Será que estamos diante de
outro fenômeno literário como “O Nome da Rosa”? Trata-se do livro de Aldo
Cazzullo que em 4 meses distribuiu 360 mil exemplares. O título do livro é “O
Deus de Nossos Pais”. O que há de extraordinário no livro? Nada, o conteúdo é
conhecido por todos e é o mais lido de todos os tempos. O espetacular está na
forma como é apresentado. Num linguajar familiar, quase coloquial, contado pelo
autor faz da Bíblia uma romance da História do Homem com Deus. Todos sabem o
seu final, mas o jeito de abordar cativa tanto que não se quer parar de ler. É
um romance que se conhece o enredo e a última cena está em aberto, pois sugere
que cada um escolherá.
A História é tão simples que
segue a ordem cronológica, mas associando à atualidade, à vida pessoal, grandes
acontecimentos da História, obras de arte. Tudo isso como se estivesse
acontecendo agora. Tudo num estilo simples,
alegre, como se pode ver na citação no
final do artigo[i].
O livro O Deus de Nossos
Pais de Cazzullo planta a cultura cristã como o elemento chave que conduz a
história. O povo italiano fica de pano de fundo, como o povo hebreu,
simbolicamente escolhido como povo de Deus pelo qual a mão de Deus guia a
Humanidade. A escolha do italiano poderia ser o francês, alemão ou qualquer
povo cristão. Destacamos alguns conteúdos que perpassam a narrativa do autor.
Sem dúvida o alicerce da
cultura cristã reside no período antigo envolvendo a base principal que é a
herança hebraica, seguidos pela civilização greco-latina. Esta incorporou ao
cristianismo sua filosofia, língua e arte.
Com o advento do
cristianismo Roma passa o ocupar o centro do cristianismo devido as pregações e
martírios de Pedro e Paulo. A partir do Imperador Constantino a Igreja Católica
manteve Roma como capital.
O tronco romano do cristianismo
lançou seus ramos pelo resto do mundo tornando-se protótipo da arte,
arquitetura, catedrais ainda existentes. O cristianismo concebeu em si mesmo
uma renovação dando origem ao Renascimento com sua escultura, literatura, músicas,
bem retratadas pelo Gênio do Cristianismo de François-René de Chateaubriand.
O autor dá ênfase na espiritualidade
no período medieval ao mesmo tempo em que os monges salvaram obras importantes
que teriam sido destruídas nas invasões europeias como o mosteiro de Monte Cassino
na Itália. Isto salvou a continuidade da educação para toda a Europa.
Outro detalhe importante foi
os santos místicos como São Francisco de Assis e Santa Clara que garantiram os
valores cristãos e a espiritualidade num período de grande decadência religiosa.
Por último a influencia do
cristianismo que exerceu um papel moderador nas guerras entre si de príncipes
europeus. Por isso o Deus de Nossos Pais é um romance que conhecemos, mas
sempre gostamos de ouvir.
[i] I nostri
padri erano convinti di vivere sotto l’occhio di Dio: la sua esistenza era
certa come quella del sole che sorge e tramonta. Oggi abbiamo smesso di
crederci, o anche solo di pensarci. E la Bibbia nessuno la legge più. Invece la
Bibbia è un libro meraviglioso. Che si può leggere anche come un grande
romanzo. L’autobiografia di Dio. (Os nossos pais estavam convencidos de que
viviam sob o olhar de Deus: a sua existência era tão certa como a do sol
nascente e poente. Hoje deixamos de acreditar, ou mesmo de pensar nisso. E
ninguém mais lê a Bíblia. Em vez disso, a Bíblia é um livro maravilhoso. Que
também pode ser lido como um grande romance. A autobiografia de Deus.)