sábado, 27 de julho de 2024

ISMAIL KADARÉ, A VOZ DISCORDANTE DO TOTALITARISMO ALBANÊS. Selvino Antonio Malfatti.

 



Em 1º de julho deste mês, o mundo intelectual perdeu um grande pensador, Ismael Kadare. Natural de Gjirokastër e falecido aos 88 anos em Tirana, Albânia. Viveu a devastação da Segunda Guerra em seu país. Sua produção intelectual reflete os horrores que ele e seu país passaram. A obra principal: “Os Tambores da Chuva”.

Possui uma perspectiva universal e foi por isso que angariou fama mundial e sua obra está traduzida em mais de quarenta línguas.

O regime ditatorial e comunista de Enver Hoxha a contragosto tolerava-o embora tentasse cooptá-lo.  Com sua ida para França, 1990, conquista o reconhecimento internacional. Conquistou os principais prêmios:  

Man Booker International Prize, 2005

Prêmio Asturias për Letërsinë, 2009

Prêmio"Lerici Pea", 2010

Prêmio Jerusalém], 2015[9]

Commandeur de la Légion d’Honneur (C. LH), França, 2016

Prêmio "Letërsia shqipe", Kosovo, 2017

Prêmio "Nonino". 2018

Prêmio Park Kyung-ni 2019

Várias vezes indicado para Prêmio Nobel.

Um dos momentos decisivos na produção intelectual de Kadaré foi quando a Albânia foi anexada ao bloco comunista em 1950. A partir de então os intelectuais de seu país tiveram que se submeter às normas do Socialismo  Realismo. Autores que se negassem a se submeter ao pensamento foram impedidos de publicar. Outros apenas plagiavam obras soviéticas. Tanto a didática como a filiação ideológica foram impostos aos escritores. Os temas não podiam sair do círculo ideológico: luta pela libertação nacional, celebração dos progressos do socialismo ou assuntos afetos ao socialismo.

Quando Kadaré publica Os Tambores da Guerra, cujo conteúdo narra a história de um general e de um padre que buscam os restos mortais de soldados italianos mortos na guerra,  foi recebido com fúria pelo governo. A principal acusação era a definição dada a um padre: “um bom homem”. As tribulações de Kadaré contra o regime continuaram. Após a publicação de Os Tambores da Chuva o ditador reclama que seus livros são publicados no exterior e com conteúdo de tristeza. O ditador provocou-o a publicar algo sobre o “heroico partido albanês”. Kadaré não deu a menor atenção. No entanto o ditador fê-lo assinar uma declaração onde confessa ter “escrito coisas contrárias ao bem do povo”  (povo entendido como partido) comportando-se como “inimigo do comunismo”. Esta declaração foi apenas paras evitar represálias piores.

No romance “O Palácio dos Sonhos” praticamente faz uma paródia da Revolução dos Bichos de Orwell e descreve o sistema burocrático e policiesco do regime otomano, entendendo-se como o regime comunista. Revivia o Grande Fratello, Grande Irmão.

A substituição do ditador Hoxha por Ramiz Alia vislumbrou alguma esperança. No entanto, teve que declarar numa entrevista: “O Estado albanês prometeu tudo sem procurar soluções eficazes, enganou continuamente os cidadãos, mas na realidade ninguém tinha intenção de fazer nada».

Obras:

Os tambores da chuva

O Dossier H

Concerto no fim do inverno

O Palácio dos Sonhos

A Pirâmide

Três Cantos Fúnebres pelo Kosovo

Abril despedaçado

O General da Armada Morta (Le général de l'armée morte) 2004

O jantar errado, (Darka e gabuar), Companhia das Letras, 2013.

O acidente, (Aksidenti), Companhia das Letras, 2010

Crônica na pedra (Kronikë në gur), Companhia das Letras, 2008

Uma questão de loucura (Çështje të marrëzisë), Companhia das Letras, 2007.

Vida, jogo e morte de Lul Mazrek, (Jeta, loja dhe vdekja e Lul Mazrekut), Companhia das Letras, 2004.

Obra: “O General da Armada Morta”

“Vinte anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, um general e um coronel capelão do exército italiano, recebem um mandato pesado e delicado: encontrar os restos mortais de muitos dos nossos soldados que morreram na Albânia. A missão logo se choca contra as rochas de um clima hostil, de uma terra impermeável, à qual se soma a frieza de um povo orgulhoso para quem a guerra parece ser uma condição de vida. Quando o general estava pronto para trazer o exército morto de volta para casa, percebe que exumou, além dos restos mortais (ainda faltavam muitos na chamada silenciosa), também desconfianças e ressentimentos antigos, atávicos em um povo diferente nos costumes, no sentido da vida, da morte e da honra, que “sempre teve gosto por matar e ser morto”. Relembrando os horrores da guerra na terra das águias.  ((www.qlibri.it › romanzi › il-generale-dell'armata-mortaIl generale dell'armata morta - Ismail Kadare -) Tradução automática e do autor


5 comentários:

  1. Ótima leitura, saber é tudo.

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  2. Muito bom, reconhecido e publicado em 40 línguas.
    Muito a ensinar.

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  3. O palácio dos sonhos, inesquecível.

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  4. Grande Ismail Cadaré, usou a literatura contra a tirania.

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  5. Tambores da chuva, inesquecível.

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