Zygmunt
Bauman realizou diversos estudos sobre a atual crise de cultura e suas
manifestações. Um dos aspectos mencionados como causa dessa crise foi o
desmantelamento do Estado Social. O desmonte se devia, avaliou, ao desinteresse
do grande capital pelo bom funcionamento dos Estados. Isso porque ele já não mais
necessita de um exército de trabalhadores e, assim, se descomprometeu de sua
formação e manutenção. O fenômeno foi descrito genericamente como desterritorialização do
capital, isto é, quebra do vínculo da territorialidade entre o capital e o Estado
onde ele está. Não tendo mais necessidade de um lugar fixo para se desenvolver,
o grande capital não necessita mais se responsabilizar por um povo ou Estado.
Por
conta de seus atuais interesses e depois que deixou de se preocupar com a
ameaça comunista, pelo fim do comunismo real, o grande capital anda solto pelo
mundo. Como um bom boêmio dorme aqui e acorda acolá. Passa a vida a proclamar
as delícias do consumismo e do gozo imediato e irresponsável. A Rússia não mais
ameaça com o comunismo e a China criou uma espécie nova de despotismo oriental,
autoritária e capitalista. Os remanescentes do comunismo como Coreia do Norte,
Cuba e Venezuela servem apenas para se mostrar o que se deve evitar. O totalitarismo
ou ao menos o brutal autoritarismo ali praticado não deve mesmo ser tolerado.
Aliás, nenhuma forma de governo autoritário deve ser aceita, pois a democracia
e o estado de direito é a melhor experiência de organização política que temos.
A desterritorialização do
capital e seu desinteresse pelo destino do Estados criou dificuldades
crescentes para a manutenção de compromissos históricos entre o Estado e seu
povo. Compromissos como a educação pública de boa qualidade, serviços de saúde
públicos e institutos de previdência social, além da segurança cidadã.
Lembremos que a proteção da criança desassistida, dos doentes e velhos foi uma
conquista da sociedade ocidental, assuntos defendidos pelos grandes
capitalistas dos últimos séculos por obediência, inclusive, ao princípio moral
bíblico de proteger os fracos e desamparados: crianças, doentes e velhos. Nesse
novo momento e, sem explicar isso ao povo, políticos de extrema direita
atribuem os novos problemas do Estado ao estrangeiro e ao diferente (minorias
em geral e pobres) e esperam transformar o Estado numa delegacia de polícia com
um território cercado de muros. Vendem esse projeto como a maravilha da classe
média e inventaram um cristianismo da prosperidade e riqueza tão distante dos
ensinamentos do mestre de Nazaré como o sol da lua. Esse tal evangelho da
prosperidade ajuda mais a enriquecer alguns pastores e igrejas, mas isso é
outra história.
No
campo da segurança, a falta de compromisso do Estado com o seu monopólio se
mostrou, entre coisas iguais, na política dos CACs. Em outras palavras, sem o
monopólio da segurança pelo Estado e seus agentes policiais, cada qual se vire
e proteja vida e patrimônio de arma em punho. Porém colocar arma,
generalizadamente, na mão da população, nunca foi o melhor caminho para
garantir a segurança de ninguém. Isso feito e caminharemos para aquilo que
Thomas Hobbes descreveu como guerra de todos contra todos.
O
episódio recente no qual o caminhoneiro Edson Crippa, que matou diversas
pessoas em Novo Hamburgo (RS), é um bom exemplo do que significa armar
indiscriminadamente a população. O caminheiro era portador de transtorno
esquizofrênico e já havia sido internado em diversas instituições
psiquiátricas. Quem conhece a dinâmica desse transtorno sabe que ele se
manifesta em crises episódicas quando a pessoa pode se tornar extremamente
agressiva. Os sintomas do transtorno são: alucinações, delírios, pensamento
desorganizado, abulia, falta de prazer na vida, dificuldade de organizar informações
e usá-las adequadamente, dificuldade de interagir socialmente, entre muitos
outros sintomas graves de alteração da consciência.
Mesmo
com esse diagnóstico, Edson Crippa consegui a certificação de Colecionador,
Atirador e Caçador (CAC) e tinha em sua posse quatro armas: uma pistola de 9
mm, uma pistola 380, uma espingarda de calibre 12 e um fuzil, além de mais de
300 munições. Provavelmente devido a uma denúncia de maus-tratos aos pais, ele
entrou em surto. Durante o ataque, Edson matou o pai, um irmão e dois
policiais. A mãe e a cunhada e outras pessoas foram gravemente feridas. No
final o próprio atirador também foi morto. Uma tragédia que poderia ter sido
evitada se o motorista não tivesse armas à mão e elas estivessem confiadas
apenas aos agentes de segurança.
Assim,
devido a diferentes e novas dificuldades, os Estados terão que se reinventar.
Não fechando os olhos para os problemas ou pela reativação de um nacionalismo
nazista e doentio, mas pelo fortalecimento da democracia e seus mecanismos.
O caso do RGS pode também ser uma negação da família pois, segundo notícias, o pai era portador de esquizofrenia.
ResponderExcluirVocê tem idéia de como é o interior de muitas propriedades neste estado, pessoas em grandes áreas, desprotegidas.
Muitos viram suas famílias serem atacadas, filhas sofrerem abusos, sem nenhuma proteção.
Devem sim, terem armas para se protegerem,.
Agora desarmar?
Quem nos protegerá?
O estado?
Mas bah, fortalecimento da democracia?
ResponderExcluirOs cidadãos estão com medo, calados.
E para ser CAC, precisa seguir as regras, ninguém tem autorização para sair comprando armas e munições, tudo é fiscalizado, precisa licença, ter um cofre, registros etc
ExcluirCoisas que os contrabandistas e fora da lei, estão isentos.
ResponderExcluirAtendimento para saúde mental??
Tente se informar, o povo está carente de políticas públicas, que funcionem.
Transtornos mentais precisam ser tratados.
ResponderExcluirAs famílias não acreditam que possam acontecer tragédias.
Que discurso mais antigo, sempre usam a pobreza.
ResponderExcluirTodos querem os pobres, para viverem marginalizados, dependentes de bolsas, mantendo os politiqueiros no poder.
Concordo com você, discurso de ajudar os pobres, não pega mais, estão acordando.
ResponderExcluirNunca houveram tantas oportunidades para estudar e se qualificar, mas o discurso permanece.