sábado, 11 de setembro de 2010

CULPA E SENTIDO DA VIDA – Selvino Antonio Malfatti


Quem se aventurar na busca da resposta do que é o homem e qual o sentido de sua vida entrará num labirinto que só a muito custo conseguirá sair. Mas o que mais estupefaz é encontrar na história, desde os mais remotos tempos, o fenômeno da culpa acompanhando o homem, dificultando ainda mais encontrar o sentido para a vida. Se houvesse uma causa de culpa, o assassinato de alguém, por exemplo, até é compreensível. Mas quando a culpa for sem causa, como acontece com o homem? Desde que o homem teve consciência de si, sentiu-se culpado.
E o pior, quando a culpa atribuída excede o ato que a poderia ter causado, como é o caso da parábola do Pecado Original. Por que a humanidade toda, desde os tempos iniciais e até os finais, haveria de sofrer pelo simples fato de o primeiro homem e a primeira mulher haverem desobedecido? Por que toda a humanidade deveria ser castigada, por um motivo fútil, isto é, por haverem os primeiros seres humanos dado uma “mordida na maçã”? Por causa disso, deveria toda a humanidade, por todo o sempre, “comer o pão com o suor de seu rosto, sofrer e morrer”? Há uma desproporção entre o “pecado” e o castigo. Além do mais, não lhes havia sido dito que seria este o castigo caso desobedecessem. Há algo incompreensível nessa história. Penso, mesmo, que até agora não se entendeu o sentido da parábola, e por causa disso, a resposta para o sentido da vida continua em aberto.
Com o ônus da culpa nos ombros é muito difícil encontrar o sentido da vida. Pois, sem se libertar da culpa como encontrar um sentido para a vida?
Todo pensador que quiser encontrar o sentido da vida terá que optar por buscar a resposta no próprio ser humano ou fora dele. Ele sabe que a opção é excludente, pois se escolher uma descartará a outra e vice-versa. Este é o momento em que a dúvida se impõe diante dele de forma perturbadora. Escolher entre a razão ou optar pela luz da fé. A dúvida é a não certeza, mas também a não incerteza sobre alguma coisa. Ela é muito abrangente. Pode-se duvidar se deve ou não ir ou vir, de aceitar ou não aceitar, de concordar ou não concordar. Implícito à dúvida há sempre um dever de fazer, de sentir, de concordar.
A opção de buscar o sentido da vida fora de si levará invariavelmente a uma religião e com isso o homem abdica de sua autodeterminação. Se escolher em buscar o sentido da vida dentro de si, o sentido será aquele que ele lhe der. Basta escolher e seguir? E se houver conflito de escolhas entre duas ou mais pessoas? Se minha escolha prejudicar a escolha de outro? Quem será o culpado: eu ou o outro?
Com isso voltamos ao ponto inicial. Culpa X sentido.

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