sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Valores éticos cristãos. Selvino Antonio Malfatti

















O pontificado de Francisco sinalizou novos rumos para o catolicismo, tanto na maneira de pensar, como do agir e mesmo do sentir. No pensar propõe-se ao debate a cima da tradição. No agir abriu mão das parafernálias burocráticas e no sentir até se propõe a acolher os excluídos da grei. Isto marca novos tempos, um espírito de “aggiornamento” de João XXIII.
Estas atitudes de Francisco levaram à reflexão sobre a ética cristã. Para o catolicismo a ética está alicerçada no Absoluto. É Dele que ela emerge e é para Ele que ela tende. Este Absoluto é identificado com Deus. Mas não é nenhum deus abstrato, filosófico, “ex- intellecto”, mas um Deus identificável e identificado: o Deus cristão. O cristianismo deixa claro seu pensamento sobre a questão. É nele que repousa a ética cristã.
No entanto, isto não significa que tenhamos, nós cristãos, que assumir uma ética absoluta. Na vida prática, na convivência com nossos semelhantes, temos que ter outros princípios que supram as lacunas da ética absoluta. Por exemplo, a caridade é superior à justiça. Podemos ser caridosos sem sermos justos e vice-versa. Por isso, o cristão atual tem seus próprios princípios e sua ética, mas não postula impô-los aos demais.
Como diz um filosofo português, Eduardo Abranches do Soveral, os valores cristãos atualmente estão disseminados em escala universal. Já fazem parte da cultura de todos os povos. O principal deles: a valorização do Homem e da Mulher na sua dignidade, liberdade, igualdade, fraternidade e a justiça social com suas exigências. No entanto, pensa ele, os valores cristãos se descristianizaram tomando quase que vida autônoma. Existe na atualidade uma cultura de origem cristã, no entanto não se autoidentifica com o cristianismo. Ela impregna toda nossa sociedade pelo seu volume, opacidade, desumanização e fragilidade.
Há, atualmente, um valor peculiar da cultura cristã presente na sociedade. Trata-se do intelectual cristão que se apresenta como o mediador entre o homem de rua e a cultura, como criador desta mesma cultura e que assume uma posição declaradamente ideológica, com convicção e fundamentação. E como é este intelectual cristão? Quais suas características?
A primeira característica é de que seja limpo de coração, isto é, uma pessoa que vive com Deus, em estado de graça. Em segundo, que conheça o conteúdo dos Livros Sagrados e a Doutrina da Igreja e, finalmente, tenha uma visão prospectiva da cultura cristã genuína e primacial em oposição a outras culturas como a marxista, por exemplo. E quais as prospectivas cristãs mais salientes do intelectual leigo cristão?
O progresso. A ideia de progresso é de origem cristã, quando este é entendido como perfeição pessoal, sentido para História, crescimento indefinido de todas as atividades do homem, do universo em geral e dos seres vivos. Em síntese, Deus e Homem são os sujeitos da História.  
A pessoa humana. Cada homem é uma pessoa e não um indivíduo. Possui uma dignidade conferida pelo próprio criador e uma natureza assumida pela própria divindade.
A fraternidade dos homens. Os homens são irmãos por serem filhos do mesmo pai, que é Deus. Esta fraternidade é a origem de sua liberdade e igualdade relativamente de uns para com os outros.
Caridade. A caridade é pessoal, de coração para coração e não para com os homens em sentido universal. A caridade começa com os mais próximos – pais, irmãos, vizinhos, companheiros de trabalho etc. – e depois estende aos demais. Isso tem sentido como um Corpo Místico de Cristo. Sempre na situação concreta e não geral. Cada um seja um Cristo na situação concreta. “É professor? Seja Cristo como professor. É aluno? Seja Cristo como aluno. É empregado? Seja Cristo como empregado” Isso sem arrogância ou afetação e muito menos exigência. Sejas tu e aceite o que o outro quiser ser.

Esta é a ética do cristão atual.

10 comentários:

  1. Querido Doutor!
    O que escreveste para refletirmos é divino. Foi passado para nós leitores de uma forma tão compreensível a qualquer leigo, que só posso deixar registrado aqui meus parabéns,pois foi muito significante para meu aprendizado.Gostei demais do que acabei de ler.
    Um grande abraço
    Terezinha

    ResponderExcluir
  2. Uma verdadeira aula. Parabéns.

    ResponderExcluir
  3. Realmente um verdadeiro presente para todos seus leitores.

    ResponderExcluir
  4. Meu querido amigo
    Me encantei ao ler cada palavrinha de valores éticos cristãos, porque somos cristãos de fachada e muitas vezes esquecemos de vivenciar os ensinamentos de CRISTO. E aí colocaste viver no nosso dia,no trabalho,na família. Ser um professor cristão é dar a oportunidade do outro crescer,ajuda-lo a fazer o melhor para sua vida,ser família cristã é responsabilizar-se por seus filhos,ter tempo de mostrar-lhes caminhos pois,é na família que os jovens aprendem a amar se forem amados.

    ResponderExcluir
  5. O Papa Francisco trará novos ventos aos católicos com certeza.

    ResponderExcluir
  6. Acho que nos tornamos éticos quando nos colocamos no lugar do outo.

    ResponderExcluir
  7. A fraternidade dos homens. Os homens são irmãos por serem filhos do mesmo pai, que é Deus. Esta fraternidade é a origem de sua liberdade e igualdade relativamente de uns para com os outros. (Maravilha,não há mais nada para falar,disseste tudo)AB.

    ResponderExcluir
  8. Francisco será nosso resgate aos valores éticos e cristãos.

    ResponderExcluir
  9. Gostei,a ética será sempre nosso norte,para cristãos e aqueles que respeitam seus semelhantes.

    ResponderExcluir

Postagens mais vistas