sexta-feira, 26 de agosto de 2011

DEMOCRACIA E CORRUPÇÃO – UMA EXCLUSÃO MÚTUA. Selvino Antonio Malfatti.



























Façamos uma pergunta: é possível coexistirem democracia e corrupção? A resposta evidentemente é não, por que os dois conceitos são mutuamente excludentes. A democracia é o regime da lealdade e a corrupção da deslealdade. Então, se impera um, o outro não, e vice-versa. Na relação entre cidadãos e dirigentes, supõe o compromisso do justo. Ora, corrupção é o suprassumo da deslealdade e da injustiça, uma traição aos cidadãos. 
A relação entre democracia e corrupção envolve questões éticas e questões institucionais. Por isso, para explicitar melhor a disjunção entre democracia e corrupção vou dividir o tema em duas partes: as condições ético-sociais da democracia e as condições jurídico-institucionais da democracia.

1.    CONDIÇÕES ÉTICO-SOCIAIS DA DEMOCRACIA
O jurista e filósofo brasileiro Miguel Reale, consagrado mundialmente, destaca que a realidade é formada por uma trilogia: natural, ideal e axiológica. A primeira tem sua base no mundo físico, a segunda no mundo cognitivo e a terceira no social. A política é por excelência o mundo do social. É nela que emergem os valores que a constituirão. Sem uma base social de valores éticos jamais poderá vingar a democracia. Isto por que a ética transforma o homem, fazendo–o transcender os instintos para torná-lo cidadão.
Começa na família, na qual, conforme pensa Weber, as crianças aprendem as regras através da autoridade paterna ou materna. No momento em que as crianças ingressam na escola, a ética é aprendida em sintonia com as habilidades cognitivas básicas, isto é, devem manter a postura correta quer estejam em pé, quer estejam sentados; aprendem o respeito a regras: esperar a vez para falar e ouvir os demais em silêncio; cumprir com as obrigações escolares, fazendo as tarefas na escola ou em casa; respeitar os tempos e locais de ações, como ficar em sala de aula, não andar pelos corredores. Nas aulas de educação física, respeitar as regras dos jogos e cooperar com os demais colegas, estabelecendo uma relação cordial. 
Numa segunda etapa, as regras ético-morais são assimiladas nos grupos e associações, por meio de papéis que eles mesmos e os demais desempenham. Nesse momento, escola e comunidade interagem. Assim, num clube de lazer, o pré-adolescente é um “associado” e, como tal tem, por lei, direitos e deveres, mas há também regras éticas em relação a seus iguais e superiores, como lealdade, honestidade, solidariedade, cooperação e outras. Além disso, pode desenvolver o senso crítico, avaliando a própria conduta, de seus pares e de seus superiores. Se um superior não cumpre com suas obrigações ou as está cumprindo de tal forma que vai além do que elas expressam, isso servirá para reflexão e discussão sobre esse agir. Haverá então o despertar da aspiração para agir de acordo com os princípios da justiça, pois constatará que o agir correto favorece a quem o pratica, tanto no aspecto pessoal como social. O agir correto começa a fazer parte do normal e o mal será o reverso. Conforme o pensador John Rawls em “A Teoria da Justiça" então se passa a gostar do agir ético e a sentir prazer com a justiça. No terceiro momento, o indivíduo passa assimilar os princípios éticos, sem necessidade de um modelo material. Agora a justiça, a honestidade, solidariedade são valores em si e são aceitos, também racionalmente, como bons. Quando os cidadãos amarem a justiça pela justiça e se tornarem políticos, teremos uma política ética.
Esse cidadão-político saberá respeitar as diferenças: étnicas, religiosas e ideológicas; gerenciará o patrimônio público: erário, prédios, artes; distinguirá as esferas dos poderes: executivo, legislativo e judiciário, bem como sua hierarquia. Com isso, entende-se, emergirá um cidadão que não só é um colega solidário, um administrador fiel, um religioso devoto, um profissional competente, um burocrata compreensivo, mas também um político honesto. E nesta ceara poderá germinar, florescer e dar frutos a democracia.


9 comentários:

  1. Ao ler tanta informação fico tentado em saber,que democracia então vivemos se, os valores parecem invertidos?Ou estamos nos enganando.

    ResponderExcluir
  2. É para se pensar...Democracia e corrupção não combinam então?

    ResponderExcluir
  3. Bom,muito bom...afinal é na pequena sociedade familiar que deveríamos iniciar a construção de um ser social que nos diversos estágios de sua infância a idade adulta estaria preparado para viver em sociedade e ser um cidadão útil no seu meio social.Mas com a evolução da sociedade e,uma economia capitalista,baseada na produção quase que diária de novas necessidades,que as vezes nem são tão necessárias,as pessoas começaram a entrar neste mundo do correr muito,e muitas vezes nem param para pensar...A família vai se arrumando no meio de tantas dificuldades,cobranças,presentes que compensam ausências.E assim começamos na família a falhar pois, não há o exercício da cidadania,a cooperação para o bem comum,da distribuição de tarefas,nos limites,na hierarquia onde os pais são autoridades e devem para tanto impor limites a seus filhos.E como tal vão se multiplicando as falhas,que refletem-se na sociedade em forma de alienação política,vícios que se perpetuam no marasmo duma população acovardada que aceita alianças,troca de favores e apropriação de ministérios por partidos políticos.Se tanta corrupção pode se dizer deslealdade,e tanta deslealdade talvez seja a comunicação dos corruptos dizendo façam algo,a justiça está falha,os vícios estão se perpetuando e vocês deixando que invadam suas casas,suas escolas,a sociedade...não olham por seus filhos,elegem políticos inelegíveis e perdem seu precioso tempo assistindo o big brother,que formará uma nova casa só com jovens,pois segundo a globo,jovens consomem mais bebida.E a família com certeza achará tempo para dar sua olhadinha e, qual será a mensagem positiva para jovens em formação...

    ResponderExcluir
  4. É talvez estejamos gessados e carentes de bons exemplos.O paternalismo em baixa,professores descomprometidos,valores morais esquecidos.Isto é o que está se refletindo na sociedade e na política.

    ResponderExcluir
  5. O mundo sempre produziu bons e maus politicos,cabe a sociedade selecionar,na família se aprende,na rua com sofrimento também se aprende,então cada um como pedra vai se polindo.

    ResponderExcluir
  6. SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz em seu blog de hoje, publicado no seu site "Observador Político", que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi "permissivo" com a corrupção, embora sem citar seu nome. Com o título "o país cansou da roubalheira", FH acusa o ex-presidente de leniência e elogia a atual presidente Dilma Rousseff por ter reagido aos desmandos.
    "Vira e mexe a questão da corrupção volta à baila. Agora mesmo não se fala de outra coisa. Desde o "mensalão", com a permissividade do próprio
    Presidente da época, a onda de desmandos e as teias de cumplicidade se avolumaram. Menos interessa, a esta altura dos acontecimentos, saber se houve corrupção em outros governos. Malfeitorias sempre houve. A diferença é que, de uns anos para cá, ela mudou de patamar com o sinal de perdão diante de cada caso denunciado", diz FH, continuando:
    "Não é tão grave assim" ou então, "foi coisa de aloprados" ou ainda de que se trataria "apenas" de dinheiro para pagar contas de campanha eleitoral. Com esta leniência compreende-se que pessoas ou setores dos partidos que apóiam o governo se sintam mais à vontade para entoar o cântico do dá-cá-toma-lá. Agora, quando a Presidente reagiu a alguns desses desmandos (e, de novo, importa pouco insistir em que a reação veio tarde, pois antes tarde do que nunca) as pessoas sérias, inclusive no Parlamento, procuram dissociar-se das teias de corrupção. O país cansou da roubalheira".(28/08/2011)

    ResponderExcluir
  7. Se na história antiga temos tantos casos de corrupção em todas formas de governo,então é um mal sem remédio,faz parte do mundo e da evolução ou da falta de.

    ResponderExcluir
  8. Deus, por favor como formar cidadãos políticos?Será ainda possível reverter e mudar o futuro?

    ResponderExcluir
  9. Bem claro que dá para reverter,alguns anos,muitas gerações,pé na realidade,limites para as crianças,pais chamados a responsabilidade,cada um responsabilizado pelo que faz,com justiça efetiva e igualitária.Julgamento iguais para todas as classes sociais.

    ResponderExcluir

Postagens mais vistas