sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Pessoa Humana, um caminho para a convergência humana no novo milênio. José Mauricio de Carvalho




Quando o ISIS (Islamic State of Iraq and ash-Sham) iniciou suas atividades em 2003, o novo milênio estava nascendo em meio a sonhos de paz, deixando para traz um século com duas Guerras Mundiais e o genocídio de seis milhões de judeus. E desde então as bombas do ISIS explodindo nas cidades ocidentais, os assassinatos e sequestros de pessoas de outra fé, as decapitações de ocidentais, tornaram o grupo temido e o século XXI um novo tempo de brutalidade. Não há novidade na brutalidade, o homem sempre foi um animal perigoso. O ISIS tem contribuído, com louvor, para manter viva a consciência dessa brutalidade, demonstrando com o uso da violência extrema e da irracionalidade completa a face mais perversa de nossa animalidade. E a disposição cega para a guerra e o sacrifício demonstrada por seus membros tem na raiz a interpretação radical da lei religiosa islâmica e o desconhecimento da noção de pessoa humana. E não parece que as ações do grupo consigam mais do que promover o medo e o pavor da maioria do povo da região. Diante dos atos criminosos dessa minoria fanática, as pessoas da região fogem apavoradas do regime de terror, lançando-se ao mar bravio em embarcações sem segurança. Preferem a morte no mar, os desafios de uma vida de miséria na Europa, colocam em risco a segurança de mulheres e filhos para não ter de suportar a tirania de uma vida na escravidão. É esse Deus e essa fé que oferecem aos homens e mulheres da região. É essa a vida que consideram seja boa.
 Sem reconhecer a dignidade da pessoa humana, eles tratam os homens como fieis e infiéis, ficando o segundo grupo subtraído de qualquer respeito humano. Aliás, a forma como aplicam a lei religiosa aos fieis também não revela respeito. Ao lado de interesses políticos  anacrônicos (implantar um califado), esses homens veiculam a imagem de um Deus rigoroso e perverso, que submete os fieis ao mais restrito controle, ministra punições severas ante o descumprimento das regras religiosas.
Além de não demonstrarem qualquer interesse por estudos teológicos que acenam para um Deus misericordioso, o diferencial do grupo é o completo desrespeito à condição humana. Essa realidade parece o aspecto mais importante que vivem, o completo desrespeito à dignidade humana que foi reconhecida nos direitos humanos e ainda antes na consciência ética do ocidente. Ações como as conduzidas pelo ISIS demonstram que eles estão fora do consenso que levou à criação dos direitos humanos, mas especialmente que desconhecem o caminho percorrido pela filosofia ocidental nos últimos quinhentos anos. E reforçam a consciência do que a ignorância e ausência de reflexão filosófica podem provocar. Sem Filosofia não se reconhece o valor do esforço para a perfeição, não se entende o sentido da liberdade com responsabilidade e que não se toca no essencial: a humanidade do outro pede para tratá-lo com o mesmo respeito com que desejaríamos ser tratados. A situação é ainda mais grave para quem diz ter uma fé que nos identifica como criaturas do mesmo Deus, qualquer que seja o nome pelo qual o cultuemos.
A brutalidade e a ignorância são contrárias à condição humana, humanidade significa dignidade ou valor. A realidade humana veiculada pelo cristianismo e difundida entre os povos europeus na Idade Média acabaram reconhecidos pela consciência humana como conquistas importantes. Pensadores como Kant e a maioria dos filósofos ocidentais reconheceram o caráter racional da moralidade cristã e do valor da pessoa.

O desconhecimento dessa tradição provoca um grande mal ao convívio humano no momento em que a humanidade caminha para construir relações globais na economia, desenvolve modos parecidos de vida e estabelece novos padrões de convivência. Nesse novo milênio nada parece mais valioso do que ensinar que a raiz da moralidade é o valor da pessoa humana. Só as bombas não acabarão com o ISIS é necessário mostrar porque eles merecem ser combatidos. Estamos diante de desafio de popularizar a Filosofia e a racionalidade já que temos lições diárias de para onde leva a ignorância e a irreflexão.

6 comentários:

  1. E estamos no seculo vinte um, será que podemos nos achar humanos?

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  2. Sempre o desconhecimento e a ignorância faz do convívio humano uma guerra constante, ainda não aprendemos que nascemos para apreender a ser feliz.

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    1. É o conceito de felicidade é relativo, pessoas deixam de serem felizes, porque acostumaram e vivem o sofrimento.

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  3. Parabéns muito bem explicado tudo que muitas vezes ignoramos.

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  4. O homem sempre foi um animal perigoso, concordo, sinto não saber mas podemos modifica-lo, talvez adestra-los.

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    1. Sabe que estão adestrando os humanos ao cria-los para virarem bombas. Muito triste.

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