sexta-feira, 22 de abril de 2011

FERNANDO PESSOA – ALMA DA LÍNGUA PORTUGUESA. Selvino Antonio Malfatti.


Por ocasião do lançamento no Brasil do livro “Fernando PessoaUma quase Autobiografia, da autoria do pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, proponho uma reflexão sobre este magno pensador da língua portuguesa.
Fernando Pessoa brinca com as palavras. Empilha-as, dá um piparote na base, desanda. Ajeita de outra forma, como dominó, empurra a primeira e todas as demais, uma a uma, vão caindo. Inverte-as, troca sujeito e predicado, muda o verbo de lugar.
Mas nesse jogo de palavras, não se enganem, ele vai desenvolvendo idéias, lógicas, antinomias, contradições profundamente profundas. É preciso estar atento porque as idéias, aos borbotões, vão emergindo e imergindo no quase, no tudo e no nada. As idéias, sub-repticiamente, se encaixam umas às outras formando aquilo que se chama sistema. O sistema de Fernando Pessoa é um modelo sui generis - é genuinamente português. Não se encontra desenvolvido em premissa maior, menor e conclusão. É como a realidade, na qual está tudo sintetizado no difuso. A realidade do mundo não é cartesiana, mas um conjunto de elementos aptos a formarem uma realidade. É mais Heráclito que Aristóteles.
Fernando Pessoa  ri sofrendo sentimentos, pensa a ilógica do pensamento racional. Ora está fora, ora dentro. Olha, olha-se, é olhado. Ele é a serenidade, a provocação, o silêncio humilde. Está ajoelhado, te bate no rosto e chora. É verme, humano e divino. Ele é alma do povo português. A Tabacaria é um protótipo.
Quem diria que do Condado Portucalense, D. Afonso Henriques fundaria um dos maiores impérios culturais do planeta? E é por isto que Portugal ficou grande na história, pela ciência e cultura. Seus cientistas e navegadores, conhecedores e desbravadores dos mares, levavam para onde iam – África, América e Ásia - o que havia de melhor na Europa. Fundavam núcleos coloniais, cidades e até nações. E neles implantavam e difundiam a cultura européia e junto com ela a religião. Houve excessos, com certeza, na mesa portuguesa. Mas houve acertos e a maioria não quer, atualmente, ter continuado na situação em que estava antes da colonização portuguesa. Não se pode julgar todo o passado com a visão do presente. Parece, por isso, que o saldo é positivo em relação a acertos e erros. E de todos os acertos, penso, pelo que consegui captar por intuição espontânea, a maior glória de Portugal é o Brasil cultural, sem desmerecer outros núcleos. Ao Brasil transmitiu uma cultura, a da língua portuguesa – a última flor do Lácio -  língua de Camões e agora de Fernando Pessoa. Com esta língua o Brasil faz cultura, tem poetas como Castro Alves, tem literatos como Machado de Assis e José de Alencar, contribuindo “pari passu” com cultura da língua.
Fernando Pessoa nos deixou cedo, com 47 anos, ele e o séquito de todos seus heterenônimos, a começar pelo “drama em gente”. E a amada Ophelia? Com certeza lhe vinha à mente estes versos vendo seu amado sem vida:
Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo deste vida descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

6 comentários:

  1. Deslumbrante a descrição de tão preciosa obra,foi um poeta,foi o escritor que tu nos trazes com tanta beleza e encantamento.Parabéns...

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  2. Boa indicação......Feliz Páscoa.

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  3. Fico com a interessante sugestão.As vezes perdemos tempo por não lermos tão importantes escritores,vamos sacudir a preguiça e deixar a tv um pouco de lado.

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  4. Fernando Pessoa em sua fidalguia a dançar com as palavras é maravilhoso,incomparável.E a amada Ophélia que hino de amor.

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  5. A Montanha por Achar - Poesias Inéditas F.PESSOA
    A MONTANHA por achar
    Há de ter, quando a encontrar,
    Um templo aberto na pedra
    Da encosta onde nada medra.

    O santuário que tiver,
    Quando o encontrar, há de ser
    Na montanha procurada
    E na gruta ali achada.

    A verdade, se ela existe,
    Ver-se-á que só consiste
    Na procura da verdade,
    Porque a vida é só metade.

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  6. Obrigado, "Anônimo", pelo belo e profundo poema de Fernando Pessoa.

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