sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ÉTICA CRISTÃ. José Mauricio de Carvalho (organização)




A ética é uma disciplina filosófica e sua origem histórica remonta à Grécia, sendo ali a contribuição mais clara o livro “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles. Este fez uma análise racional dos costumes das cidades - estados da antiga Grécia e assim, a ética consolidou-se na tradição ocidental, como reflexão racional sobre os costumes aceitos, considerados adequados e justos para promover a felicidade. O modelo ético aristotélico consolida-se dissociando se da política, o que não fora feito na filosofia platônica. Aristóteles valoriza a virtude para ser feliz, o que equivalia, para ele, ser bom cidadão na polis. A tradição ética, herdada dos gregos, estabeleceu um diálogo com a judaico-cristã, que no início da Idade Média já se tomara referência para o homem europeu. A moralidade judaica nasceu associada à religião e foi delineada no Pentateuco, no Velho Testamento. Sua base é o decálogo mosaico cujo registro remonta ao século VI ou V a. C. depois da volta do exílio na Babilônia.
Conforme lembra Jaspers na Introdução ao pensamento filosófico, o Decálogo é "maravilha de simplicidade para todos os tempos [...] pois, é de uma vez só revelado e capaz de convencer o homem enquanto homem" .
Conta a Bíblia Judaica que um pouco antes de 1200 a. C., um judeu criado na corte do faraó, de nome Moisés, liderou um grupo de escravos na fuga do Egito. O grupo de libertos entrou no deserto em busca de uma nova terra, para viver e a eles outras tribos nômades associaram-se nessa fé e esperança comum. Acreditavam que o Deus que os tirara do Egito lhes daria uma terra livre de dominação. Esse era Um Deus diferente dos encontrados na região, um DEUS vivo e poderoso que caminhava junto com o povo e ouvia seu clamor.
Propunha-lhes, em contrapartida, uma forma de viver sem a qual seria impossível sobreviver no deserto, e menos ainda organizar-se como povo na terra da esperança.
Ao conceder-lhes a liberdade política e lhes oferecer uma nova vida, DEUS deu-lhes regras capazes de assegurar a liberdade íntima e uma vida socialmente organizada. Independente de compartilhar a fé desse grupo, a caminhada pelo deserto e a instalação na nova terra somente foi possível porque os se submeteram à autoridade de Moisés e as regras que ele lhes deu em nome de Deus. E Moisés apresentou a regra para viver em grupo, uma regra em mandamentos também encontrados entre outros povos da região, mas não de forma tão simples e completa. Como não acreditar que aquela síntese proviesse diretamente do Deus poderoso que estava realizando o extraordinário prodígio de libertar o povo de um reino poderoso e levá-Io a salvo pelo deserto?
Assim entenderam os que seguiam Moisés. Eles tomaram a sério o código mosaico embora as regras pudessem parecer um código banal ou uma síntese
superficial. A história revelou que as regras não eram banais, o seu uso mostrou-se uma orientação maravilhosa para viver em sociedade. Em nossa cultura, distinguimos, portanto, duas tradições, a grega e a judaico-cristã, cada qual com seu propósito, mas que se entrecruzaram na formação da cultura ocidental. O cristianismo foi quem primeiro aproximou a herança grega da tradição judaica e abriu espaço para um diálogo entre a vida religiosa e filosófica. Contudo, não podemos entender que enquanto disciplina filosófica a ética esteja na dependência da religião, pois seu desenvolvimento seguirá caminho autônomo. O que se quer dizer é que os valores cristãos influíram na ética filosófica e na base da cultura ocidental, embora a tradição filosófica tenha se mantido autônoma.
O que foi dito no parágrafo anterior nos coloca diante de dois
aspectos fundamentais presentes nesse livro. De um lado, a ética filosófica, tem tradição própria e tem objetivos diversos da ética judaico-cristã. De outro, a última também possui história própria, mas elementos das duas tradições
se juntam na formação da chamada cultura ocidental. 

7 comentários:

  1. Poderíamos viver a tão sonhada paz, nada para inventar ou mudar, simplesmente seguir os mandamentos.

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  2. Filosofia clinica deve ser a resposta para as dores do corpo e da alma.

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  3. Aprofundamos o estudo da filosofia mas, nos perdemos na interpretação.

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    1. A falta de interpretação misturou tudo, sabem de tudo nas leituras, não aplicam na vivencia, no dia á dia.

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    2. Uma ótima aula, valeu!

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