sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PAI PRESENTE, O PRESENTE DO PAI. Selvino Antonio Malfatti.


















No próximo domingo, dia 14 de agosto, comemora-se no Brasil o Dia dos Pais. Certamente merece uma reflexão nesta data sobre esta pessoa peculiar do mundo de hoje. A primeira pergunta que se pode fazer é: atualmente ainda há espaço para a presença do pai numa família, quando o próprio conceito de família é objeto de debates. Pergunta-se: o pai tem um papel ou uma função específica e peculiar na família? Se hoje o gênero masculino pode até ser dispensado na constituição da família, então, o pai também pode ser descartável? Qual o sentido da paternidade atualmente?
Nas famílias anteriores da presente geração havia fronteiras sociais, laborais e mesmo jurídicas nitidamente demarcadas para homem, mulher e prole dentro da família. Cada um deles tinha um determinado papel social: o marido, em relação aos filhos era pai, do mesmo modo que a mulher era mãe. Entre si eram marido e esposa. Em relação à prole eram pais e a prole em relação ao homem e à mulher eram filhos. E a cada papel correspondiam direitos e deveres. Ao pai cabia principalmente o dever de prover a subsistência exercendo atividades profissionais fora da família e o direito de autoridade, Á mãe o dever dos trabalhos domésticos e o direito a uma autoridade coadjuvante do pai (olha que eu conto para teu pai!). Aos filhos cabia cumprir as ordens emanadas de ambos e direito ao abrigo da família. Era a família sociologicamente chamada de parental, constituída pelos pais, sogros, sogras, filhos, sobrinhos, primos e netos. Era um modelo de família que tinha como parâmetro a consangüinidade.
Neste modelo o pai era a figura central, investido de autoridade, podendo exigir obediência irrestrita dos filhos e em alguns casos até da esposa. (“Mulheres, sede submissas aos vossos maridos”, “Filhos, obedecei a vossos pais” e “maridos, amai vossas mulheres”) Caso sua autoridade não fosse respeitada era-lhe facultado, inclusive, usar a força para que fosse obedecido. Esta autoridade estendia-se aos parentes de menos idade como sobrinhos e netos, junto com seus pais.
E atualmente? A família encolheu em extensão, limitando-se praticamente ao núcleo de pais e filhos. A conjunção de dois gêneros também deixou de ser essencial, ao menos perante a lei. Há uma tendência a aceitar outros pontos de apoio, tal como a afetividade empática, sendo permitido até mesmo entre pessoas do mesmo sexo. Não significa que seja generalizado e muito menos definitivo, apenas tendências que são acolhidas pelo direito, como o reconhecimento de casamentos de homossexuais, os quais poderão constituir família. No entanto, em que pesem estas tendências, o núcleo padrão da família no ocidente continua sendo a família nuclear, conforme demonstram os institutos de pesquisa sociais, como o IBGE no Brasil.
As mudanças afetaram os papéis e as funções atribuídas aos atores dentro família, mormente as do pai? As transformações a cima mencionadas praticamente em nada influíram, mas outras foram decisivas. As pesquisas apontam para as mudanças de papéis da paternidade provocadas pelas mudanças das novas funções da esposa. Esta começou a trabalhar fora de casa, ter horários a cumprir, ombrear com o orçamento, ter participação decisiva no patrimônio familiar. A esposa-mãe invadiu a área do marido-pai. Para compensar houve um movimento inverso, isto é, o pai invadiu a área que antes era exclusivamente da mãe: o lar. O pai então, além das atividades profissionais, passou a exercer papéis domésticos, como cuidar da casa e tomar conta das crianças. Antes recebia as crianças “prontinhas” à noite, bastava dar-lhes a bênção. Agora tem que trocar e lavar fraldas, conversar e brincar com elas, passear, levar e trazer brinquedos, deixar as crianças arrumadinhas para quando a mamãe chegar. O pai então teve que “mãezar-se” ou mesmo “babanizar-se”. Suas atitudes também mudaram. O autoritarismo foi substituído pelo diálogo. A intolerância pela compreensão. O rigor pela negociação.  
No entanto, o pai dentro da família continua sendo a figura de balizamento do permitido e não permitido. Exige-se dele a delimitação de fronteiras. Agora sua autoridade não é mais física, mas moral. Deve exigir não pela força, mas pelo exemplo e convencimento. E isto o coloca numa posição paradoxal, pois, ao mesmo tempo deve exercer a autoridade de balizamento de condutas e praticar “o faz de conta” ou brincar de condutas. Ser padrão e exigir, mas também brincar. Em outras palavras, ser ao mesmo tempo pai, mãe e filho. Este é o modelo atual de Pai:  PRESENTE.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

GOOGLE – NOSSA MEMÓRIA. Selvino Antonio Malfatti.



Como aconteceu comigo, muitos se perguntam por que Sócrates não escreveu nada? Um homem com um cabedal de cultura como ele, com toda certeza, devia saber escrever. Platão, embora esteja com receio dos efeitos da escrita, deixou-nos um grande cabedal de obras escritas. Sócrates, ao contrário, não escreveu e o que dele sabemos é através da escrita de Platão. A posição de Platão, porém, deve-se a sua teoria do conhecimento que, para ele, conhecer era lembrar. Então, quanto mais lembrasse, mais conheceria. E a escrita faria o inverso, isto é, que as pessoas não precisassem lembrar.Nesse sentido a fala, o discurso, o diálogo (dia-logos – em direção ao saber) ou a maiêutica em Sócrates eram infinitamente superiores à escrita para eles. A escrita era um cadáver, uma realidade deturpada, petrificada.
No entanto, apesar de imperfeita, a escrita como memória externa, sobreviveu e revelou-se uma fonte inspiradora para o armazenamento de informações que possibilitam o avanço do conhecimento. Por mais que a memória pudesse “guardar”, não conseguiria preservar tudo. E a prova em contrário: tudo se perdeu dos povos que não deixaram registros por escrito e, se ficou alguma lembrança deles, foi através daquilo que os outros que escreveram deles. Além do mais, livros perdidos ( como a Poética de Aristóteles), nada ficou pois ninguém preservou na memória. Por isso, por mais imperfeito que seja o instrumento para preservação da memória- a escrita – ela desempenhou seu papel, bem ou mal, e preservou o conhecimento.
Atualmente a questão foi deslocada para outro extremo, como se constata pelos estudos da psicóloga pesquisadora, Betsy Sparrow. Ela procurou descobrir que efeitos a internet, ou mecanismos de busca, exercem sobre o cérebro. Conclui que o cérebro não se preocupa mais muito em reter informações, mas em saber onde estão, no Google, por exemplo. A memória interna deslocou-se para externa, fora do indivíduo. O cérebro, como uma massa plástica, adapta-se ao modo como é exigido. Se for exigido ele responde positivamente, se não, ele se encolhe e fica inativo. Professores de todos os níveis já perceberam que, nos trabalhos de pesquisa exigidos dos alunos, tem-se como resultado um Ctrl+C & Ctrl+V, ou, em outras palavras: tudo se copia, nada se cria. Buscados descontextualizados, aqui ou acolá, sem análise crítica.
Não é diversa a postura do autor do livro The Shallows, Nicholas Carr, que vê nas novas tecnologias de armazenagem de informações um perigo para o cérebro. Conforme ele, o perigo maior reside no fato de a internet descartar umas informações e armazenar outras. Com que critérios? A memória cerebral é importante por que pode associar, fazer conexões, reelaborar. Se algumas informações tiverem sido eliminadas, haverá prejuízos para os resultados.
Mas, em minha opinião, além dos problemas apontados acima há outro, muito grave e preocupante, que ronda nossa civilização atual. O que se escreve, está-se arquivando em programas que daqui a alguns anos serão obsoletos e ninguém mais conseguirá acessar. Quem de nós não tem aqueles disquetes quadrados com programas que não abrem mais? O mesmo acontecerá com CDs e DVDs, sem falar em pendrives. A própria memória interna do computador, baseada em programas, está sendo substituída a cada momento por modelos mais atualizados e o que está escrito neles está perdido para sempre. Estamos diante de um paradoxo: agora que praticamente podemos armazenar tudo, não conseguiremos no futuro ler nada. A projeção é de que nada ficará, pois tudo se tornará inacessível e indecifrável, como muitas escritas de povos do passado. Isso aconteceu com os fenícios, incas, maias, astecas e outros. Sobre nós as gerações futuras perguntarão:
- O que fizeram os que viveram nos séculos XX e XXI?
E responderão:
-NADA SABEMOS, OS ARQUIVOS DELES  SÃO INDECIFRÁVEIS. 


sexta-feira, 29 de julho de 2011

DIA DO COLONO – 25 DE JULHO. Selvino Antonio Malfatti

 

















Uma data marcante no Brasil é a comemoração do dia 25 de julho: Dia do Colono. No intuito de assinalar a importância da data, trago algumas considerações evidenciando o sentido que lhe foi emprestado, principalmente no Rio Grande do Sul. “Colono” é aquele trabalhador rural, de pequena propriedade, originário da imigração, mormente a italiana e alemã.
Difere, portanto, do sentido histórico, significando uma expansão territorial de um determinado país ou núcleo político autônomo. Nesse sentido eram as colônias de Atenas, na Magna Grécia. Do mesmo modo eram as colônias dos portugueses, espanhóis e ingleses e de outros povos na América, África, Ásia e Austrália. Os habitantes das novas terras criavam uma extensão de suas metrópoles e eram considerados cidadãos de seus países, embora chamados de colonos. Na verdade eles não saíam de seus territórios. Assim, os portugueses que vinham residir no Brasil, eles e seus descendentes, no período de Colônia, eram cidadãos portugueses, como aconteceu, por exemplo, com José Bonifácio, nascido no Brasil, mas cidadão português e ministro da coroa portuguesa.
No entanto, no Brasil, a comemoração do Dia do Colono não tem esta conotação. Os imigrantes italianos e alemães deixaram suas pátrias, saíram de seus territórios e vieram para outro país independente. Não eram colonos da Itália ou Alemanha, mas trabalhadores em território brasileiro. A associação de colonos deveu-se ao fato de o luso-brasileiro não se dedicar à agricultura como atividade principal. Desde suas origens, os lusos possuíam extensas porções territoriais nas quais cultivavam cana-de-açúcar, criação de gado e mais tarde café. O trabalho mais pesado era feito por escravos.
Com a iminência da abolição da escravatura, e depois com abolição, a mão de obra escasseou e era preciso repô-la. Recorreu-se, então, a atração de imigrantes, que passaram a trabalhar nas fazendas de café em São Paulo e no Rio Grande do Sul dedicaram-se à agricultura. Os de São Paulo eram contratados em regime de colonato, pois moravam nas fazendas, trabalhavam nelas e recebiam parte da produção ou mesmo a permissão de ter sua própria lavoura. Não eram proprietários. 

No Rio Grande do Sul, adquiriam terras do governo e dedicavam-se à cultura de produtos básicos como arroz, feijão, trigo e alguns cultivavam também parreirais. Como se vê, propriamente não são colonos, mas imigrantes. No entanto, popularmente são denominados de colonos e é neste sentido que se comemora a data.
Em pouco tempo, aquelas terras localizadas nas serras e várzeas, na 
metade norte do estado do Rio Grande do Sul, desprezadas pelos lusos, tornaram-se celeiros de produção agrícola.  E da produção agrícola, passaram para a agroindústria e desta para a indústria. A metade norte, que antes da imigração era a região mais pobre do Rio Grande, atualmente é a mais desenvolvida, evidenciando o acerto do projeto de imigração.
Da colonização italiana surgiram centros industriais  e agroindustriais como de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi.                                               
Da parte alemã destacam-se as áreas ocupadas e desenvolvidas pela agricultura ou pela indústria, o Vale do Rio dos Sinos, o Vale do Rio Taquari, Vale do Jacuí e boa parte do noroeste e centro do estado. Cidades como Santa Cruz, Lajeado, Estrela, Santa Rosa e dezenas de outras são exemplos de colonização alemã. Além das atividades dos colonos descendentes de italianos, os de origem alemã atuam também no turismo, como as cidades de Gramado e Canela.
Mais|: hoje destacam-se em praticamente todas as áreas do saber tanto nas ciências exatas como nas humanas. 
Abaixo, na íntegra o Decreto da Instituição do Dia do Colono

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA; faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica instituído o “Dia do Colono”, que será comemorado no dia 25 de julho de cada ano.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 5 de setembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.
A. COSTA E SILVA

 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

DEMISSÕES NOS TRANSPORTES - BINGOOOOO, DA DILMA! Selvino Antonio Malfatti.



Imagem:VEJA, 6/6/2011
























Desta vez foi fulminante. A presidente demitiu de imediato o Ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e mais três ocupantes de cargos dentro do ministério: do Dnit Luiz Antonio Pagot, o chefe do gabinete do ministro Mauro Barbosa e da Valec José Francisco das Neves, e mais tarde outros, por denúncias evidentes de corrupção.
No entanto, apesar desta atitude exemplar, parece-me que não irá estancar a sangria da corrupção no Brasil enquanto não for extinta a fonte que a alimenta: a fórmula para se obter maioria no Congresso. Basicamente consiste numa permuta de apoio partidário em troca de favores pecuniários.
Esta fórmula tem suas origens nas coligações para as eleições em nível nacional, estadual e municipal a partir de 1946, após a redemocratização do país depois de anos de ditadura getuliana. É inaugurada uma prática na qual os partidos não seguiam nenhuma coerência ideológica nas alianças de legenda, pautando-se apenas pela conveniência. Partidos ferrenhamente adversários num nível, em outros estavam coligados.
No período militar – da década de 60 até 80 – os partidos eram fictícios e controlados de cima para baixo. Pouco a pouco foram se tornando autônomos e conseguem a Reforma Partidária pela qual passam a ter vida própria. Com o fim do regime militar, e o retorno às eleições, a fórmula das coligações estendeu-se para dentro do Congresso como instrumento para  sustentação do executivo pelos partidos presentes no Congresso. O primeiro ensaio ocorreu no governo Fernando Collor de Melo, seguido por Sarney, cujas coligações tiveram apenas interesses casuísticos. Com Fernando Henrique Cardoso tomou outros rumos, isto é, era formada por uma base de partidos de ideologia minimamente afim, no caso de centro, tanto de direita como de esquerda. Mas foi com Lula que a fórmula do interesse material se consagrou: todo partido que apoiasse o governo teria em troca algum ganho político-econômico, não importando a ideologia.
O princípio da sustentação através do retorno pecuniário passa alimentar a estrutura de governo. Tudo gira em torno deste princípio. O interesse material satisfaz o apetite dos partidos e dos políticos. Se o governo não der, eles buscarão onde houver e de qualquer jeito. E esta é a fonte da corrupção, a caloria trans dos partidos, dos políticos e do governo.
Em regimes de exceção não dá para se falar em corrupção, pois a matéria prima já está corrompida. Não se pode dizer que o podre apodreceu. Com propriedade somente se pode falar em corrupção em regimes democráticos quando a esfera pública é da sociedade. 
Na democracia brasileira a raiz da corrupção reside na forma como se praticam as coligações. Não que elas sejam um mal em si. Elas têm guarida em politólogos e constitucionalistas como Arend Lijphart ,  Giovanni Sartori e Maurice Duverger.  O governo necessita de uma maioria no Congresso. Nos sistemas multipartidários, nos quais nenhum partido faz maioria absoluta, são necessárias alianças para viabilizar o governo. A questão está nos fundamentos, nos critérios adotados para as coligações. Podem estar assentadas num ideal espiritual ou num interesse material. Dessas duas formas puras derivam outras como minimamente afim, heterogeneidade e estritamente majoritária. 
No Brasil, a partir dos governos de Collor e Lula, optou-se pelo interesse material. Qualquer partido que queira dar apoio terá um retorno através de ministérios e cargos. Até aqui também nada de anormal. O problema começa quando, pela influência dos cargos, se desviam verbas públicas e privadas, superfaturam projetos, cobram-se propinas, fazem-se negociatas, carreando fortunas de origens obscuras, para pessoas e partidos, como aconteceu no ministério dos transportes.
Por isso, a medida teria sido completa se a presidente tivesse também dispensado o apoio do partido dos demitidos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

GRANDES ESTADISTAS BRASILEIROS, CHEFES DE ESTADO. Selvino Antonio Malfatti




Por ocasião das cerimônias fúnebres do ex-presidente Itamar Franco, (falecido em 2 e cremado em 4 de julho deste) a cujos atos fúnebres compareceram a presidente Dilma Rousseff e quatro ex-presidentes - Collor, Sarney, FHC e Lula - fui levado a refletir quais seriam os chefes de Estado brasileiros que mais se destacaram. De imediato deparei-me com a dificuldade de critérios para avaliá-los. Resolvi escolher três: respeito pelo sistema representativo, ações marcantes e legado significativo. Claro que são subjetivos, mas, como diria Max Weber, valores subjetivos podem resultar em conclusões objetivas. 
Evidentemente que as três características deverão ocorrer simultaneamente. Se um estadista fez coisas maravilhosas, no entanto não respeitou as regras do jogo democrático, estará descartado. Pode também ter seguido à risca a democracia, mas exerceu um governo opaco, também estará fora da lista. Dentre vários que preenchiam as condições, decidi escolher três como genuinamente enquadrados nos critérios acima apontados.
O primeiro, um chefe de Estado que governou o Brasil por quase 50 anos. Tomou posse pelo Parlamento brasileiro denominado Assembléia Geral Legislativa. Durante seu governo os dois maiores partidos políticos, liberal e conservador, se alternaram no poder praticamente a metade do tempo para cada um. Não houve nenhum golpe, os trâmites legislativos seguiam seu curso normal e espontâneo. O sistema parlamentarista - embora funcionasse com a nomeação a priori do Presidente do Conselho de ministros – funcionava representativamente e tinha legitimidade perante a sociedade.
As ações mais marcantes deste governo foram: a pacificação interna, superando-se as veleidades de independência regional. As fronteiras com os países vizinhos foram resolvidas, na maioria das vezes pacificamente. Paulatinamente as guerras foram banidas. O maior problema interno, a escravidão, estava sendo solucionado aos poucos (fim do tráfico, lei dos sexagenários, do ventre livre) e por fim foi abolida. Estas ações se tornaram duradouras, isto é, se perpetuaram e foram incorporadas ao patrimônio cultural da nação. Este estadista e chefe de Estado foi D. PEDRO II.

O segundo a marcar época foi eleito pelo voto direto. Recebeu a diplomação pelo Tribunal Superior Eleitoral e tomou posse no Congresso Nacional. Fez um governo alicerçado sobre a representação. Os partidos faziam o jogo político, a imprensa manifestava-se livremente e os cidadãos gozavam de todas as garantias constitucionais.
Sua ação mais significativa foi a industrialização do país e a construção de Brasília. Quanto à primeira despertou a confiança das empresas internacionais para investir no Brasil. Instalaram-se no país as montadoras Ford, Volkswagen, Willys e GM. Com isso deu o primeiro impulso para o Brasil sair da condição de economia rural para transformar-se em industrial e de serviços. A outra grande ação foi a mudança da capital, do Rio de Janeiro para Brasília. Através disso levou o povoamento ao interior e integração das regiões centro e Oeste. Este estadista foi JUSCELINO KUBITSCHEK.


O terceiro também foi eleito pelo voto direto por dois mandatos consecutivos e diplomado pela Justiça Eleitoral. A vida política foi marcada pela defesa do sistema representativo democrático. É um dos criadores de um dos maiores partidos brasileiros, juntou-se à campanha pelas "direta-já", foi senador, ministro das relações exteriores, ministro da fazenda e finalmente presidente.
Antes de sua posse como ministro o país encontrava-se numa situação econômica caótica devido ao problema inflacionário. Deparou-se com uma inflação de 1.100% por ano e já no ano seguinte passou a 2.500%.   Numerosas tentativas anteriormente haviam sido experimentadas para debelar a inflação:congelamento de preços, confisco de bens, prisões de empresários e outras. Tudo em vão. Como ministro da fazenda concebeu uma estratégia para enfrentar o problema. De imediato recebe o apoio do presidente Itamar Franco e implanta o Plano Real. A partir de então, a inflação cede e tem início o período de estabilidade econômica. Com certeza esta foi a maior ação enquanto ministro. Mais tarde, como Presidente, completou seu trabalho com as privatizações, tornando o Estado mais enxuto e funcional. Passaram para a iniciativa privada gigantes empresas estatais como Embraer, Telebras, Vale do Rio Doce. O estadista e chefe de Estado que levou adiante estas ações significativas e duradouras foi FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.

 A eles,  nosso  obrigado!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O SIGILO DOS ARQUIVOS SECRETOS – SEGREDO ETERNO? Selvino Antonio Malfatti.

           









A propósito do debate no Brasil da questão do Segredo dos Documentos Governamentais que, pelo novo projeto, mudariam para menos o tempo de sigilo. Alguns parlamentares se manifestaram contrários à diminuição do tempo de sigilo. Esta posição adversa ganhou força quando a própria presidente se manifestou oposta (depois abandonou a idéia), os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor, com status de ex-presidentes, e agora senadores. Esta oposição ganha peso por que Sarney, do PMDB, e Collor, do PDT, são da base aliada do governo e por isso, virtualmente teriam o apoio do PT e com isso maioria. Como colaboração trago algumas reflexões.
Praticamente todos os grandes mestres da ciência política, desde Aristóteles até nossos dias, asseveram que uma das condições sine qua non da democracia é a publicidade dos atos governamentais. Os clássicos modernos são ainda mais incisivos como: Locke (Inglaterra), Montesquieu (França), Weber (Alemanha), Bobbio (Itália), Pinheiro Ferreira (Portugal), Jefferson (Estados Unidos), Rui Barbosa (Brasil) e dezenas de outros. Conforme estes pensadores, a publicidade dos atos governamentais é a regra geral, a não publicidade é exceção.
Posto o princípio, é preciso adequá-lo à realidade, levando em conta conteúdo, tempo e extensão do segredo.
No Brasil os segredos do sigilo são divididos em 4 categorias: 1º Ultrassecreto. Seu conteúdo abrange a soberania nacional, integridade do território, operações militares, relações internacionais, projetos de pesquisa relacionados à defesa nacional e programas econômicos cuja divulgação poderia provocar danos à sociedade. A autoridade competente para defini-los é o Presidente e vice, ministros de estado, comandante das forças armadas e chefes de missões diplomáticas.  Atualmente tem uma duração de 30 anos, prorrogáveis ao infinito se assim a autoridade o desejar. Pelo novo projeto ficaria para 25 anos prorrogáveis só uma vez.
Secreto. Refere-se a sistemas, instalações, programas, projetos, planos ou operações de defesa nacional, assuntos diplomáticos e de inteligência, instalações estratégicas cujo conhecimento poderia provocar danos à sociedade e ao Estado. Quem os classifica são as autoridades com funções de direção, comando, chefia de assessoramento da administração pública federal.  Até o presente o prazo é de 20 anos, prorrogáveis uma vez. Pelo novo projeto seriam reduzidos para 15 anos sem prorrogação.
Confidencial. Informações que envolvem o poder executivo e as partes cujo conhecimento poderia frustrar os objetivos e planos e acarretar dano à sociedade e ao Estado. São responsáveis pela definição, servidores civis e militares da administração pública federal. Atualmente o prazo é de 10 anos, prorrogável uma vez. A nova proposta elimina o prazo.
Reservado. Informações que poderiam comprometer planos, operações e objetivos neles previstos ou referidos. É da competência dos servidores civis e militares da administração pública federal. Tem uma validade de 5 anos prorrogáveis uma vez. Pelo novo projeto continuam os 5 anos mas sem prorrogação.
Penso que só se deveria manter em sigilo o justificado para tal, os demais atos seriam publicados, tal qual é nos Estados Unidos. Além disso, pouco a pouco se tornará inócuo o segredo, pois o avanço da informática tornará todos os documentos públicos, haja vista o caso WikiLeaks. Terceiro, por que servirá de limite a possíveis desvios das autoridades. Que o diga Bill Clinton, de paquera na Casa Branca com a estagiária Mônica Samille Lewinsky, cujo processo foi parar na internet...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

CRACK - DROGA DA DESOLAÇÃO. Selvino Antonio Malfatti


Não sou da área da saúde, nem biólogo e muito menos químico. Dedico-me às ciências humanas, mais precisamente à sociologia e filosofia. No entanto, penso que o provérbio popular de que a saúde é demasiado importante para ser deixada só para médicos – adágio este citado por Mark G. Field, da Escola da Universidade de Harvard de Saúde Pública - tem sua razão de ser, desde que se enxergue o homem como um ser multidimensional.

E esta me parece deva ser a postura em relação ao problema (ou epidemia ou praga?) das drogas, mormente o crack. Por isso, quero me deter um momento neste. Sabemos que há nas ruas do Brasil um milhão de usuários, entre 15 a 25 anos. Esta droga basta ser experimentada uma só vez e o sujeito está indelevelmente viciado. A vontade de querê-la aloja-se no cérebro e ninguém mais consegue extirpá-la. A ânsia de fumar mais uma pedra é incontrolável. O usuário sempre vai querer mais uma, outra e outra mais. A fissura pela droga aumenta na medida em que a vontade for satisfeita. Um pesadelo infindável.
O tratamento é prolongado, caro e nada animador. Somente 10% conseguem manter-se na abstinência por que, conforme alguns, curar não cura mais. A vigilância se torna eterna. Como diria Dante Aleghieri na entrada do Inferno:  abandonai toda esperança vós que entrais (lasciate ogni speranza voi ch´entrate). 
E nada de impactante se faz. Isto significa que o Brasil está jogando no ralo seu maior potencial dos próximos anos: seres humanos inúteis a si mesmos e aos outros. Serão cidadãos que vão necessitar de tudo por que se tornarão totalmente incapacitados. Não estudarão, não terão profissão, não formarão famílias, não trabalharão. E o pior de tudo, é que, como diria Sartre, isoladamente será um esforço inútil da sociedade e de si mesmos. Como mortos-vivos, carregam seu próprio corpo, perambulando nos lares e ruas, roubando e destruindo tudo o que encontram pela frente para saciar o vício. Destroem famílias, matam seus próprios pais ou irmãos, cidadãos inocentes. É uma guerra “sem reféns”. E o pior, neste cenário, tudo o que for feito por si sós, em termos de esperança, muito pouco valerá. 
O crack é uma guerra que o Brasil – e outros países – enfrenta. Numa guerra as divergências políticas, religiosas, científicas, educacionais devem ceder lugar à união. É preciso deixar de lado picuinhas e se focar no principal. E o principal são nossos jovens dizimados pela pior de todas as drogas, a cocaína em pedra, fumada em cachimbos de fabricação caseira.
Mas o que fazer? Não é fácil, mas muitas vezes de onde menos se espera pode vir uma sugestão luminosa. A minha é esta. Convido outros a apresentarem sugestões. É preciso organizar um grupo – tarefa, nos moldes de uma operação de guerra, fechando todos os espaços físicos, sociais, políticos e jurídicos. A presidência (deve ser a presidência para haver legitimidade e respeitabilidade) nomeará um coordenador nacional. Este instará junto aos governos estaduais e distrito federal para que os governadores façam o mesmo que a presidência. Os coordenadores estaduais se encarregarão para que haja coordenadores municipais. A estes coordenadores das três esferas se aglutinarão autoridades e lideranças – federais, estaduais e municipais - para uma ação conjunta terapêutica, educativa, preventiva e repressiva à cocaína e ao crack, envolvendo usuários e distribuidores. É possível? Sim. Já há experiências com relativo sucesso. Por que não aperfeiçoá-las?     

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