sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A política e a triste afirmação da ignorância e egoísmo. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei.


As democracias liberais desenvolveram-se historicamente legitimando a disputa de interesses. E o que legitimava essa disputa? A compreensão popularizada pelos filósofos e moralistas britânicos de que a sociedade era formada por segmentos com visões diferentes da vida, da história, do trabalho, enfim de coisas sobre as quais era razoável discordar. E como era importante que esses grupos de interesse existissem, do contrário teríamos a imposição de uma parcela ou ditador, então eles podiam disputar a liderança da sociedade durante certo tempo. Um mecanismo de consulta eleitoral garantia que, de tempos em tempos, a alternância dos governantes. E as democracias liberais assim se desenvolveram e enfrentaram seus problemas. O mecanismo funcionou apesar das dificuldades. É mesmo assim, nada que é humano é perfeito, embora possa ser melhorado. Por outro lado, a democracia liberal, mesmo longe de ser perfeita era melhor que ditaduras ou, ainda pior, totalitarismos.
Assim sempre tivemos líderes melhores ou piores se sucedendo na disputa política. Essa forma de democracia se desenvolveu junto a monarquia britânica e precisou comprometê-la com regras, pois os reis historicamente tinham a vocação para o exercício do poder centralizador e absolutista que concentrava em si todo o poder e nele se perpetuava. A monarquia liberal foi criada assim e foi ajustada aos novos tempos nas repúblicas europeias que, em vários países, assumiu o liberalismo democrático, submetendo a disputa de interesses a regras firmes para evitar que no lugar dos antigos reis surgissem novos tiranos. No entanto, o jogo político no liberalismo democrático tinha um estofo ou enchimentos necessários. John Locke, ainda no século XVII, dizia ser a crença em Deus não mediada por príncipe estrangeiro, querendo assegurar um cristianismo sem a intervenção do papa e uma sociedade pautada pela moral. Esse filósofo inglês entrou para a história como o "pai do liberalismo", filiado à escola empirista e elaborou a ideia do contrato social para organização dos interesses. Com sua proposta religiosa, além de defender a liberdade escolheu trouxe a tolerância religiosa.
A liberal democracia seguiu seu caminho pela história, chegou a outros países e enfrentou a questão social, guerras e outras dificuldades. Tornou-se a melhor maneira das sociedades escolherem seu destino e os papas respeitaram as escolhas das sociedades. No entanto, seu sucesso depende daqueles pressupostos iniciais e de outras descobertas. O primeiro é o reconhecimento de que os interesses de toda a sociedade estão acima dos interesses dos grupos. Daí o valor social dos bens do país, respeitado o direito legítimo da propriedade e o respeito à pátria. O outro é o acolhimento de leis legitimamente construídas pelos parlamentos na concretização da justiça (estado de direito) e sua não retroatividade (para assegurar os direitos adquiridos). Tudo isso bem alicerçado no respeito humano e dignidade da pessoa, resumidos no documento conhecido como direitos humanos e nos direitos civis. Porém há ainda outros pontos fundamentais: o reconhecimento dos resultados das ciências modernas, do valor da educação e, ainda, da filosofia enquanto instrumento de defesa da razão, dos argumentos da inteligência e das boas orientações para as relações humanas através da ética e suas derivações (axiologia, éticas profissionais, moral social, moral religiosa quando derivada de uma crença).
Quando as disputas eleitorais perdem essas referências, legais de um lado, mas também de racionalidade e valores humanos e nacionais, ela se torna a imposição irracional do interesse egoísta de grupos sobre a sociedade. Estabelece-se a ignorância (confunde-se, por exemplo, humanismo com comunismo, fascismo com socialismo), e, em lugar de argumentos e debate de ideias, surgem ataques pessoais e opiniões injustiçadas e injustificáveis. O resultado é a mentira (falsas notícias), a distorção dos fatos, a opinião infundada, a ofensa pessoal, substituindo o debate legítimo de ideias.

11 comentários:

  1. Respostas
    1. - Selvino Malfatti , seria o ideal professor. Comungo da vossa ideia.

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  2. Carlos Kieling Alternância de poder, como assim? George Soros, Carlos Slim... é o sistema amado professor. Somos nada, diante...

    Selvino Malfatti
    Selvino Malfatti Carlos, colega. Sempre temos que mirar para um ideal. Não temos no Brasil? Lamento, mas devemos buscá-lo...

    Carlos Kieling
    Carlos Kieling Selvino Malfatti , seria o ideal professor. Comungo da vossa ideia.

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    1. Não podemos deixar de acreditar, estamos pagando o preço de nossa ignorância,agora começamos a acordar, somos responsáveis por todo caos que está si.

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    2. Chegaremos a algo próximo do Ideal, pela EDUCAÇÃO.

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  3. É a descrição do triste momento que vivemos, uma politicagem que destruiu o ideal dos grandes filósofos,fazer política para melhorar a vida de todos.

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  4. Apenas o título já diz tudo, o egoísmo está no comando.
    Para os amigos e amantes tudo,ao povo as bolsas migalhas.

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  5. Não é ignorância é falta de respeito e ética, é querer levar vantagens pessoais, a dor e o sofrimento não tocam estes doentes, ganancia não tem limites.

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  6. Não é ignorância,
    É ganância, desrespeito ao que é público,ganho fácil no Brasil é ser político.

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  7. Diante da realidade nos resta acreditar
    que a lavajato continue seu trabalho na defesa do povo oprimido, povo que se deixa encantar por carnaval e futebol.
    Agora acordaram assustados, mas infelizmente ainda a caminhada é longa.

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  8. Muito triste, o momento que vivemos hoje, estamos a véspera de uma eleição, oportunidade única para o povo cobrar planos e conhecerer a historia dos candidatos,mas ficam se detendo em detalhes, a mídia enlouquecendo aos menos esclarecidos, que infelizmente se deixam manobrar por mesquinharias, e assim será mais perda para todos.
    O povo terá um governante afiado com seus anseios, esmolas e carnaval.

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