sexta-feira, 29 de julho de 2016

A CELEUMA DAS 80 HORAS SEMANAIS. Selvino Antonio Malfatti.




Quando Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, em reunião com o Presidente Michel Temer, no dia 8 de julho, sugeriu 80 horas semanais para os trabalhadores, causou, em alguns, revoltas, em outros, deboche, provocando piadas de toda sorte e ironias.
Acontece que Robson não só estava falando sério como demonstrou ser um  líder com visão dos novos cenários econômicos que se vislumbram para o século XXI. Senão, vejamos.
Ainda como movimentos esparsos, em todo planeta assistimos a emergência de um tipo novo de consumidor, um novo padrão. Estes novos consumideres exigem dos governantes que levem em consideração nas políticas públicas, durabilidade do desenvolvimento, sua sustentabilidade, a preservação da biodiversidade, a saúde pública, a proteção do patrimônio vegetal e animal, tendo presente os interesses das futuras gerações. Por isso condenam a delapidação dos recursos naturais e sua exploração desenfreada. Na esteira desta tendência reivindicam uma produção de qualidade e mais barato. Para tanto se organizam em grupos de pressão, posicionando-se um contra o poder. Querem uma melhor qualidade de bens e serviços, mas sempre levando em consideração a natureza do trabalho e o tipo de energia utilizada no processo produtivo.
Esta nova atitude só foi possível graças à democracia mais ampliada, fora dos moldes da estritamente representativa. A sociedade se organiza pela base, através de grupos, associações, ONGs. O governo não é mais aquele que fala à sociedade, mas o inverso: é a sociedade organizada que fala ao governo o que quer e como quer. E o que quer? Uma economia de qualidade e sustentável.
Concomitante a este fato novo sócio-político, a economia pós-industrial do século XXI está apta a engendrar novas formas de organização das atividades econômicas e mobilização do trabalho. Com efeito, as inovações tecnológicas, impulsionadas pela revolução numérica dos negócios e, é claro, pelas economias já capacitadas em produzir mais, melhor, durável e mais barato. O custo será de sempre menos mãos de obra, exigindo sempre mais qualificação.
Deste fato o assalariado do século XX está prestes a se extinguir e ceder lugar a novas formas de organização do trabalho. Assim, os modelos de emprego consagrados por salário fixo, um emprego vitalício, empregos estáveis prevendo uma carreira dentro deles, de tempo integral, fornecendo a maior parte da renda familiar, dependendo de um só empregador, exercido num lugar específico, atribuído individualmente, estão em fase de serem substituídos por outras relações profissionais. Há, inclusive, economistas e pensadores que preveem o fim do assalariado típico, com local e horário como Jeremy Rifkin, (La Fin du Travail, Editions Dalloz, Paris, 2006)
Agora, as novas relações serão substituídas pelo autoemprego, pelo trabalho autônomo, pela atividade múltipla, trabalho domiciliar, trabalhado online, emprego com tempo parcial, regidos por contratos temporários ou por tarefas. Poder-se-ia fazer uma analogia com uma propriedade rural média na qual o proprietário trabalha e gerencia ao mesmo tempo. As atividades do dia ou da semana são determinadas pelo proprietário. O que plantar e quando colher fica a critério dele mesmo. O tempo e as horas de trabalho, o descanso, sono e lazer são escolhidos por ele.  Na prática as pessoas trabalham vinte quatro horas por dia, mas também podem ter lazer de vinte quatro horas. Elas mesmas optam.
A primeira consequência deste fato é da impossibilidade de realizar concomitantemente o pleno emprego e o crescimento. De outro lado, haverá a dissociação de seus locais de trabalho. Diante disso, extingue-se a relação automática de crescimento com volume de empregos. Ambos poderão dar-se independentemente um do outro.
Neste cenário evolutivo- ou por que não revolucionário? – a luta contra a falta de trabalho se tornará mais complexa. Esta atingirá regiões com maior explosão demográfica e menor naquelas com menos aumento populacional. De um modo geral se poderia prever que será menor ao norte do planeta que no sul até 2050.
Diante disso se vislumbra diversas situações: crescimento sem criação de empregos, um crescimento com a destruição de empregos e de outro um crescimento com geração de empregos.

Diante disso, as novas gerações devem estar preparadas para esta nova estrutura econômica que, bem ou mal, inexoravelmente vem aí. E por isso é de se perguntar: oitenta ou cento e sessenta e oito horas semanais? É a pergunta.

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