sábado, 10 de fevereiro de 2018

OS MISTERIOS DE EROS, FILIA E ÁGAPE. Selvino Antonio Malfatti














https://www.youtube.com/watch?v=yIi72FRnZp8


Cansado da zoeira do Carnaval retirei-me e vieram-me alguns pensamentos que teimavam em se entrecruzarem  na mente.
As almas se contemplam, extasiam-se, querem comunicar-se. Mas elas são intocáveis e incomunicáveis. Etéreas. Buscam-se abrasadoramente, queimam-se em chamas, mas permanecem sós. Elas se querem, mas não podem se possuírem. Buscam uma ponte que as possa fundir-se, torná-las unas.

Os corpos entrelaçam-se. As mãos se apertam. Uma uma sensação de  frescor penetra pelas veias da boca sedenta. Perpassa o corpo fazendo-o suspirar de satisfação.



As almas se encontraram através dos corpos. Eles são seus instrumentos. Elas se abraçam pelos dedos, braços, pernas dos corpos. Elas se estreitam, se beijam, se retorcem. Penetram-se pelo corpo. Elas são um numa só carne, bem vindo Eros.

Haverá espetáculo mais belo que o encontro de duas almas? Haverá delírio maior que a fusão de duas almas? Haverá felicidade que se comparece ao olhar de duas almas que se amam. Os olhos jamais viram, nem os ouvidos jamais ouviram, nem ninguém jamais sentiu o que este encontro irrompeu. É a Filia

Elas sentiram o céu abrir-se, a felicidade jorrar aos borbotões. O próprio Deus a inclinar-se e enlevá-las. Elas ressuscitaram, se transfiguraram, se tornam imortais.
Eros e Filia comemoram o ágape.

Mas os corpos, coitados, permanecem na sua condição. Quanto mais suas almas se amam, tanto mais sofrem. Quanto mais se contemplam, tanto mais envelhecem, quanto mais sentem prazer, tanto mais gemem de dor, quanto mais louvam, tanto mais pecam. As almas entoam o aleluia, os corpos murmuram o “miserere mei, Domine”. Elas se comprazem com as doçuras celestiais enquanto eles se abrasam no fogo do inferno.

As almas não podem esquecer seus corpos. Tudo o que elas podem fazer é por ele que o fazem. As almas devem voltar, tomar em seus braços os corpos e levá-los perante Ele e suplicar por eles. Eles também devem viver, ser felizes, ressuscitar. Transfigurar-se e se tornarem iguais às almas. As almas devem voltar à terra para que os corpos possam subir ao céu. Então sim, unos, inteiros, homens.São trio: Eros, Filia e Ágape que entoam o Te Deum.

Não só almas puras, mas os corpos também. Porque o corpo não pode fazer o mal a não ser pela alma. Ele não pode por si ser soberbo, se sua alma não é. Não pode ser ganancioso se sua alma não é. Ele não pode ser impuro se sua alma não é.  O corpo é são se a alma for sã. A alma não pode ser piedosa a não ser pelo corpo, não pode ser caridosa, senão pelo corpo, nem mesmo santa se não for pelo corpo. Corpo e alma estão irremediavelmente selados a ser um pelo outro. Isto é o Amor de si mesmo que pode ser estendido aos outros. Pela minha alma posso amar a alma do outro, através de meu corpo pelo olhar, pelo abraço, palavra, sorriso. Minha alma se externa pelo corpo e pelo corpo do outro posso chegar a sua alma. 
Eros e Filia são um na plenitude do Ágape.

  


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