Faleceu na quinta-feira passada, dia
26 de setembro de 2019, o Prof. Tiago Adão Lara, pesquisador, filósofo, teólogo
e estudioso da filosofia brasileira. Era natural de São Tiago – micro região de
São João del-Rei. Nasceu em 24 de maio de 1930. Fez os estudos de filosofia no
Seminário Salesiano de São João del-Rei e, no exterior, teologia em Turim entre
1953 e 1957 e especialização em filosofia na Universidade de Louvain, Bélgica
(1971). Retornando ao Brasil tornou-se professor da Faculdade Dom Bosco de
Filosofia, Ciências e Letras, mantida pela Congregação Salesiana. Concluiu o
mestrado na PUC/Rio em 1976 e o doutorado na Universidade Gama Filho/Rio em
1982.
As informações fundamentais
dessas referências encontram-se em Contribuição
contemporânea à História da Filosofia Brasileira (Londrina: EDUEL, 200, 605
p.). O comentário sobre as ideias de Tiago Lara está no capítulo 3, item 5,
letra p.
Em 1981 ingressou, por
concurso, no Corpo Docente da Universidade Federal de Uberlândia, jubilando-se
em 1991. Desde então transferiu-se para Juiz de Fora, onde se tornou
colaborador do programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Juiz de Fora, como professor visitante. Trabalhou também no CES – Centro de
Ensino Superior de Juiz de Fora, onde lecionou filosofia na graduação e
filosofia da educação no programa de Mestrado em Educação.
Seus interesses de pesquisa
eram a filosofia brasileira e história da filosofia ocidental. Seus trabalhos
mais importantes na área da filosofia brasileira são (CARVALHO, 2001, p. 360): “As raízes cristãs do pensamento de Antônio Pedro de Figueiredo (1977), Corrente eclética na Bahia (1979), Pombal e a cultura brasileira – em coautoria
e Tradicionalismo católico em Pernambuco (1988). Como historiador da
filosofia ocidental publicou: A filosofia
nas suas origens gregas (4. ed.
2001), A filosofia nos tempos e
contratempos da cristandade ocidental
(1999), A filosofia ocidental do
Renascimento aos nossos dias (7. ed. 2001). Tiago publicou ainda o polêmico
livro A escola que não tive... o
professor que não fui (2. ed. 1998) e um importante trabalho de
teologia intitulado Experiência da
finitude e apelo de transcendência
parte do livro A sedução do sagrado
(1998). Além desses trabalhos maiores publicou mais de vinte artigos em
revistas especializadas, dos quais os mais significativos são: O pensamento de Vicente Ferreira da Silva em dialéticas das
consciências e O republicanismo
autoritário no Brasil, ambos na Revista
Brasileira de Filosofia, fascículos 99 e 103 respectivamente, Humanismo e cultura (1989) e Universidade, cultura e religião (1988)
na Revista Educação e Filosofia. As
comunicações e conferências em Congressos acadêmicos somam mais treze trabalhos
já publicados.”
Há
outras referências importantes sobre Tiago Lara no item que lhe dedicou Antônio
Paim em O estudo do pensamento filosófico
brasileiro (2. ed. de 1986) e o verbete do Dicionário Biobibliográfico dos Autores Brasileiros da Coleção Básica
Brasileira do Senado Federal (1999).
Como já foi assinalado, na
condição de (id., p. 361): “historiador da filosofia, Tiago não se limitou a
relatar a evolução do pensamento filosófico no ocidente. Ele fez também isso
com precisão e cuidado, atualizando e revisando seus textos em edições
sucessivas. No entanto, o projeto de Tiago foi muito mais ambicioso, ele
pretendeu relatar os caminhos da razão no ocidente, mostrando como essas
referências teóricas foram importantes nos acontecimentos humanos, porquanto
marcaram o modo como o homem se pensava em diferentes momentos de nossa
história.
Quando olhamos a cultura
ocidental contemporânea muitas vezes perdemos de vista a sua historicidade. Os
livros de Tiago nos recolocam no clima certo, mostram um pouco do processo
formativo que fez do ocidente o que ele é hoje, uma civilização baseada nos
ensinamentos cristãos, na organização jurídica romana e na compreensão racional
da vida principiada na Grécia Antiga. Ele explicou porque para a formação do
ocidente muito contribuíram a paidéia grega e a mensagem evangélica. Paidéia é
uma forma de sabedoria que dá sentido à existência e no mundo grego encontrou
na filosofia sua expressão mais vigorosa. A sabedoria evangélica também contém
um tipo de conhecimento especial, oferecendo elementos para organizar e ordenar
as ações humanas. Esses elementos foram combinados no principiar da história
desta parte do mundo que denominamos de ocidente cristão, cuidando o nosso
pensador de restringir suas considerações a uma parte do que foi elaborado pelo
espírito humano. O legado oriental, ele fez questão de indicar, não foi
examinado com maior cuidado.”
Como
pesquisador da filosofia brasileira fez sua dissertação de mestrado sobre Antônio
Pedro de Figueiredo. (id., p. 364): “Ao avaliar desse modo a filosofia
elaborada por Figueiredo, Tiago precisou o modo como o ecletismo aproximou-se
da mensagem cristã em nosso país. Ele também deixou claro que a solução
encontrada pelo ecletismo mostrou-se frágil quando levada para o terreno moral.
Melhor dizendo o tradicionalismo pretendeu fundamentar o que o ecletismo não
conseguiu: a moral social. Coube então ao tradicionalismo suprir-lhe as
deficiências”.
O estudo
sobre o tradicionalismo foi sua tese de doutoramento (id., p. 361/2): “Tiago
precisou as características assumidas pelo tradicionalismo em Pernambuco e, ao
fazê-lo, ajudou a entender o movimento. No seu entendimento, o tradicionalismo
pernambucano revelou-se pouco preocupado com os problemas sociais e econômicos,
concentrando sua atenção na reforma moral da sociedade conduzida pela Igreja.
Isso significava uma rejeição do projeto liberal de constituir uma ordem social
laica. De uma perspectiva filosófica aceitam as teses básicas dos
tradicionalistas europeus, especialmente as ideias tomistas. De uma ótica religioso-eclesial
mostram-se partidários incondicionais do Pontífice Romano e voltados para as
orientações de Roma. Para Tiago isso representa um desconhecimento do movimento
histórico, pois essa ordem não mais tinha meios de ser mantida. No campo
político negam a origem contratual da sociedade, entendem como imperfeita e
limitada toda autoridade humana, apostando na origem divina do poder.
A exata
localização histórica do movimento
foi feita como se segue: constitui-se o
tradicionalismo em Pernambuco (...) num movimento católico, leigo, conservador,
pós-eclético e pré-neo-escolástico (LARA, Tiago. O tradicionalismo católico em Pernambuco, Massangana,1988, p. 142).
Tiago foi
também um notável teólogo e deixou vários textos nesse campo. Para ele a
experiência de Deus é concreta, não é uma especulação pura, abstrata e teórica,
mas (id., p. 367): “nasce da vida humana concreta, das circunstâncias presentes
e no horizonte da cultura. Somos temporalidade e qualquer referência a Deus não
pode superar esse fio do qual somos tecidos. Por isso, Deus, por mais
transcendente que o possamos conceber, revela-se para nós na sofrida imanência
da vida dos povos e de cada um de nós.
As meditações
de Tiago sobre Deus revelam um compromisso com os altos ideais que seguem a
existência do homem e, nesse sentido, iluminam e dão visibilidade ao seu
trabalho de historiador da filosofia e de filósofo.
Pelo acima
indicado, os estudos de Tiago Lara constituem um capítulo importante de nossa
compreensão dos problemas suscitados pela filosofia brasileira e das soluções
que ela encontrou para eles. Essa assertiva é especialmente válida se nos
deparamos com o modo como foi apreciada a herança cristã, que é uma das
características fundamentais de nossa origem cultural.”
Uma grande perda.
ResponderExcluirSerá o vazio no campo filosófico.
ResponderExcluirUm estudioso, muita dedicação.
ResponderExcluirUma história de vida e dedicação.
ResponderExcluirGrande perda.
Sua vida continua em suas obras, seus pensamentos e estudos irão guiar outros discípulos, saí da vida, mas segue nos corações daqueles que tiverem o privilégio de conviver e saber de sua humidade e compremetimento com todos que estiveram juntos em sua caminhada terrena.
ResponderExcluirUm grande pensador, deixou uma grande contribuição ao estudo filosófico, partiu, mas deixou marcas, cumpriu sua missão.
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