sábado, 25 de maio de 2019

BENS NEM DE MERCADO NEM DE ESTADO. Selvino Antonio Malfatti - Instituto Luso-brasileiro de Filosofia. Lisboa.



Poucos se detêm para refletir sobre uma faixa de bens que precedem e supõem os bens de mercado ou de Estado. São os bens proto-mercantis e meta-estatais. Os bens de mercado, sabemos, são negociáveis, têm preço, estão à venda e à compra. No entanto, existe um conjunto de bens, que são valiosíssimos, mas não se compram, nem se vendem, pois são anteriores e a cima dos bens de mercado. Numa comparação, assim como o Direito possui direitos pétreos, isto é, imutáveis, alheios à negociação, assim também existem os proto-bens e os meta-bens. São bens intocáveis pelo Estado e fora de objeto de exploração do mercado.
Entre os proto-bens incluem-se o ar que se respira, a água in natura, terra. São os elementos essenciais identificados pelos filósofos gregos pré-socráticos. Assim, pode-se ver que Tales de Mileto, viu na água a origem de tudo. Anaximandro privilegiou o ápeiron, o indefinido. Anaxímenes, descobriu o ar e Heráclito o fogo, a energia e Xenófanes, a terra.
Aqueles que poluem a água, envenenam o ar ou exaurem a terra estão atingindo bens fora do controle do Estado e objeto de mercado. Fazem isso sem custo e em detrimento de todos. Pode-se incluir a impotência do mercado ou a incompetência do Estado quanto à escassez de determinados bens como a água, agricultura e petróleo. A sugestão de esperar, pois os custos de substituição são muitos elevados, como a dessalinização da água do mar está nos levando para uma situação limite. Mas é possível ainda procrastinar?
O certo é que no embate entre mercado e estado, configura-se um desenvolvimento insustentável e suicida e até o momento a conta é creditada ao déficit ecológico. Os economistas lançam alerta, mas o mercado brinca de cego e o Estado faz olho grosso Afirmando que os recursos são inesgotáveis. O agravante vem com a explosão demográfica no mundo: Hoje somos mais de sete e em 2050 ultrapassaremos a marca de nove bilhões.
A combinação desastrosa entre ecologia e demografia eclodiria com uma mudança climática, já diversas vezes ensaiada aqui e acolá, na superfície da terra, como ocorreu com Poluição em Minemata, Explosão em Seveso, Vazamento em Bhopal, Desastre de Chernobyl ou Mariana e Brumadino no Brasil? Imaginemos o que poderia acontecer na Índia se as monções invertessem de direção ou desaparecessem? Quem poderia superar os efeitos? O mercado ou o Estado?
O pior poderá estar por vir: a combinação de desastres, como demografia e ecologia, por exemplo. Ninguém conseguirá deter a hecatombe de um desastre numa localidade superpovoada. Todos os órgãos que num período normal funcionam harmonicamente, com o desastre passariam a funcionar de forma contraditória. As marés com fluxos e refluxos se avolumariam e invadiriam a terra. Os ventos varreriam tudo o que encontrassem pela frente. A energia elétrica provocará incêndios; os rios em vez de transportar, inundam; a água potável se mesclará com óxidos; os aeroportos virariam entulhos; os hospitais se tornariam centros de disseminação de vírus infecciosos. Será o cenário do “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago. 

7 comentários:

  1. Grande aula.
    Muito conhecimento.

    ResponderExcluir
  2. Estamos observando, os recursos estão se findando.
    O que deixaremos para nossos netos?

    ResponderExcluir
  3. Nossos bens preciosos, ar e água.

    ResponderExcluir
  4. Se não tivermos água, acaba a vida na terra.
    Ninguém está prestando atenção, analise o custo da água,muiito mais preciosa que o petróleo.

    ResponderExcluir
  5. Quando se provoca envenamento do ar, não entendem o sofrimento das pessoas.
    Aviões colocam veneno nas lavouras dos grandes proprietários, os pequenos com suas pequenas propriedades sofrem ao verem seus animais envenenados, a agua o bem mais precioso, se torna perigoso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, as plantas, as frutas ficam amareladas.
      Os agricultores que estão proximos ao plantio do tabaco ficam adoecidos, com alto índice de suicídios.
      É o ar envenenado.

      Excluir
  6. Sem ar e água, estaremos no apocalipse.
    A natureza um dia cobrará tanta destruição e descaso com o meio ambiente.

    ResponderExcluir

Postagens mais vistas