terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Martin Buber por José Maurício de Carvalho.



O filósofo Martim Buber (1878-1965) viveu a maior parte da vida no século XX. Embora tenha o olhar do filósofo e formação intelectual vasta, viveu no espírito da fé judaica na qual foi criado. A formação filosófica e essa crença religiosa são o pano de fundo de seu pensamento, mas Buber deixa ver, em seus escritos, os problemas que marcam o século passado e a sensibilidade própria daqueles dias.
Logo ele procurou dar resposta aos problemas de seu tempo: Buber viveu os dias difíceis das Grandes Guerras, da perseguição nazista, dos campos de concentração, da criação da terra de Israel, da crise da ciência e da cultura. Martim Buber era austríaco de nascimento, nasceu em Viena, e experimentou a crise daqueles dias partilhando os dramas e dúvidas do mundo germânico. Os alemães perceberam singularmente a crise de civilização que atingiu o ocidente e que consolidou uma sociedade de massa, padronizada e superficial. Eles tinham um olhar e uma preocupação com a questão. Disso é exemplo o filósofo espanhol Ortega y Gasset que fez boa parte de sua formação filosófica na Alemanha e ali se envolveu com esses assuntos.
Ortega y Gasset dedicou, alguns anos depois, um cuidadoso estudo sobre a crise da cultura: A rebelião das massas. Em 1896, Martim Buber matriculou-se na Universidade de Viena para cursar Filosofia e História da Arte. Entre 1901-1904 cursou o doutorado em Filosofia na Universidade de Berlim. Em 1930 tornou-se professor honorário na Universidade de Frankfurt, cargo que abandonou com a subida de Adolf Hitler ao poder em 1933. Em 1938 transferiu-se para Jerusalém onde se tornou professor de Antropologia e Sociologia na Universidade Hebraica.
Como resumir as preocupações de Martim Buber? Elas parecem se desenhar em quatro eixos temáticos que se retroalimentam 1) um estudo fenomenológico do diálogo e do encontro tomados como legítimos problemas filosóficos; 2) um método hermenêutico que reconhece a relevância das lendas hassídicas para a compreensão do judaísmo; 3) uma metodologia histórica construída com o legado de Dilthey e Gadamer usado no estudo da bíblia (hebraica) e da história antiga; 4) uma abordagem filosófica dos problemas sociais (Sociologia, Antropologia, Linguística), que sem deixar de ser filosófica, isto é, sem renunciar à inspiração teórica e primitiva da filosofia ocidental serviu de base para pensar a missão dos povos e a vida em sociedade.
Esses quatro eixos trabalham juntos e se influenciam mutuamente. Para entender Buber é necessário articular os eixos como no livro recentemente publicado Martin Buber, a filosofia e outros escritos sobre o diálogo e a intersubjetividade.

https://www.youtube.com/watch?v=1zpNzR8oka0&fbclid=IwAR1DemQkXgfZPvyM2zhA6I3C6yt1OKQgNVFWf6LB8YKMUJe6gq0bnvjPHuc
https://www.youtube.com/watch?v=1zpNzR8oka0


6 comentários:

  1. É muito interessante.
    Aprendizagem.

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  2. A vida em sociedade?
    Missão dos povos?
    Esta difícil responder, como o artigo anterior somos massa, somos desejos e satisfeitos descartamos.

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    Respostas
    1. Concordo, tudo se tornou descartável, redes sociais não preenchem vazios e ausências.

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  3. Considero acréscimo ao conhecimento.
    Muito bom.

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  4. Crise de civilização, parece que continua, quem salvará este mundo.

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  5. Temos, com certeza, crise na cultura e de cultura.
    Mas como seria mudar este cenário com valores totalmente fora do pensamento filosófico.

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