Quem viveu a infância em cidades pequenas como eu, aprendeu desde cedo a fugir das velhas mexeriqueiras. Quem eram elas? Velhinhas doces, aparentemente inofensivas, mas que, por algum recalque, trocavam a reza do terço por bisbilhotar a vida alheia. E então, sempre atentas ao que se passava à volta, adoravam espalhar intriga pela vizinhança. Essas velhinhas mexeriqueiras tinham pelo menos a favor delas que aquilo que espalhavam compensava alguma frustração pessoal, mas nada além disso. Não se pode dizer que tivessem paixão pela mentira ou que a usavam para o próprio benefício. Eram apenas recalcadas. Velhinhas mal amadas. Elas não viveram um grande amor, então criticavam a linda vizinha que engravidara fora do casamento, não viveram belas histórias, então criticavam os jovens aventureiros que se lançavam à vida com fôlego e paixão. Eram reprimidas em seus desejos, amarguradas, à espera de alguém que lhes desse atenção e carinho. Ordinariamente se curavam da má tendência com o carinho de alguém ou por conselho do padre. Sim, tinham o padre em alta conta e sabiam que o cristianismo não era instrumento para enriquecimento, nem para maltratar ninguém. O cristianismo era para acolher e salvar as pessoas. Cristo foi o maior bote salva vidas da História.
As velhinhas mexeriqueiras condenavam o homossexualismo porque tinham em si mesmas aqueles desejos que condenavam e criticavam quem se entregava àquele prazer proibido. Elas gostariam muito de o terem experimentado, mas não tiveram coragem. Foram meninas sonhadoras, foram jovens amantes desiludidas, acabaram solitárias. Aquelas velhinhas mexeriqueiras traziam dor e tristeza para os jovens, mas o mal que causavam não era maior do que aquele que elas próprias tinham na sua alma.
Aquelas velhinhas mexeriqueiras não tiveram grande formação intelectual. Nas pequenas cidades o estudo era oferecido com carinho, mas não era primoroso e era curto. Contava com dedicadas professorinhas que se entregavam de forma apaixonada ao ofício de educar as crianças. Elas cuidavam dos pequenos e pequenas que eram filhas e filhos de antigos companheiros de brincadeira e se sentiam elas próprias tias das crianças. Viviam uma fraternidade espiritual com os amigos da infância que eram os pais e mães daqueles miúdos. Porém, embora tão dedicadas ao ensino da tabuada e das primeiras letras pouco mais iam além daí. O ensino acabava no primário, no máximo no ginásio. E assim envelheceram com pouco estudo e pouco amor.
Essas velhinhas penduradas nas janelas, nunca ouviram falar dos antigos gregos. Jamais leram Hesíodo, Cícero, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Nem nenhum dos nomes de destaque dos vários setores do conhecimento humano em todos os tempos. Nem fizeram curso para entender os movimentos na natureza, tese de Heráclito (540-480 a. C.), nem do movimento como aparência do mundo, hipótese de Parmênides (540-450 a. C.). Também nada sabiam de Sócrates (470-399 a. C.) que não se afastou da verdade.
Queridas velhinhas, tão maravilhosas com belas histórias e fofoqueiras.
ResponderExcluirSimpáticas velhinhas, viveram uma vida simples, um pouco vazia, no nosso entendimento.
ResponderExcluirNão foram doutrinadas, não foram para a universidade.
Diferente de nossa realidade, será que somos diferentes?
Quem somos nós?
ResponderExcluirAs velhinhas um dia foram jovens, com certeza também amaram e foram amadas.
Amor não é privilégio de leitores dos filósofos.
Concordo com você, eram fofoqueiras, mas com certeza não destruíam vidas, como hoje se vê, nas redes sociais.
ResponderExcluirQual a medida do Amor?
ResponderExcluirExiste régua?
A medida do amor é amor sem medida.
ExcluirAs tias souberam amar.
Claro que elas amaram, livres e com seus segredos.
ResponderExcluirMuito legal suas lembranças.
ResponderExcluirRicas tias.
As mulheres ficaram titias, foram sufocadas, geração que os homens tinham todo poder, sufocaram o feminino.
ResponderExcluirVerdade, aí vem ELE, chamar as tias de fofoqueiras,.coitado, não sabe nada das dores da alma feminina.
ExcluirEscutou a história de suas tias, avós ou amigas da família?
Mulheres sofridas, sem direitos.
Verdade, minhas tias obedeceram o vô e casaram com quem ele decidiu, tristes mulheres amarguradas.
ResponderExcluirEssas velinhas já são o patrimônio das cidades interioranas.
ResponderExcluirCom a crescente dedicação à vida profissional a chance de esse número de velhinhas aumentar é grande. Torcendo pra eu não virar essa velhinha, hahaha.
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