sexta-feira, 1 de novembro de 2013

UM OLHAR NOVO SOBRE A VIDA. José Maurício de Carvalho.




Temos assistido triste leitura da vida na imprensa. A mídia mostra a dor diária da perda de muitas vidas e a tristeza de conviver com violência crescente. Talvez estejamos mais preocupados com a violência nestes dias, talvez seja simplesmente porque o homem de nosso tempo aprecie a divulgação do mal. Os meios de comunicação, principalmente a televisão, abusam de noticiar o sofrimento e o crime. Tão certo como a propagação do mal é que raramente se noticia o amor e a solidariedade. Isso significa que o amor em todas as suas formas não é digno de registro? E se não é por que motivo não é? Por que as manifestações do amor são consideradas naturais e comuns? Por que o mal é o extraordinário ou notável? Há nessas questões um problema de perspectiva.
O mais próximo da verdade é que o homem é violento e imperfectível. Em sua vida, em sua ação diária ele não se torna nunca o ideal que concebe de sua humanidade. O que isso significa? Que ele nunca é bom o bastante como gostaria, nunca coerente o suficiente como espera, nunca verdadeiro como devia, nunca amigo como acredita que possa ser. E justo por que não consegue ser aquilo que sua razão reconhece como mais desejável para sua vida que ele nunca se torna como deseja sua razão. Nesse sentido fazer o mal é nossa experiência mais comum. Fazer o mal por preguiça, pois custa fazer o bem; fazer o mal por comodidade, porque frequentemente fazer certo tem consequências perigosas; fazer o mal porque há certo prazer em praticá-lo. Qualquer que seja o motivo tudo aponta para o contrário do que a mídia mostra, fazer o bem é que é fato importante, fazer o bem é que é notável, para lá deveria se dirigir o foco de nosso olhar.
Esse novo olhar para a vida nada tem de inocente ou inautêntico. A vida é luta, é esforço, é empenho, é dedicação pura, contém riscos. Imaginar que o mundo está aí pronto para ser gozado é uma da maiores ilusões que se pode ter. Enfrentar os desafios que a vida traz rotineiramente é o que acompanha os seres humanos em todos os tempos. Todos os dias quando desperta o homem se depara com longa lista de tarefas esperando para serem realizadas, mas principalmente de desafios para serem vencidos. E não há como fugir deles, não há como esconder os problemas, o acirramento da violência urbana, as dificuldades de mobilidade no trânsito, os problemas ecológicos, o custo de vida, a necessidade de aprender novas coisas, de descobrir novos tratamentos para as doenças.
O gozo no mal e o reprise do mal diariamente nas televisões parece ser mais que a busca desesperada por audiência, é mais que um instinto inconsciente de gozo no mal por uma audiência pervertida, ela resulta da banalização da vida. Um homem que não se ocupa com o sentido de sua vida, aprecia olhar a vida dos outros como sendo sem finalidade. Parece-lhe correto ver a vida de crianças, jovens e velhos serem desperdiçadas na rotina de violência e brutalidade de nossas cidades. Por que tais vidas são para ele um nada, um vazio de significado.

Esses dias de violência urbana, de guerras civis brutais, de vidas perdidas nas drogas, de banalização da violência e do crime cobram um novo olhar para o mundo. Um olhar não para encobrir o que se sabe que acontece, mas para mostrar que o mais humano é a esperança de viver no sentido, de realizar-se na busca daquilo que nos faz ser o que somos. Só um novo olhar para a vida nos fará voltar a ter esperança no futuro, fará dele um tempo de novas possibilidades, uma jornada de esperança em meio aos desafios que sempre nos acompanharam e continuarão a fazê-lo em nossa jornada nesse mundo.

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