sexta-feira, 12 de julho de 2013

O URUBU E A POLÍTICA. José Maurício de Carvalho.


Hoje quero expressar minha homenagem a Jean de la Fontaine, o escritor francês que se tornou mundialmente conhecido por suas deliciosas fábulas. La Fontaine viveu no século XVII, nasceu em 8 de julho de 1621 e morreu em 13 de abril de 1695. Ele deu ao classicismo francês grande expressão. Antes de escrever suas instigantes fábulas elaborou contos interessantes onde examinava a psicologia feminina. Ele foi também autor de novelas notáveis como Boccacio e Ariosto (1665) e Os amores de Psique e Cupido (1669). As fábulas de La Fontaine foram reunidas em doze volumes publicados entre 1688 e 1694. Suas fábulas mais conhecidas são: A cigarra e a formiga, O lobo e o cordeiro, A raposa e as uvas e O corvo e a raposa. A marca de La Fontaine são personagens animais com características humanas, especialmente virtudes e vícios. La Fontaine usou seu talento literário para discutir questões morais.
A homenagem ocorre no momento em que estados do sudeste estão alagados pela imprevidência e falta de planejamento dos governos e sociedade. O fato lembrou-me uma história da infância e que era mais ou menos assim: contam que, certa vez, no reino da bicharada a vida na floresta ficou difícil por conta da superpopulação. Bichos muito numerosos estavam com convivência difícil, exigindo leis e ações de planejamento que assegurassem o bem estar de todos. Havia enorme desconfiança dos bichos que ocupavam os lugares baixos da floresta em votar nos que habitavam os lugares altos e vice versa, os que viviam nas águas não confiavam nos que habitavam a terra e estes não queriam entregar o poder administrativo das matas a quem não punha os pés em chão firme.  Apenas a urgência de administrar as dificuldades obrigou a organização das eleições. Depois de muita confusão e um processo eleitoral conturbado venceu o pleito a Coligação Floresta Feliz liderada pelo Urubu, candidato da Vigilância Sanitária (Partido da Higiene), que tinha na Vice-Presidência a Serpente (Partido da Fidelidade) e como conselheira a raposa (Partido da Sinceridade). Estabelecido o governo todos os animais se acreditavam bem representados. Além do mais os políticos prometeram solenemente se comportar, o Urubu a não comer restos públicos, a Serpente a não ser traiçoeira e a raposa a ser transparente nas contas e sincera nas declarações.  
Os animais estavam incomodados porque a destruição da mata ciliar aumentava as enchentes, a venda das árvores para uma carvoaria aumentava a temperatura ambiente e influía no ritmo das chuvas, a falta de preservação das nascentes e esgotos sem tratamento diminuía a água de qualidade. Os eleitos empossados trataram de se arrumar, o Urubu conseguiu morar num condomínio de luxo no único conjunto de árvores ainda preservado, a serpente ganhou um vale preá e a raposa transferiu o gabinete para o galinheiro. Quando veio o tempo das águas nada havia sido feito a não ser as leis que favoreciam a boa vida dos políticos. Sem mata ciliar para proteger os rios a inundação foi grande e o sofrimento da bicharada aumentou. Enquanto isto do alto de sua árvore sua Excelência prometia aos meios de comunicação: ano que vem será tudo diferente, tomarei enérgicas providências. Vou determinar o reflorestamento, usar os recursos públicos na proteção dos rios e cuidarei da qualidade das águas.

Depois de grande sofrimento para a sociedade passou o período das chuvas. Diante do céu azul, o Urubu de asas abertas no lindo sol dedicou-se a comer os restos do exercício anterior. A serpente com estoque renovado de preás e sapos (com o adicional de produtividade) e a raposa com galinheiro cheio cuidavam de encher a pança. E assim viveram os tempos da fartura até que um novo período de inundação se abateu sobre a floresta. Diante do desastre geral a Raposa, em férias no galinheiro da capital foi chamada às pressas para organizar a coletiva de imprensa. A culpa é da natureza, chegou dizendo aflita aos repórteres, as chuvas estão fortes demais este ano. 

13 comentários:

  1. GOSTEI DA NARRATIVA DO JOSÉ MAURÍCIO. o GÊNERO FÁBULA É DE GRANDE VALOR PARA EXPRIMIR AS CONTRADIÇÕES HUMANAS. O MESTRE ARQUETÍPICO, CERTAMENTE, É O VELHO ÉSOPO. BOM, CONTRIBUINDO AO REPERTÓRIO, ENCAMINHO TEXTO DO MEU AMIGO FERNANDO FLORA, MÉDICO EM BELO HORIZONTE:

    FÁBULA

    AS RAPOSAS E AS MARITACAS

    Há muito tempo atrás, existia um reino composto por raposas e maritacas. As raposas viviam em lindos palácios, com paredes de ouro, e entretinham-se com o jogo de ficar cada vez mais ricas. As maritacas só trabalhavam para enriquecer as raposas.

    Acontece que como as raposas tinham uma goela enorme e só queriam enriquecer mais e mais, um dia as maritacas se encheram. Revoltaram-se contra as raposas e começaram a fazer um barulho ensurdecedor que atravessou as paredes de ouro dos palácios. Começaram a defecar nos tetos dos mesmos.

    As raposas ficaram perplexas num primeiro momento. Em seguida, resolveram ludibriar as maritacas prometendo mundos e fundos, tudo de mentirinha.

    As maritacas não acreditaram nas falsas promessas e continuaram sua revolta.

    As raposas, que de bobas não tinham nada, resolveram botar fogo no circo, como se diz. Contrataram uns “vândalos”, como eram chamados, para quebrar tudo e assim deixarem todos com medo.

    Prepararam o caminho para que o Raposa-Mor, conhecido pelos seus dotes de magnetismo e ilusão, fosse chamado como o salvador do reino.

    Dito e feito. O Raposa-Mor voltou, investido de todos os poderes pra botar ordem no reino.

    E o que aconteceu com as maritacas?

    Mas isto é outra história...
    Moral: tudo se repete no mundo das raposas e maritacas.

    GRANDE ABRAÇO AOS AMIGOS SELVINO E JOSÉ MAURÍCIO, COM O MEU ABRAÇO DE ANIVERSÁRIO PARA ESTE ÚLTIMO.

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  2. Muito bom,as histórias se repetem?

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  3. Até já identifiquei o urubu,muito educativo este artigo.ABRAÇOS.

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  4. Obrigado, Professor Ricardo, pelo seu comentário. Muito nos prestigiou.

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  5. Saudades destas fábulas,muito educativas.

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  6. Gostei, mas os urubus poderão ser abatidos pelo voto consciente.

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  7. Bela homenagem,merecida.

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  8. Perfeitos os dois artigos.E quando voltará o Raposa-mor com suas maracutaias e as companheiras Roses?

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  9. Muito bom mesmo professor, falar de politica contando uma fábula antiga,com validade para todos os tempos,que belo artigo.

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  10. Irônico,muito atual,valeu

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  11. E o que aconteceu com as maritacas RICARDO?Vamos socializar,tem conserto?

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  12. As fábulas nos trouxeram grande contribuição na época que fomos educados,valeu.

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  13. As raposas se articulam para voltar e,claro derrubar a companheira,com toda maldade,mas aparentando serem os salvadores da pátria,companheiros é o filho voltando para os braços do povo.
    As pesquisas confiáveis ou não repetem-se nos noticiários,o tapete começa a ser puxado,e para a delícia dos estudiosos, o jogo continua,façam suas apostas quem será o salvador da pátria?

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