, ou capitalismo inclusivo, extensivo ao perímetro socioeconômico tradicional, mas à ciência e criatividade. Não se trata apenas de passar uma mensagem superficial ao público alvo da empresa, mas lançar mão da ciência e criatividade. Para tanto é preciso investir na memória, consultar mapas, arquivos das empresas, museus, folhear revistas corporativas, ouvir apresentações culturais mescladas aos ruídos de uma fábrica.

Uma indústria humanista não pode existir isolada. Ela deve sobressair do meio social onde habita. Ser um componente do meio social e não ser vista como um nicho de exploração humana. Ela é a sociedade e não somente um componente da sociedade, tal como uma escola amada por pais, professores e alunos, Como uma clube, local de encontro de lazer de jovens, adultose crianças. Um igreja que congrega para o espiritual toda a comunidade. Uma universidade, foco de saber da comunidade. 

A fábrica ou empresa, um esforço comunitário para o bem estar material e social da sociedade. 

 


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