sexta-feira, 13 de novembro de 2015

JUSTO MEIO ENTRE A XENOFOBIA E A SUBMISSÃO CULTURAL. José Maurício de Carvalho





Ontem bateu à porta de casa uma simpática menina vestida de bruxa. Ao ser atendida soltou logo: trick or treat. Consegui entender que era a festa de Halloween. De início fiquei surpreso com a simpática bruxinha. Preferi dar os doces já que não conhecia seu poder de fazer travessuras. Depois comecei a pensar em quantas vezes em minha vida passei por situação semelhante nesta antes cristã cidade de São João del-Rei. Não foi preciso muito tempo para concluir que em meus quase sessenta anos de vida jamais passei pessoalmente por semelhante situação. Vi coisas assim nos filmes norte americanos. As crianças daqui se fantasiavam de anjos e seguiam as procissões durante o ano (31 de outubro é o dia de Nossa Senhora do Rosário) ou de índios, odaliscas, piratas e personagens como esses no carnaval.

E o que é a festa de Halloween da simpática bruxinha? É uma comemoração de origem celta com mais ou menos 2500 anos de existência. Segundo a crença celta, em 31 de outubro, os espíritos saem do cemitério para se encarnar nos vivos e voltar a vida, ocupando um corpo que não lhes pertence. Tem origem celta os britânicos, norte americanos e canadenses. Pois bem, conta a lenda que para assustar esses espíritos invasores (e desocupados do além) os celtas decoravam as casas com o que acreditavam seria capaz de espantar essas almas penadas: ossos, caveiras, abóboras enfeitas com ossos e/ou representando figuras assustadoras. As crianças entravam na festa se fantasiando de bruxas, dráculas e outras coisinhas semelhantes com o mesmo propósito de espantar os espíritos vagantes. Como festa pagã jamais entrou na Europa católica, sendo as pessoas acusadas de bruxaria mortas nas fogueiras. Foi um triste capítulo do catolicismo medieval a queima das bruxas, espetáculo de ignorância que não pode se repetir. Explica,contudo, porque a festa não chegou a Europa continental e nem em suas colônias, pois representavam crenças contrárias aos ensinamentos das igrejas cristãs. De todas elas. Porém, sobreviveu entre os povos de origem celta, apesar de se converterem ao cristianismo. Ficou como parte do folclore local, coisas de esquizofrenia cultural, que também ocorre em outros povos. No caso, a festa é mais comemorada nos Estados Unidos do que entre outros países de origem celta.

Nesses últimos anos, como forma de difundir a dominação cultural norte- americana, os cursinhos de inglês promovem entre seus alunos essa brincadeira macabra que nada tem a ver com a tradição cultural de nosso país e/ou com nossas crenças. Na internet houve uma reação tímida às comemorações do Halloween com referência ao dia do Saci. De fato 31 de outubro é o dia do Saci Perere, aquele moleque travesso criado pelo imaginário das tribos indígenas do sul do Brasil, que acabou sendo representado como negro, com gorrinho vermelho e cachimbo. Na transformação que sofreu o Saci perdeu uma perna jogando capoeira. O Saci é a encarnação do menino travesso que se diverte com animais e pessoas: queima o feijão da cozinheira, esconde objetos pelas casas, assusta crianças e animais, etc.

Achei criativa a lembrança do Saci, mas o foco, parece-me, deva ser outro. Não se trata de recusar tudo o que vem de fora, seria xenofobia. Nem queimar bruxas, seria fazer piada com um triste passado de que devemos pedir perdão. Porém é preciso receber os elementos culturais importados com crítica. Dos americanos, por exemplo, podemos aprender a limpeza, o amor ao trabalho, a seriedade nos compromissos, a  cidadania, o respeito aos símbolos nacionais. Seria ótimo. Eles têm também filósofos como Ralph Waldo Emerson, Ernst Nagel, Eric Voegelin, John Rawls e escritores criativos como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Trumam Capote e John Hersey. Todos merecem ser lidos e estudados. Há também músicos e cantores de talentos como Nat King Cole, Whitney Houston e Sinatra que podemos apreciar. Nesse sentido, conclamo o cursinhos de língua inglesa de nosso país a divulgar essa face universal da cultura americana, além da língua inglesa, que é importante veículo de comunicação. Universal é aquilo que atinge o mais alto e nobre do humano, para além da circunstância em que foi produzido. Quanto a festa de Halloween melhor deixar os espíritos vagantes dos celtas para lá. Temos coisas mais interessantes para aprender e viver.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A INVERSÃO DO REAL E O VIRTUAL. Selvino Antonio Malfatti




No transcurso dos tempos houve uma contraposição entre imaginação e o real, entre a ficção e o real e atualmente entre o virtual e o real. A tendência atual é de confundir o real e o virtual. O real tornou-se diáfano e o irreal concreto.
Você pode estar na multidão e estar só. Não é apenas anônimo, mas literalmente só. E, ao contrário, sózinho e imerso num mundo virtual.. Neste momento, por exemplo, estou só em meu gabinete de trabalho. Eu e uma máquina. Esta está conectada à rede de internet. Posso falar com quem eu quero em qualquer parte do mundo. E vice-versa, os outros podem falar comigo. Mas se estou no meio da multidão, desprovido desta tecnologia, estou só. Num coletivo, ônibus, metrô, ninguém fala com ninguém, apenas olham para as mãos e movimentam os dedos. Pode-se estar em casa com a família e, no entanto, estar só. Se estiver a milhares de quilômetros dela pode estar entre os familiares e conversar. Vive-se um mundo paralelo, um real e outro fictício, mas que é também real. Vive-se um mundo imaginário onde todos se comunicam, mas ninguém se reconhece.
A questão do real e virtual. Alguém pode dizer que tem um milhão de dólares. Mas onde está? Se acessar sua conta você verá que tem este valorconsta, embora ele concretamente não exista. O real tornou-se irreal e o irreal, real. O que não existe, existe e o que existe não existe. O espaço que necessariamente as coisas ocupavam, desapareceu e emergiu outro que antes era irreal, mas que agora é virtual e real.
O mesmo se dá com o tempo. Antes se falava em segundos, minutos, horas, anos, séculos. Agora um século é menor que um milésimo de segundo. A recriação do big bang entre França e Suíça demonstra que o tempo e o espaço praticamente foram neutralizados ou identificados. Large Hadron Collider - LHC) do CERN, é o maior acelerador de partículas e o de maior energia existente do mundo. Seu principal objetivo é obter dados sobre colisões de feixes de partículas, tanto de prótons a uma energia de 7 TeV (1,12 microjoules) por partícula, ou núcleos de chumbo a energia de 574 TeV (92,0 microjoules) por núcleo. O que acontecerá entre dois lugares em tempos diferentes?  Serão praticamente simultâneos e no mesmo local.
O virtual tornou o nada real. Se for ao mercado e comprar algo você não se dá nada em troca do que comprou. Apenas digita-se algo e pronto. E muitas vezes você compra sem comprar nada. Você adquire uma conta na internet, não existe nada concretamente. No entanto, aquilo que não existe, existe realmente. Pode trocar coisas por nada, nada por coisas e nada por nada.
Isso tudo parece sem importância. Mas vejamos as consequências. As categorias do saber na prática deixaram de existir ou de nada valem. A categoria de quantidade não existe mais a quantidade. Ela se esfumeou. É apenas um valor virtual, que existe e não existe. Qual a unidade de referência? Qual o parâmetro de um, vários, todos? Simplesmente desapareceram. O um é igual ao todo e vice-versa.
Onde está a qualidade? Aquela que aponta para a realidade, negação, limitação? Se o real é igual ao virtual, ao irreal, onde colocar o suporte do que é real ou a imaginação? Nunca tenho certeza de que algo é ou não é, pois ele pode ser e não ser ao mesmo tempo. Qual o parâmetro para o limite? Se não há critério para início e nem fim, como se pode saber o limite?
E quanto à relação? O que é essencial e o que é acidente? Quem é causa e quem é causado? O mundo virtual é a substância e o real acidente? Ou vice-versa? Em valores pecuniários ou bem realistas: que é mais importante: o montante mostrado pela internet ou as cédulas em caixa? E a relação entre ambos? Como influencia o virtual, que se tornou real, e o real, que se tornou virtual? Como posso saber em que dimensão eu estou? Na verdade parece o mundo dos mortos invadiu o dos vivos e trocaram de posições: mortos e vivos.
E por fim, a modalidade, isto é o que é possível e o que não é. Se eu estou na esfera da existência real ou virtual. Uma instituição financeira só reconhece meu número, senha, montante, débito, crédito. Eu concreto deixei de existir. Passei do real para o virtual. Sou apenas um valor atribuído. Para ser real novamente tenho que exibir o valor virtual.
E o moral, o ético o que são? Qual as relações, referências no qual se apoiam?





sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ÉTICA CRISTÃ. José Mauricio de Carvalho (organização)




A ética é uma disciplina filosófica e sua origem histórica remonta à Grécia, sendo ali a contribuição mais clara o livro “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles. Este fez uma análise racional dos costumes das cidades - estados da antiga Grécia e assim, a ética consolidou-se na tradição ocidental, como reflexão racional sobre os costumes aceitos, considerados adequados e justos para promover a felicidade. O modelo ético aristotélico consolida-se dissociando se da política, o que não fora feito na filosofia platônica. Aristóteles valoriza a virtude para ser feliz, o que equivalia, para ele, ser bom cidadão na polis. A tradição ética, herdada dos gregos, estabeleceu um diálogo com a judaico-cristã, que no início da Idade Média já se tomara referência para o homem europeu. A moralidade judaica nasceu associada à religião e foi delineada no Pentateuco, no Velho Testamento. Sua base é o decálogo mosaico cujo registro remonta ao século VI ou V a. C. depois da volta do exílio na Babilônia.
Conforme lembra Jaspers na Introdução ao pensamento filosófico, o Decálogo é "maravilha de simplicidade para todos os tempos [...] pois, é de uma vez só revelado e capaz de convencer o homem enquanto homem" .
Conta a Bíblia Judaica que um pouco antes de 1200 a. C., um judeu criado na corte do faraó, de nome Moisés, liderou um grupo de escravos na fuga do Egito. O grupo de libertos entrou no deserto em busca de uma nova terra, para viver e a eles outras tribos nômades associaram-se nessa fé e esperança comum. Acreditavam que o Deus que os tirara do Egito lhes daria uma terra livre de dominação. Esse era Um Deus diferente dos encontrados na região, um DEUS vivo e poderoso que caminhava junto com o povo e ouvia seu clamor.
Propunha-lhes, em contrapartida, uma forma de viver sem a qual seria impossível sobreviver no deserto, e menos ainda organizar-se como povo na terra da esperança.
Ao conceder-lhes a liberdade política e lhes oferecer uma nova vida, DEUS deu-lhes regras capazes de assegurar a liberdade íntima e uma vida socialmente organizada. Independente de compartilhar a fé desse grupo, a caminhada pelo deserto e a instalação na nova terra somente foi possível porque os se submeteram à autoridade de Moisés e as regras que ele lhes deu em nome de Deus. E Moisés apresentou a regra para viver em grupo, uma regra em mandamentos também encontrados entre outros povos da região, mas não de forma tão simples e completa. Como não acreditar que aquela síntese proviesse diretamente do Deus poderoso que estava realizando o extraordinário prodígio de libertar o povo de um reino poderoso e levá-Io a salvo pelo deserto?
Assim entenderam os que seguiam Moisés. Eles tomaram a sério o código mosaico embora as regras pudessem parecer um código banal ou uma síntese
superficial. A história revelou que as regras não eram banais, o seu uso mostrou-se uma orientação maravilhosa para viver em sociedade. Em nossa cultura, distinguimos, portanto, duas tradições, a grega e a judaico-cristã, cada qual com seu propósito, mas que se entrecruzaram na formação da cultura ocidental. O cristianismo foi quem primeiro aproximou a herança grega da tradição judaica e abriu espaço para um diálogo entre a vida religiosa e filosófica. Contudo, não podemos entender que enquanto disciplina filosófica a ética esteja na dependência da religião, pois seu desenvolvimento seguirá caminho autônomo. O que se quer dizer é que os valores cristãos influíram na ética filosófica e na base da cultura ocidental, embora a tradição filosófica tenha se mantido autônoma.
O que foi dito no parágrafo anterior nos coloca diante de dois
aspectos fundamentais presentes nesse livro. De um lado, a ética filosófica, tem tradição própria e tem objetivos diversos da ética judaico-cristã. De outro, a última também possui história própria, mas elementos das duas tradições
se juntam na formação da chamada cultura ocidental. 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

CORRUPÇÃO POLÍTICA NO BRASIL E ITÁLIA. Selvino Antonio Malfatti


Sempre me convenço mais que há uma similaridade entre a corrupção política italiana, exposta a partir de 1990, e a corrupção política brasileira, esta, vindo a público a partir das denúncias de Roberto Jefferson, em 2005. Na Itália a ação foi deflagrada após a prisão de Mario Chiesa. Ambas têm muitos pontos em comum e, claro, outros divergentes. Comuns é o sistema multipartidário e diverso o sistema de governo. Na Itália, parlamentarismo; no Brasil, presidencialismo. Uma das características mais marcantes nos dois casos é o envolvimento de membros de quase todos os partidos. Vejamos.

1.    O sistema de poder italiano até a década de Noventa era multipartidário.  Um partido com maioria simples, coligado com outros partidos formava o governo. Faziam-se as eleições, o partido conquistava a maioria relativa, o Presidente da República nomeava o Presidente do Conselho e este deveria fazer as coligações para apresentar um ministério com a confiança das duas câmaras. O eixo da política italiana girava em torno do partido, que até então compunha um governo num sistema de coligações. O partido de liderança, na Itália, era a Democracia Cristã.

2. O sistema político brasileiro também é multipartidário, com um partido de maioria simples que necessita coligar-se com outros partidos para conseguir maioria no Parlamento. O eixo da política brasileira gira em torno de um partido com suas coligações. Até aí nada demais. O problema começa a emergir tanto lá como cá com adoção do critério das coligações. Isto é, quando o critério passa a ser pecuniário que pode ser em espécie ou benefícios como ministérios, cargos, sinecuras e outros. O partido governo governista, no Brasil, é o Partido dos Trabalhadores.

3. A partir de Noventa na Itália emergem denúncias de corrupções. As tentativas para sanar eram sistematicamente neutralizadas pelos parlamentares. No Brasil ocorreu a mesma coisa. Até se ensaiou Comissões Parlamentares de Inquérito, mas a maioria deu em nada.

4. Na Itália o volume de denúncias foi colossal. Os crimes de Tangentopoli ou Mani Pulite podem ser classificados sob vários critérios. Seguimos o critério de Luca Ricolfi . Conforme este autor, as acusações de crimes podiam ser classificados em a) abuso de poder, b) econômico-fiscais e patrimônio, c) potencialmente de mera transgressão, d) Comportamentos violentos ( atentados, homicídios, seqüestro de pessoas),  e) associações ( mafioso, delinqüente, subversiva, militar, partido fascista), f) Opinião e informação ( revelações de segredos de ofício, instigação a desobediência às leis, difamação, vilipêndio de instituições, apologia ao fascismo, e outros),  g) Rixa e conflito, h) outros ( danos efetivos, comportamentos dolosos, atos provocativos).   Um sintético inventário dos inquéritos judiciais nos levaria a nada menos que 914 processos, envolvendo 179 tipos de crimes. Dentre estes, os mais citados foram corrupção inerente ao cargo ( 165), extorsão ( 167), divulgação de notícias falsas ou tendenciosas ( 170), falsidade ideológica, de informação e escrita  ( somadas as três:  511), Inobservância de ordens de autoridades ( 179), ameaças obrigando a cometer crime ( 169), acordo entre contribuintes para o não pagamento de impostos ( 162), atentados ( 156), homicídios ( 75),  enfim uma infinidade de acusações.   

5. No Brasil a situação é praticamente idêntica. Os partidos, uns mais outros menos, engalfinhara-se na luta por verbas O estopim tem início quando um funcionário dos Correios é flagrado recebendo propina. Desde então, até o presente, veio a público uma dezena de casos semelhantes. Os de maior repercussão foram acusações de crimes envolvendo parentes do Presidente Luís Inácio Lula da Silva - os denominados casos Lulinha e caso Vavá -, o saque de Roberto Marques - assessor e amigo do ministro José Dirceu -, Paulo Okamotto - pagador de contas do Presidente .- as movimentações milionárias em paraísos fiscais do publicitário Duda Mendonça, a violação de privacidade e gestão fraudulenta do ministro Antonio Palocci, as ações de Henrique Meirelles tentando liquidar os bancos Mercantil e Econômico, a duvidosa intervenção do Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos na tentativa de encobrir a violação do sigilo bancário por parte do ministro Antonio Palocci, a concordância da nacionalização dos bens da Petrobrás na Bolívia por parte do executivo brasileiro, as propinas recebidas através do Dossiê Dantas, as Comissões Parlamentares de Inquérito, sem falar no assassinato ainda não elucidado do prefeito de Sento André, Celso Daniel, e na renúncia do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (Carneiro, 2006). Comissões Parlamentares de Inquérito se multiplicam, atualmente já passam de uma dezena. Tiveram início com as dos Bingos, depois dos Correios, em seguida com a do Mensalão e continuaram com a da Imigração Ilegal, da Terra, das Armas, da 8iopirataria e do Extermínio do Nordeste. E novas estão surgindo, como a da Anatel e das Empresas de Telecomunicações, a do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, a que trata do Registro Nacional de Veículos Automotores - Renavam, CPI das Sanguessugas e outras. Atualmente a maior ação na justiça é o Lava-Jato que envolve o núcleo do poder, como o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e atual presidente Dilma Rousseff, além de deputados, senadores e políticos de primeiro escalão.

6. Tanto na Itália como no Brasil as tentativas para estancar a sangria da corrupção eram neutralizadas pelos próprios parlamentares. O efetivo julgamento e condenação dos acusados somente ocorrem quando se iniciam os processos judiciais processando políticos de liderança nacional de envolvimento com o mundo da criminalidade, da corrupção, do tráfico de influência e do crime organizado levando-os à prisão.

7. A situação atual, na Itália, praticamente o processo está concluído e no Brasil está em andamento.


sábado, 17 de outubro de 2015

Relacionando. José Maurício de Carfvalho




Aprendemos a lidar com o mundo a partir da experiência que formamos dele. O modo como o mundo aparece para mim é a forma que ele parece verdadeiramente ter. Nós, modernos ocidentais, aprendemos a tratar as coisas dessa forma ou a acreditar que assim é. O mundo parece ser algo para mim. Acabamos convencidos de que nossa forma de entender o mundo o representa bem. Acreditamos nisso. Uma forma que vai além da percepção individual e tem elementos objetivos e compartilhados. Esse modo de pensar foi uma construção histórica.
Os historiadores do pensamento ocidental encontram a raiz da formação da consciência subjetiva ou subjetividade no final da Renascença. O filósofo francês René Descartes foi quem conseguiu expressar o que o homem do seu tempo vislumbrava, tudo quando via, tudo quanto sentia, tudo aquilo que ouvia e que chegava a sujeito não era simples exterioridade, como se pensou durante séculos. De fato, muitas gerações que se sucederam na história, desde os tempos antigos até o século XVII imaginavam que assim era. Parecia-lhes que  as coisas existiam fora de nós e de alguma forma vinham para dentro de nós. Descartes mostrou que era problemático ter alguma certeza se ficássemos em tal entendimento. O processo podia não acabar bem e o mundo não se mostrar adequadamente. Então Descartes fez da consciência pessoal o lugar da certeza. Enquanto o homem antigo estava voltado para fora, Descartes passa a tratar da pura intimidade como o espaço da certeza. Penso, e, no mais íntimo de mim, descubro-me como ser no mundo. E como ser no mundo posso me relacionar com as coisas e com as outras consciências.
Essa descoberta extraordinária reorganizou o modo como tratamos as coisas e os outros. Porém, essa descoberta maravilhosa, esse ponto de transformação na compreensão da realidade, que não pode ser desconsiderada depois de descoberta, acabou levando a  exageros pelas gerações que seguiram Descartes. O próprio corpo já não era algo que podia ser pensado como outro, o que se sabe dele é uma ideia, uma representação do que ele verdadeiramente é. Saber como essa consciência forma a compreensão de si e das coisas e o modo como lida com o mundo ocupou gerações de pensadores. E pelo processo de exageração do que encanta porque é nos mostra o que é maravilhoso, a própria vida e tudo o que nos rodeia se reduziu-se a pensamento. Descartes não entende que o mundo pode enriquecer a consciência, ao contrário, ela fica isolada. E o resultado do isolamento é a solidão, adquire-se consciência da singularidade ontológica, isto é, de sermos únicos e diferentes de tudo.
Se essa descoberta nos legou grandes coisas, se aprendemos que nosso saber do mundo refere-se ao nosso próprio modo de conhecê-lo e lidar com ele, se a experiência da solidão ontológica de alguma forma parece válida hoje em dia, o homem moderno também aprendeu que não podia reduzir o mundo aos conteúdos da consciência. E esse processo e as relações que ele contém tem muitas implicações e capítulos. Não é preciso descrevê-lo detalhadamente. Basta registrar que, de todos os modos, esse grande eu que tanto cresceu até se tornar Absoluto, no idealismo de Hegel, teve que ser reduzido a sua real dimensão pelos filósofos que o sucederam. Somos um mundo, experimentamos o entorno e o colocamos na borda do eu. Vamos nos abrindo e descobrindo que aquilo que existe não cabe no que pensamos. Contudo, isso que está além da consciência subjetiva nunca se revela integralmente a ela, porque tem aspectos que a ultrapassam, embora apareçam como parte da consciência.
Estamos aprendendo a conviver com isso, o mundo parece algo para nós e somente o entendemos assim, mas ele tem aspectos que não se limitam à fenomenalidade da consciência, tem algo que vai além dela.
E entre muitas coisas que ultrapassam o que pensamos, que está além do que imaginamos, está o outro. Este outro que é mais do que somos capazes de pensar, que nunca se enquadra no que esperamos. Contudo, esse outro sujeito não é um absolutamente outro, como é a matéria em sua composição íntima. A matéria  escapa a nossa apreensão, embora possamos dela ter uma representação. Esse outro que não sou eu, mas que tem algo comum comigo pode me ensinar muitas coisas.
Quando viemos ao mundo integramos uma comunidade, nascemos numa família, pertencemos a uma sociedade, isto é, nascemos nos relacionando. Logo na infância muitos de nós experimentam o desagradável aperto nas bochechas, especialmente se são vermelhas e redondinhas. É nossa entrada na sociedade, o aperto na bochecha é a forma moderna de iniciação social. É o outro que emerge para apertá-la como sinal de nosso reconhecimento com membros de um grupo. É o outro que também presenteia, que sorri, que afaga, que se alegra com nossas peraltices.
À medida que crescemos os relacionamentos ganham significado. Os outros deixam de ser fonte de satisfação ou insatisfação, classificados conforme aliviem nossas necessidades, nos distraiam ou aborreçam. Os outros têm nome, estabelecem relações e ensinam a lidar com o entorno. Aprendemos a nomear as coisas, aprendemos a pensar com o grupo, aprendemos a usar as referências linguísticas da sociedade para descrever o que se passa conosco e a nossa volta.
A descoberta do outro é momento fundamental da nossa relação com o mundo. Descobrimos que ele nem sempre responde nossas expectativas, nem sempre faz o que esperamos e muitas vezes faz o que não entendemos. O outro é liberdade e ação, ele é diferente das coisas que funcionam com regularidade. Se ligamos um computador ele oferece os programas instalados, os relógios marcam as horas, a lâmpada se acende quando apertamos o interruptor e o filtro purifica a água. Se essas coisas não funcionam como delas se espera é porque seu mecanismo se corrompeu. No entanto, o outro não é assim, ele pode fazer algo diferente de nossas expectativas sem se ter corrompido. Quão difícil é lidar com isso que somos no outro, como é difícil aprender que os outros também têm um roteiro singular de existência. Aprendemos a chamar isso de liberdade, uma experiência que também vivo.
E assim, quando nos distanciamos da relação simbiótica com os pais e adquirimos autonomia, descobrimos que esse outro não atrapalha nossa existência com sua liberdade, ao contrário, ele ajuda a me conhecer. Ele me ensina a ter paciência, pede que supere o meu egoísmo e permite que eu construa minha singularidade nesses relacionamentos.
Esse outro é sexuado, ele é homem e mulher. Refiro-me apenas ao modo como ele se sente e se apresenta para não entrar na desnecessária polêmica da homossexualidade, que nada muda no que aqui falamos. É que homens e mulheres, embora tenham papéis sociais que se definiram no desenvolvimento das sociedades, adquiriram comportamentos singulares que lhes parecem naturais. Assim é o capricho feminino na ornamentação do corpo e do lar, a dedicação da mulher aos filhos, ou o esforço masculino de desenvolvimento da técnica e controle do mundo. Pois bem, não interessa tratar dessas relações como subordinação ou exploração, que ocorreram em períodos históricos definidos, mas realçar que no encontro com esse  outro vive-se a maravilhosa experiência do amor. Essa é uma das mais importantes dimensões do relacionamento, a descoberta do outro como objeto de amor.
Com o amado ou amada surge uma comunidade de afetos, desejos, projetos e sonhos, com ele ou ela a vida ganha gosto e alegria. Nos últimos anos esse núcleo central de amor social vem mudando de perfil, mas não importa as transformações pelas quais passa a família. Ela pode ter menor número de filhos, os parceiros podem muito se preocupar com o desenvolvimento pessoal e profissional, eles podem ter filhos de outras relações, se viverem uma comunidade de amor, o amado ou amada oferecerá as mais importantes experiências humanas de tolerância, dedicação e entrega. E há ainda a alegria dos filhos que surgem desse amor, esses outros que não são extensão de nós, nem de nossos projetos, mas que não deixam de ser uma parte de nós diferente de nós. Os filhos ensinam melhor que todas as outras lições da vida, que os relacionamentos humanos não são completamente estranhos, embora não se limitem ao que pensamos que sejam. O amor aos filhos é um bom começo do amor que podemos desenvolver para com os outros homens. Jesus disse que mesmo quem pratica o mal consegue dar boas coisas aos filhos. E assim é, com os filhos é possível fazer boa experiência de amor.
E as relações familiares trazem a presença desse outro. Se seus desejos podem entrar em conflito com os meus, é esse outro o que mais profundamente muda a minha existência e o rumo dos meus instintos. Ele não é só quem integra minha família, ele forma comigo uma comunidade de destino. Ele constrói páginas de futuro quando juntos escolhemos o devir do nosso grupo. Ele permite viver a experiência da transcendência, só possível porque partilhamos uma humanidade comum. Podemos construir relacionamentos concretos, pessoais e diretos que nos mantenham em nosso sentido pessoal, sem nos fechar egoisticamente em nós mesmos.
E entre os outros que existem no mundo pode-se descobrir um Outro extraordinário. Aprendemos como sociedade a chamá-lo Deus (não importa a forma de entendê-lo) porque Ele não é como os homens e mulheres que conhecemos. Contudo, a experiência bíblica e nossa razão mostra que somente chegamos a esse grande Outro, através dos homens e mulheres que encontramos.Talvez Deus seja, como a matéria, um verdadeiramente Outro, porque nossas semelhanças são insignificantes dada a sua transcendência.
Os relacionamentos humanos possuem muitas dimensões, a jurídica, a política e a esportiva, por exemplo. Contudo, é a experiência de amor que dá às relações pessoais sua realidade mais alta. Porque o amor rompe com as regras escritas e acordadas para facilitar a vida, o amor revoluciona os relacionamentos como revoluciona as regras. Por isso, Jesus de Nazaré foi rejeitado na sua sociedade porque seu amor aos outros não cabia nas regras que os homens criaram para viver e se sentir confortáveis.




sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A ética teológica e o mundo contemporâneo. José Mauricio de Carvalho - Professor do IPTAN




Introdução à ética teológica de Inês Millen, Ronaldo Zacarias e José A. Trasferetti representa o esforço inovador dos autores para tratar os problemas da moral teológica. Constituído de abordagens independentes têm seu nexo num paradigma distinto da casuística.
E qual a novidade dessa perspectiva? O capítulo inicial trata, como referência do novo paradigma, a autonomia da vontade, afirmação semelhante à que faz Karl Jaspers no capítulo X da Introdução ao pensamento filosófico (9. ed., São Paulo: Cultrix). Naquele livro, ainda que se limitando ao decálogo mosaico, o filósofo alemão afirmou que os ensinamentos bíblicos (1993): "falam à conveniência, através da razão. Levantando-se por sobre a paixão, a violência, o instinto, o capricho. Dando-lhes obediência, o homem concretiza sua liberdade existencial" (p. 108). Jaspers destaca que a autonomia da vontade é aspecto fundamental na limitação do instinto, acompanhando o que ensinara Emmanuel Kant na Métaphysique des moeurs (In. Ouvres Philosophiques, v. II, Paris, Gallimard). Naquela obra escreveu Kant (1985):  "L´autonomie de la volunté est cette proprieté qu'a la volunté d´être à elle même sa loi (independamment de toute proprieté des objects du vouloir)" (p. 308). Isso significa que, para Kant, as máximas escolhidas o deviam ser por imposição da vontade do sujeito e não vir de fora, como diz Inês Millen no capítulo inicial. Outro aspecto que ela destaca é a fonte deste novo paradigma nos documentos do Concílio Vaticano II, vinculando-o às renovações promovidas pelo Concílio.
No capítulo seguinte, ao tratar da libertação que Cristo trouxe ao homem, a mesma teóloga associa liberdade e dignidade, considerando-as pontos inflexíveis da moral contemporânea. Há desdobramentos desses elementos, como explicamos em Ética (São João del-Rei: UFSJ, 2010): "a dignidade da pessoa humana, o amor como ideal de vida, a vida pessoal como um que fazer em liberdade, a construção da liberdade política e do estado de direito" (p. 160).
No outro capítulo, ao considerar a opção fundamental que preside a vida do homem, José A. Trasferetti trata de assunto caro a filosofia orteguiana e existencialista. Apresenta a opção fundamental, que o filósofo espanhol ensinou ser a fidelidade ao núcleo mais íntimo de si mesmo, como escolha que desemboca em Deus. 
O capítulo seguinte, que considera a consciência, trabalha a noção de subjetividade moderna e seus elementos marcantes, a consciência de si, do mundo e seu caráter intersubjetivo. Dito de outro modo, contempla os diversos aspectos "da subjetividade como reflexão sobre o eu mesmo" (CARVALHO, José Mauricio de. Subjetividade corporalidade na Filosofia e na Psicologia. São Paulo: Filoczar, 2014, p. 160). Quando o autor examina a consciência de si não explicita a distinção entre consciência psicológica e corporal, mas as distingue bem da consciência moral e explica o sentido preciso de uma ética teológica para o estudo da subjetividade. Ele coloca na consciência o selo essencial da presença de Deus no homem. O capítulo de Traferetti sobre o projeto de vida incorpora os aspectos fundamentais do que o raciovitalismo orteguiano ou existencialista indicam como aspectos fundamentais da existência humana, historicidade, situação, circunstância, direção existencial como um teólogo moralista enxerga o problema, isto é, com a questão do sentido vivida na direção para Deus, em tensão permanente com as exigências do quotidiano.
O capítulo de Ronaldo Zacarias sobre valores e normas morais é um texto de Axiologia. Sua abordagem se aproxima de Max Scheler (cf. o capítulo sobre Max Scheler em Problemas e teorias de ética contemporânea. Porto Alegre: Edipucrs, 2004), trazendo a axiologia para o diálogo com a teologia moral que não era a pretensão do filósofo alemão. Também é notável sua aproximação das reflexões de Miguel Reale sobre Axiologia.
O capítulo sétimo considera a importância de ter um sentido ético como guia para a vida. Por outro lado, ao preconizar a positivação em leis de ideais corre o risco promover o idealismo jurídico com todos os males que dele deriva, como se explica em Caminhos da moral moderna. (Belo Horizonte: Itatiaia, 1995). As razões o próprio autor percebe, a busca de realizar ideais é sempre feita em meio a contradições e nunca se efetiva de modo pleno.
O penúltimo capítulo há uma novidade interessante, a leitura do pecado na vida considerada como projeto e foi tratado como fruto da irreflexão contemporânea. Esse mal foi tema de outros filósofos além de Hannah Arendt. Eles atribuíram os males contemporâneos à incultura, como  fez, por exemplo, Ortega y Gasset ao considerar nosso tempo como a era das massas incultas. O capítulo final aborda a dificílima missão da Igreja de interpretar a vontade de Deus e examina os cuidados que é preciso ter quando se trata dos assuntos de moralidade. O pano de fundo é sempre entender o que desejaria o Senhor Jesus se estivesse aqui e agora, em sua existência terrena.
O livro enfim é esforço de três teólogos moralistas para tratar de assuntos contemporâneos e importantes para a vida da Igreja em nossos dias.


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

MUÇULMANOS MODERADOS MOBILIZAM-SE CONTRA OS RADICAIS. ANTÔNIO PAIM.



Devido à visibilidade da violência praticada e incentivada no mundo árabe, trazemos hoje um estudo do eminente Professor Antonio Paim sobre o questão. Esta existe também no seio da cultura cristã, mas a religião não é invocada. Ao contrário, na cultura árabe uma parcela fundamenta sua ação em motivos religiosos e nisso consiste a especificidade.  

Diz Antonio Paim:

 "Na França, o Ministro do Interior acumula a função de Ministro dos Cultos. Quando ocupou o cargo (entre maio de 2002 e março de 2004)), Nicolas Sarkozy constatou que --ao contrário do que ocorria em relação a judeus e cristãos-- os muçulmanos careciam de órgão representativo com o qual se entendesse o governo nas questões jurídicas e administrativas relacionadas aos respectivos grupos sociais. À vista disto, criou o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM).
       Presentemente, na França, estima-se (o Censo não registra a religião dos recenseados) que os muçulmanos correspondam aproximadamente a seis milhões de pessoas, equivalentes a cerca de 10% da população (66 milhões). Assinale-se que parcela substancial desse contingente é constituída de emigrantes das antigas colônias  situadas no Norte da África (Marrocos, Tunísia, Mali e Argélia) que, na maioria dos casos adotam a cultura francesa e criam os descendentes tratando de integrá-los.. Nessa circunstância, o CFCM segue uma linha que o distancia do islamismo fundamentalista e radical, sem embargo de que marquem presença no país e cometam atentados terroristas hediondos, a exemplo do assassinato dos jornalistas do periódico humorista Charlô. Por sua vez, o governo força essa integração, revestindo-se do poder de cassar cidadania e expulsar radicais tão logo sejam identificados. Emblemático da política de integração é a proibição de sinais exteriores que distingam os muçulmanos do comum da pessoas, a exemplo do uso da burka.
      Le Figaro (edição de 2/06/2015) dá grande destaque a livro do reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur --Letre ouverte aux Français (Editions Kero)-- que vem de exercer o mandato de Presidente do mencionado Conselho (CFCM). De certa forma, pareceu-nos que complementa a interpretação de Ayaan Hirtsi Ali, que tivemos oportunidade de comentar, de que já dispomos de tradução brasileira, a cargo da Companhia das Letras.
      Dalil Boubakeur responsabiliza diretamente a Arábia Saudita pela difusão do islamismo radical. Diz expressamente que “impõe sua visão graças a seu petróleo”. Na França, é identificado comosalafismo. A linha que preconiza consiste em não deixar apenas nas mãos do Estado a incumbência de combatê-los.
      De forma prática, o Conselho Francês do Culto Muçulmano estimula a criação de órgãos regionais aptos a assumir essa linha do mesmo modo que mesquitas mais representativas. Na edição que estamos seguindo são apontados vários exemplos, que em síntese referimos a seguir.
      Na visão do imã de Alfortvisse, Abdelali Mamoun, “não se trata de fechar as mesquitas mas de desembaraçar as associações mantenedoras de malfeitores que se incumbem de difundir o ódio.” O reitor da grande mesquita de Lyon, Kamel Kabtane, por sua vez, ao comentar a reação contrária aos acontecimentos do mês de janeiro (assassinato dos jornalistas antes referido), adverte: não se deve  condenar as comunidades em seu conjunto, cabendo reconhecer que, dada a enormidade da tarefa, “não podemos agir sozinhos. Temos necessidade do Estado.”
      O Presidente do Conselho Regional do Culto Muçulmano de Rhones-Alpes, Abdelikader Laid Bendidi destaca a importância da vitória jurídica alcançada pela Mesquita de Oullins, apoiada pela CRCM, contra iman auto proclamado, ao mesmo tempo em que chama a atenção para a necessidade de manter-se vigilantes contra os salafistas.
         Le Figaro registra a opinião do padre Christophe Roucou,  que considera “bom conhecedor do assunto”, encarregado das relações da Igreja Católica com as entidades islamitas: “O problema é o contraste entre a lentidão institucional das instâncias muçulmanas e a urgência dos acontecimentos. As jovens gerações, sensíveis a esse distanciamento, perdem a confiança. Quanto aos radicais, afastam-se das mesquitas. Será necessário esperar uma geração para superar esses distanciamentos.”

         Por fim, o jornal destaca a atuação do Ministro do Interior e dos Cultos, Bernard Cazeneuve. Este enfatiza que o Estado é inflexível contra os pregadores do ódio religioso. Declara: “os incitadores do ódio não são tolerados”. Indica que, desde 2012, quarenta imans foram expulsos e vinte deles são objeto de instrução que terminará por expulsá-los."

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