domingo, 28 de fevereiro de 2021

ESPARTA E ATENAS – MAIS SEMELHANÇAS QUE DIFERENÇAS. Selvino Antonio Malfatti.

 



Eva Cantarella é professora universitária de direito romano e direito da Grécia antiga da Universidade degli Studi di

Milano e reitora da Faculdade de Direito da Universidade de Camerino. Autora de Diritto e teatro in Grecia e a Roma.

A título de aprofundamento propôs-se revisar as diferenças e semelhanças das Cidades-Estado de Esparta e Atenas. Chega à conclusão de que há mais semelhanças que diferenças entre elas em que pese de comumente se salientar as diferenças.

No rol das diferenças principalmente comandantes militares costumam chamar a atenção do caráter beligerante de Esparta, como Joseph Goebbels que se se dizia sentir como numa cidade alemã por que a Alemanha nazista era a “Nova Esparta”, cidade de conquistadores, capazes de através dos séculos preservar a raça pura, estes mesmos 6.000 combatentes dominaram os 360.000 mil invasores.

Para Robespierre e os Jacobinos, os espartanos eram o modelo de virtude cívica, exemplos de sentido de dever e sacrifício por si mesmos e pela coletividade. Como Leônidas e os Trezentos, dispostos a imolar-se para defender a pátria dos invasores bárbaros.

Em Stalingrado, nem mesmo durante a derrota, o marechal de campo Göring, chega a exclamar: "Viajante, se você for para a Alemanha (para Esparta), diga a eles que nos viu lutar em Stalingrado (nas Termópilas), obedientes à lei, pela segurança de nosso povo!"

 

 Afinal, os comunistas não eram os novos bárbaros, prontos para descer à Europa para destruí-la? E não importa se os alemães haviam invadido e não os russos, prontos para massacrar a Europa, como fizeram no Leste europeu?

Quanto Atenas recebe elogios de toda parte, mas não merece tanto. Dizia Donald Trump hà alguns anos: "Eu amo os gregos, oh, eu amo os gregos ..."Com ele se encerra a fila de presidentes e políticos norte-americanos que faziam questão de comparar os Estados Unidos à Atenas associando-a ao berço da democracia e da liberdade. Na Segunda Guerra Mundial se associou Atenas aos Estados Unidos e Esparta aos soviéticos.

A ideia volta a ganhar força sempre que se deseja exportar a democracia ateniense (norte-americana) para o resto do mundo. Dizia George W. Bush: "A América não é uma potência imperial, é uma potência libertadora".

 

Em tempos mais recentes, tem sido usado para justificar iniciativas infelizes. A comparação com Atenas volta continuamente quando se discute a necessidade de "exportar" a democracia para o mundo.

No entanto, a fama entre historiadores não é tão louvável. Quando se pergunta, como Atenas tratava seus aliados, historiadores não duvidam de classifica-los: “como vacas a serem ordenhadas continuamente”.

Eva Cantarella desmascara em parte este mito: Esparta igual autoritarismo, militarismo, armas, corpos sadios para a guerra. Atenas igual à democracia, educação, mente sã para as artes. Esparta aparece como uma miragem, envolta em brumas de um passado glorioso, com uma constituição de setecentos anos, mas agora desaparecida.  Ao contrário Atenas salienta-se como a cidade do Partenon e da democracia sempre viva.

Como foi destacado, muitas vezes predominam estereótipo, chavões, lugares comuns. Um deles é afirmar que Esparta desprezava a cultura. Os espartanos prezavam o poder da palavra e valorizavam ir direto ao assunto, sem rodeios e enfeites desnecessários que só servem para complicar em vez de clarear. É o famoso estilo lacônico dos espartanos, arte de sintetizar em poucas palavras todo um pensamento que os prolixos gastariam uma verdadeira verborreia.

A propaganda ateniense foi eficiente: conseguiu incutir que o estilo lacônico era ignorância. Por outro lado os espartanos também foram eficientes quando identificaram um estilo eloquente das mulheres, com os atenienses em superficialidades e discussões de futilidades.

Na verdade Esparta estendia a educação às mulheres no momento que as considerava parte do projeto cívico. Mas teve o preço: a eliminação do espaço privado da família e do indivíduo. Não havia lugar para laços afetivos entre mães e filhos. Tudo era público e os filhos não eram da família, mas do Estado.

Cantarella salienta que ambas, Esparta e Atenas, estavam engajadas num projeto político, diferindo no modelo: Esparta apoiava-se no Estado e Atenas na sociedade.

No entanto, é sintomático como espontaneamente as sociedades autoritárias se identificam com Esparta e as democráticas com Atenas. Os mais paradigmáticos se mostram ser o comunismo Soviético com Esparta e a democracia americana com Atenas.

 

4 comentários:

  1. Um belo artigo,muito interessante.

    ResponderExcluir
  2. Modelos de virtude.
    Importante saber.

    ResponderExcluir
  3. Olha talvez o estado soubesse educar,
    no momento em nosso país, muitos jovens estariam bem mais protegidos, orientados pelos colégios militares.

    ResponderExcluir
  4. Como precisamos de modelo de virtudes.

    ResponderExcluir

Postagens mais vistas