sexta-feira, 17 de setembro de 2010

20 DE SETEMBRO- da realidade ao mito. Selvino Antonio Malfatti



Os rio-grandenses, alcunhados de gaúchos, pertencentes a uma área dos pampas, localizada no sul do Brasil, Argentina e Uruguai estiveram extra-oficialmente desligados do Brasil de 1835 a 1845, portanto, 10 anos.
Não se pode buscar somente causas econômicas para este fato, mas procurar ver-se este movimento num contexto bem mais amplo. Podemos destacar alguns aspectos, nenhum deles determinante nem exclusivo.
O sul do Brasil, mormente o Rio Grande do Sul, teve uma colonização, entendida como ocupação humana, por parte da metrópole portuguesa peculiar. Por muito tempo seu território pertenceu, no todo ou em parte, à Espanha e não a Portugal. Por isso estava mais ligado aos “castelhanos” do que aos lusos. A presença dos espanhóis ocupava intensamente o Rio Grande do oeste até o centro, mais precisamente do sul até Santa Maria. O exemplo mais típico foram as Missões dos padres jesuítas espanhóis as quais envolveram os índios contra as tropas portuguesas, e no final, por estas massacrados . Por isso, o Rio Grande do Sul identificava-se mais com os platinos- uruguaios e argentinos - do que com o centro do país, naquele período identificado com Rio de Janeiro e São Paulo. Por isso o Rio Grande buscou identificar-se mais com seus vizinhos do que seu próprio país.

Outro aspecto importante é a questão ideológica. A linha predominante liberal no Rio Grande do Sul era a vertente francesa, devido à influência platina, enquanto oficialmente no país predominava a vertente inglesa, influenciada pela Inglaterra, tradicional aliada de Portugal. A linha inglesa objetivava uma monarquia constitucional, enquanto a francesa tinha tendência republicana. Por isso, foi proclamada a República do Piratini.

Outra discrepância do Rio Grande era a atividade econômica. Enquanto o centro e nordeste do Brasil dedicavam-se quase exclusivamente ao cultivo da cana de açúcar e ao café, o sul explorava o charque, da mesma forma que seus vizinhos, Uruguai e Argentina. O governo central não teve sensibilidade para perceber este fato e taxava de tal sorte o charque que a importação se tornava mais barata que a produzida pelo Rio Grande. Daí a revolta dos gaúchos.

Por último, a insurreição rio-grandense não foi unânime e nem mesmo majoritária. A revolução foi levada adiante por alguns líderes, como Bento Gonçalves da Silva, Davi Canabarro, Antonio da Silva Neto e do italiano Giuseppe Garibaldi, este a mando de líderes da unificação italiana fazendo desta província do Brasil um campo de experimentação para a futura revolução que eclodiria no seu território.
Após dez anos de lutas, graças à habilidade do comandante das tropas brasileiras, Duque de Caxias, depuseram-se as armas pacificamente. O que os revoltosos conquistaram? Nada mais do que já tinham antes da revolução.
No entanto, a partir de então operou-se a transmutação. Os líderes começaram a ser em exaltados , as tradições, os ideais, os hinos, as vestimentas - bombacha, botas e lenços -, os costumes foram divinizados. Passou-se a comemorar a data 20 de setembro, data do início da revolta, com festas, desfiles, cavalgadas, atos cívicos, churrascos e outros atrativos. Adotou-se vestimenta oficial - a bombacha - hino, Centro de Tradições Gaúchas, linguajar. A data, pouco a pouco, pela ação compacta dos meios de comunicação, saiu da esfera do real e passou para o mito.

Não há nada de errado. Tão somente nasceu o mito em cima de uma realidade prosaica.

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