sexta-feira, 28 de julho de 2017

CONHECIMENTO: CORPO, MENTE E AMBIENTE. Selvino Antonio Malfatti.


















É ideia corrente entre os partidários da evolução que nosso sistema nervoso central tenha evoluído para incrementar a capacidade de pensar. No entanto, não se pode generalizar, visto que há seres, como as acídias que, ao nascerem possuem um cérebro, com medula espinhal e órgãos sensoriais sensíveis à luz. As acídias conseguem mover-se e o fazem no sentido de encontrar um lugar onde possam fixar-se. Isto acontece pouco depois de nascerem abrigando-se nas rochas ou destroços subaquáticos. A partir deste momento, advém um processo estupefaciente: começam a reabsorver o próprio cérebro, semelhante à evolução ao contrário, voltam ao estágio inferior. A explicação para este fenômeno pode dar-se através da relação entre órgão e função. Finda a função, descarta-se o órgão.

Esta teoria é defendida pelo neurocientista colombiano Rodolfo Linas afirmando que: o desenvolvimento do sistema nervoso central é impulsionado para realizar ações e não para pensar. Isto significa uma inversão copernicana na relação entre cérebro e corpo. Em consequência, não é mais o corpo que é servo do cérebro, como argumenta o cognitivismo, mas ao contrário, o cérebro é a ferramenta que permite que o indivíduo possa interagir com o meio. Com isso o baricentro do conhecimento desloca-se do centro cognitivo para a ação que o ambiente permite. Levanta-se esta questão a propósito do livro de Fausto Caruna e Anna Borghi intitulado: “O Cérebro em Ação” (Il cervello in azione) editado por Il Mulino. 

O cognitivismo representava a mente separada do corpo e do ambiente. A mente desencarnada do corpo que a abriga e desvinculada do ambiente no qual interage. Pela nova prospectiva pode-se falar em mente corporificada e aterrada. Esta visão representa um conhecimento integrado com o corpo através da ação e plasmado pelo ambiente.
Podem ser encontradas raízes desta postura em John Dewey, através de uma posição pragmática. Nele nossa vida cognitiva não é feita de representações teóricas, mas de experiências práticas. Na mesma esteira alinha-se Husserl propondo que o corpo não seja um objeto físico, mas uma e mesma substância com a psique.

Para explicar melhor o fenômeno costuma-se lançar mão de duas metáforas: a do sanduiche e a da quiche. A primeira representa o cognitivismo.  As duas fátias de pão são insípidas se não fosse o recheio e na verdade só o recheio interessa. As duas partes, a sensorial e a motora que representam o corpo e o ambiente, tem um papel secundário. O importante é o conhecimento que resulta da interação.

Em contrapartida a metáfora da quiche, uma torta sem cobertura, recheada de cremes e frutos do mar formam um todo. Não se encontram relações entre os processos perceptivos, cognitivos e motores de sequência temporal. Nós não percebemos um fenômeno depois raciocinamos sobre o que fazer e agimos. Ao contrário os processos são fundidos e integrados. Em vez de sequência se pode falar mais de circularidade: percepção, pensamento e ambiente constituem um todos.

Do exposto pode-se concluir que o corpo não é mais um mero instrumento físico conduzido pela mente, como um robô guiado por um software. Conforme os pensadores e pesquisadores Caruana e Borghi o corpo forma uma unidade com a atividade cognitiva que interage conjuntamente com o ambiente. São simultâneos e não escalonados.

Estamos diante de dois modelos: o tradicional cognitivismo ou racionalismo e o proposto experimentalismo ou pragmatismo. Ambos possuem fundados argumentos e resultados comprovados. Pode-se pensar no cognitivismo de modelo francês e o pragmatismo de modelo anglo-saxônico. Qual deles está na vanguarda? Ambos caminham pari passu, com resultados surpreendentes para cada um.  Ambos exibem conquistas intelectuais em todos os ramos do conhecimento, físicos ou teóricos. 

Não se chegou à Lua e depois foram criados instrumentos para chegar até ela. Ao contrário foram criados meios e depois se alcançou o fim. Mas, antes disso acontecer, houve contato com a experiência, diferente do objeto, que passou a ser teorizada. Com isso foi possível alcançar o objetivo. A partir deste momento o pensamento adquire vida autônoma, vida própria, dispensando a experiência.

8 comentários:

  1. Isto é realmente incrível,
    As metáforas, explicam ou confundem?

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  2. A mim confundiu.
    Representações?
    Experiências?

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  3. Acredito, cérebro é uma ferramenta, incrível e ainda não conhecida totalmente.

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  4. Esta de voltar ao estágio anterior, lembra alguns projetos de humanos.

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  5. E funciona com os seres humanos?
    É incrível, não tinha este conhecimento, mas se avaliarmos certas pessoas agem assim,são acidias.

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  6. Qual deles está na vanguarda?
    Achei duvidoso analisar, responder é um perigo.

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    Respostas
    1. No primeiro momento vem a experimentação. Mas a partir de então o pensamento cria vida própria e não depende mais dela.

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    2. Pensamento com vida própria, um carro andando sem motorista.
      Perigoso.

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