terça-feira, 4 de setembro de 2018

Delegação Portuguesa


XIII Colóquio Antero de Quental
Dedicado à filosofia da educação luso-brasileira
3 a 7 de junho de 2019 de maio de 2019

3.Delegação Portuguesa

3.1. Prof. Dr. Antônio Braz Teixeira
Universidade Lusófona – Portugal
Presidente do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira
Rua Estevão Lopes, 21
2.795-018 – Linda-a-Velha – Oeiras – Portugal abraz.teixeira@gmail.com

Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, tendo exercido funções docentes em diversas instituições de Ensino Superior, como a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a Universidade de Évora, a Universidade Autónoma de Lisboa e a Universidade Lusófona. Membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa e da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa. Membro correspondente da Academia Portuguesa de História, da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia (Rio de Janeiro). Autor de: A Filosofia Portuguesa Actual (1959); O Pensamento filosófico-jurídico Português (1983); Sentido e Valor do Direito. Introdução à Filosofia Jurídica (1990/ 2010); Caminhos e Figuras da Filosofia do Direito Luso-Brasileira (1991/ 2002); Deus, o Mal e a Saudade: estudos sobre o pensamento português e luso-brasileiro contemporâneo (1993); Filosofia Jurídica Portuguesa Contemporânea (1993); O Pensamento Filosófico de Gonçalves de Magalhães (1994); O Espelho da Razão: estudos sobre o pensamento filosófico brasileiro (1997); Ética, Filosofia e Religião: estudos sobre o pensamento português, galego e brasileiro (1997); Formas e Percursos da Razão Atlântica: estudos de filosofia luso-brasileira (2001); História da Filosofia do Direito Portuguesa (2005); Diálogos e perfis (2006); A Filosofia da Saudade (2006); O Essencial sobre a Filosofia Portuguesa (séculos XIX e XX) (2008); Conceito e formas de democracia em Portugal e outros estudos da história das ideias (2008); A Experiência Reflexiva: estudos sobre o pensamento luso-brasileiro (2009); A Filosofia da Escola Bracarense (2010); A filosofia jurídica brasileira do século XIX (2011); A teoria do mito na filosofia luso-brasileira contemporânea (2014). Homenageado por colegas, admiradores e discípulos, através de: AAVV, Convergências e Afinidades. Homenagem a António Braz Teixeira, CEFi / CFUL, Lisboa, 2008. É ainda o Presidente do Conselho de Direção da Nova Águia: Revista de Cultura para o Século XXI e Sócio Honorário do MIL: Movimento Internacional Lusófono.

22. Prof. Dr. Renato Manuel Laia Epifânio
Universidade do Porto
Membro da Direção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira
Presidente do Movimento Internacional Lusófono iflbgeral@gmail.com
Renato Epifânio
Professor Universitário; Membro do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, da Direcção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, da Sociedade da Língua Portuguesa e da Associação Agostinho da Silva; investigador na área da “Filosofia em Portugal”, com dezenas de estudos publicados, desenvolveu um projecto de pós-doutoramento sobre o pensamento de Agostinho da Silva, com o apoio da FCT: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, para além de ser responsável pelo Repertório da Bibliografia Filosófica
Portuguesa: www.bibliografiafilosofica.webnode.com; Licenciatura e Mestrado em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; doutorou-se, na mesma Faculdade, no dia 14 de Dezembro de 2004, com a dissertação Fundamentos e Firmamentos do pensamento português contemporâneo: uma perspectiva a partir da visão de José Marinho; autor das obras Visões de Agostinho da Silva (2006), Repertório da Bibliografia Filosófica Portuguesa (2007), Perspectivas sobre Agostinho da Silva (2008), Via aberta: de Marinho a Pessoa, da Finisterra ao Oriente (2009), A Via Lusófona: um novo horizonte para Portugal (2010), Convergência Lusófona (2012/ 2014/ 2016), A Via Lusófona II (2015) e A Via Lusófona III (2017). Dirige a NOVA ÁGUIA: Revista de Cultura para o Século XXI e a Colecção de livros com o mesmo nome (Zéfiro). Preside ao MIL: Movimento Internacional Lusófono desde a sua formalização jurídica (2010).

3.3. Prof. Dr. Samuel Fernando Rodrigues Dimas
Universidade Católica Portuguesa - UCP
Membro da Direção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira
Rua Bartolomeu de Gusmão, 4-4
2725- 480 - Men Martins – Lisboa samueldimas@meo.pt

Samuel Dimas é Professor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, membro do Centro de Estudos de Filosofia desta Faculdade e da Direção do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira. Licenciado em Teologia com a tese «A intuição de Deus em Fernando Pessoa», licenciado em Filosofia com profissionalização na via de ensino, mestre em Filosofia da Ação e em Filosofia Ibérica Contemporânea, obteve o grau de doutor em Filosofia no ano de 2011 com uma tese intitulada «A Teoria metafísica da Experiência em Leonardo Coimbra: Estudo sobre a razão mistérica e a redenção integral». Tem orientado os seus interesses para a Filosofia Contemporânea, a Filosofia da Religião, a Teologia Filosófica, a Filosofia da Cultura, a Antropologia Filosófica e a Filosofia da Arte, participando, nestas áreas, em múltiplos projetos de unidades de I&D, organizando congressos, colóquios e seminários nacionais e internacionais. Atualmente é coordenador dos projetos «Redenção e Escatologia no Pensamento Português» e «A Estética no Pensamento Português» pertencentes à linha de investigação «Cultura e Religião» integrada no Grupo de Investigação «Os Fundamentos Ontológicos da Experiência Humana». Dedicado à investigação e promoção do Pensamento Lusófono e do Pensamento Iberoamericano, destacam-se, da sua obra, as seguintes publicações: A Intuição de Deus em Fernando Pessoa - 25 poemas inéditos (1998); Deus, o Homem e a Simbólica do Real: estudos sobre Metafísica Contemporânea (2009); A Metafísica da Experiência em Leonardo Coimbra: estudo sobre a dialéctica criacionista da razão mistérica (2012); A metafísica da Saudade em Leonardo Coimbra: Estudo sobre a Presença do Mistério e a redenção integral (2013); Regresso ao Paraíso: Estudos sobre a redenção do Mundo (2014); O Progresso do Conhecimento: Ensaios de Ética e Filosofia da Cultura (2015); (coordenação), Redenção e Escatologia: Estudos de Filosofia, Religião, Literatura e Arte na Cultura Portuguesa - Época Medieval, Tomo 1 e 2, (2015); Deus e o Mundo: Filosofias da Criação e da Consumação, vol I. (2016).

3.4. Prof. Dr. José Esteves Pereira
Universidade Nova de Lisboa - UNL
Av. de Berna, 26 C
1.069-061 – Lisboa – Portugal jep@fcsh.unl.pt

Professor Catedrático Jubilado (Filosofia) da Universidade NOVA de Lisboa. Foi Vice – Reitor da Universidade NOVA de Lisboa de 1994-2000 e 2010-2014, em quatro mandatos. Licenciado (1970) e Doutorado (1980), em Filosofia pela Universidade de Coimbra. Presidente da Assembleia Geral do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, Presidente da Assembleia Geral do Centro de Humanidades/CHAM da Universidade Nova de Lisboa; Vice-Presidente da Assembleia- Geral da Associação Portuguesa de Ciência Política; Vice-Presidente do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação; Membro do Conselho Consultivo da Fundação António Quadros ;Académico correspondente da Academia das Ciências de Lisboa (Secção de Filosofia),da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, da Academia Brasileira de Filosofia, da Academia Sergipana de Letras e da Academia Amazonense de Letras. Interesses científicos: a) Realização de estudos no âmbito do pensamento hispânico com especial incidência na reflexão do pensamento português e brasileiro. b) Estudos sobre história das ideias, especialmente nas vertentes filosófica, política, económica e social (século XVII- meados do século XIX). Algumas publicações de incidência luso-brasileira. Silvestre Pinheiro Ferreira, O seu pensamento político, Coimbra, 1974;Significação e Sentido da História em Gonçalves de Magalhães, “O pensamento de Domingos Gonçalves de Magalhães-Actas do II Colóquio Tobias Barreto", Lisboa, Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, 1994;Coordenadas Epistemológicas de Gilberto Freyre, "Anais do Seminário Internacional Novo Mundo nos Trópicos" Recife, Fundação Gilberto Freyre, 2000;Teorização absolutista e centralização, “Teoria do Estado Contemporâneo” (organizado por Paulo Ferreira da Cunha), Lisboa, 2003;Percursos de História das Ideias, Lisboa,2004; O Essencial sobre Silvestre Pinheiro Ferreira, Lisboa, 2008; 1808 e a Modernização da Filosofia no Brasil: Silvestre Pinheiro Ferreira,” II Conferência Farias Brito”, Textos do Programa de Pós-graduação em Filosofia, do Centro de Filosofia Brasileira, Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ, 2008.Miguel Reale e a Ideia de Estado, “O pensamento de Miguel Reale”, “Actas do IX Colóquio Tobias Barreto”, Lisboa, 2011.Positivismo e República em Portugal e no Brasil, “Pensar a República”, Coimbra, 2014. Presença de Ortega y Gasset no pensamento luso-brasileiro, in “Iberian Interconnections-Conference Proceedings”, Porto, Universidade Católica Portuguesa, Col. eBoooks (2016).

4.5. Prof. Dr. Manuel Cândido Pimentel
Universidade Católica Portuguesa - UCP
Instituto de Filosofia Luso-Brasileira
Rua Bartolomeu de Gusmão, 4-4
2725- 480 - Men Martins - Lisboa cpimentel@fch.lisboa.ucp.pt

Licenciatura em Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 1986. Mestrado em Filosofia, especialização em «Filosofia e Cultura em Portugal», na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1991. Doutoramento em Filosofia, especialização em «Filosofia Moderna e Contemporânea», na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, em 2001. Especialista nas áreas de Filosofia em Portugal, Filosofia Moderna, Filosofia Contemporânea, Filosofia do Conhecimento e Ética. Assistente Estagiário do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, de 1986 a 1991, e Assistente do mesmo Departamento, em 1991. Assistente da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade
Católica Portuguesa, na Área Científica de Filosofia, de 1991-2003. Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, na Área Científica de Filosofia, desde 2003. Diretor do Centro de Literatura e Cultura Portuguesa e Brasileira da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, desde 2002. Coordenador da Área Científica de Filosofia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, desde 2004. Membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, desde 2004. Sócio Fundador e membro do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira desde 1992.

domingo, 2 de setembro de 2018

José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei

O homem e sua referência ética
O reconhecimento de que o homem é sujeito de valores decorre da nossa necessidade de escolher. Viver é optar entre alternativas, o que já permitiu descrever a vida como um que fazer. Essa capacidade de escolher nos coloca como sujeitos livres, ainda que limitados e condicionados, pois uma escolha é sempre feita numa situação determinada. A isso se soma a consequência do escolhido, responsabilidade conosco e com as pessoas que estão a nossa volta, pois se as escolhas nos afetam, também atingem aqueles que são objetos de nossa ação.
Essa realidade humana foi apontada por diversos pensadores como um diferencial do homem em relação aos demais entes, pois quando se escolhe o sujeito pode, com todas as limitações que daí decorram, alterar o futuro, modificá-lo de forma consciente. Nisso uma marca sua, pois muitas vezes um animal também faz coisas que mudam o futuro, mas não se pode dizer que o faça com a consciência de que possa escolher melhor. De fato, as escolhas humanas se articulam numa bipolaridade entre o melhor e o pior, entre o belo e o menos belo, o útil e o não útil, o justo e o não justo. Em contrapartida, as mudanças que ocorrem na natureza não revelam essa intencionalidade, mas regras mais ou menos identificáveis que o homem busca conhecer. Sua capacidade de conhecer as leis que regem a natureza somada a possibilidade de escolher entre o melhor e o pior são características humanas, reconheceu o filósofo alemão Immanuel Kant na conclusão da Crítica da razão prática (Oeuvres Philosophiques, Paris: Gallimard, 1985, v. II, p. 801/2): “duas coisas enchem o espírito de uma admiração e de uma veneração sempre novas e sempre crescentes, na medida da frequência e da perseverança com a qual a reflexão a elas se apega: o céu estrelado cima de mim e a lei moral dentro de mim”.
Uma das mais impressionantes lições dessa realidade moral do homem foi descrita pelo médico psiquiatra Viktor Frankl num de seus livros relatou suas experiências nos campos de concentração nazista durante a Segunda Grande Guerra. Ali Frankl constatou que entre as maiores privações e torturas, depois de tudo ter sido tirado do homem, havia aqueles que não se deixavam animalizar, partilhando o último pedaço de pão, oferecendo uma palavra de amizade e apoio quando nada mais havia a partilhar, arriscando-se para minimizar o sofrimento do companheiro. Ao constatar esse comportamento em muitas centenas de pessoas convenceu-se de que é possível ser melhor ou pior nas mais difíceis condições imagináveis. E entre as escolhas feitas nenhuma parece revelar melhor essa realidade humana do que a justiça.
Ele descreveu um episódio paradigmático sobre esse assunto. Numa das vezes em que teve que formar pelotão, estando num terreno muito acidentado, não tinha noção do que se passava atrás dele e então um guarda chegou próximo e lhe desferiu dois violentos golpes na cabeça porque ele ficou um pouco fora do alinhamento. Sobre isso ele confessou (Em busca de sentido. Petrópolis, Vozes, 2017. p. 39): “a dor física causada por golpes não é tão importante (...) a dor psicológica, a revolta pela injustiça ante a falta de qualquer razão é o que mais dói numa hora dessas”. E ele relata como, mesmo homens brutais, que haviam perdido a sensibilidade para com a dor do outro e assistiam sem reação ao castigo de um prisioneiro, acabavam por se tocar diante de gritante injustiça. Foi o que ocorreu quando o chefe do serviço o tirou de uma atividade e o colocou sobre outro comando, quando percebeu que o líder imediato da atividade lhe havia agredido de forma injusta. Frankl relatou esse episódio relativamente sem importância para dizer que (id., p. 43): “homens que haviam perdido a sensibilidade emocional ainda chegam a ser tomado de revolta, não por brutalidade ou qualquer dor física, mas pelo escárnio”.
Os relatos de Frankl demonstram que quando já pouca humanidade resta no indivíduo, ainda assim ele reage a uma situação de injustiça flagrante, revelando algo de si mesmo nessa escolha.

domingo, 19 de agosto de 2018


XIII Colóquio Antero de Quental
Dedicado à filosofia da educação luso-brasileira
3 a 7 de junho de 2019 de maio de 2019






https://www.youtube.com/watch?v=YEdYBjL872c
  
Promotores:
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) - Brasil.
Universidade Federal de Juiz de Fora - Brasil
Instituto de Filosofia Luso-Brasileira – Portugal
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade Arquidiocesana de Mariana
Centro Universitário Presidente Tancredo de Almeida Neves


Antero de Quental
Dedicado à filosofia da educação luso-brasileira
3 a 7 de junho de 2019 de 2019



Juiz de Fora
13 e 17 de Maio de 2019


 –I PARTE –  Introduçao

XIII Colóquio Antero de Quental


Dedicado à filosofia da educação luso-brasileira
13 – 17 de maio de 2019

O Professor José Maurício de Carvalho encontra três momentos importantes na confluência cultural entre: a Enciclopédia Logos de filosofia luso-brasileira, os Colóquios Tobias Barreto, realizados em Portugal e Antero de Quental, realizados no Brasil. Contudo, há duas contribuições importantes que praticamente apontaram o caminho para: a 1ªuma bibliografia da etapa inicial deste diálogo luso brasileiro, inventariada por José Maurício de Carvalho em Contribuição contemporânea à história da filosofia brasileira, 3ª edição publicada em Londrina, em 2001. 2ª são os registros históricos dos eventos do o conjunto de Atas dos eventos publicadas no Brasil e em Portugal, alternadamente. No caso brasileiro chegamos ao XIII Colóquio Antero de Quental contra outros doze denominados.
Devido à importância desde evento este meio pretende publicar o evento completo dividido em três partes:1ª –
–I PARTE – Introdução - autoria de José Maurício de Carvalho
- II PARTE - Delegação Brasileira
- 3ª PARTE - Delegação Portuguesa
4 ª- Homenagens Especiais
Selvino Antonio Malfatti






I. Introdução
           
O estudo do pensamento filosófico pelo grupo luso-brasileiro realizou-se nos últimos quarenta anos e se consolidou como pesquisa sistemática nesse tempo. Ele possibilitou pesquisa planejada das relações entre a tradição filosófica e outros elementos da cultura luso-brasileira. Tal estudo concluiu pela existência de nexos espirituais que aproximam o que se fez aqui e do outro lado do Atlântico, sem desconsiderar as diferenças existentes no Brasil e Portugal. Destes encontros nasceram iniciativas de reconhecido mérito acadêmico como a Enciclopédia Logos de filosofia luso-brasileira, os Colóquios Tobias Barreto, realizados em Portugal e Antero de Quental, realizados no Brasil. Uma bibliografia da etapa inicial deste diálogo luso brasileiro foi inventariada por José Maurício de Carvalho em Contribuição contemporânea à história da filosofia brasileira, 3ª edição publicada em Londrina, em 2001. No entanto, o melhor registro histórico dos eventos é o conjunto de Atas dos eventos publicadas no Brasil e em Portugal, alternadamente. No caso brasileiro chegamos ao XIII Colóquio Antero de Quental contra outros doze denominados Tobias Barreto realizados em Portugal. Tanto os Colóquios Tobias Barreto realizados em Portugal como os chamados Antero de Quental, realizados no Brasil, tiveram suas Atas publicadas.
            Cabe recordar que o esforço de aproximação entre as filosofias brasileira e portuguesa data dos anos sessenta, então desenvolvido, do lado brasileiro, pelo Professor Miguel Reale e, do lado português, pelo Professor Antônio Braz Teixeira. Dois grandes nomes do momento inicial do diálogo foram o professor da USP Luís Washington Vita e o português Antônio Quadros, ambos desaparecidos há alguns anos. Seguiu-se a presença no Brasil dos saudosos professores portugueses: Eduardo Soveral, Francisco da Gama Caeiro e Afonso Botelho, todos igualmente falecidos. Essa presença permitiu, com vistas à continuidade dos trabalhos, a criação do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, sediado em Lisboa, atualmente presidido pelo Professor Antônio Braz Teixeira, que reúne pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e portuguesas. Estes contatos propiciaram também a aproximação entre a Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, e a Universidade Federal de São João del-Rei, que, como parceiras, além do projeto dos Colóquios passaram a cooperar em outros assuntos. O convênio celebrado entre as duas universidades tem permitido crescente intercâmbio acadêmico, projetos comuns de pesquisa e diferentes iniciativas que beneficiam as duas instituições. A esse projeto juntam-se, nesse evento como organizadores, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o Centro Universitário Presidente Tancredo de Almeida Neves (UNIPTAN), a Faculdade Dom Luciano Mendes de Mariana e ....

II. Histórico dos Colóquios Antero de Quental
            O trabalho sistemático de investigação realizado pelos pesquisadores nos Colóquios Antero de Quental, conforme indicado no item anterior desenvolve-se há quase trinta anos havendo os seus resultados sido registrados em Atas publicadas por diferentes Universidades e Entidades de Pesquisa.
            O I evento foi realizado com módulos em Aracaju e Salvador no ano de 1991 e as Atas do Colóquio Antero de Quental editadas pela Fundação Augusto Franco, de Aracaju, em 1993 (348 p.). O primeiro Colóquio foi dedicado ao estudo de Antero de Quental e deu nome aos encontros seguintes. O II Colóquio foi dedicado ao estudo da obra de Sampaio Bruno e se realizou em 1993 com módulos em Aracaju e na UFRJ. As Atas do evento foram publicadas pela Secretaria de Estado da Cultura do Sergipe em 1995 (429 p.).  O III Colóquio promovido pela UFSE, Fundações Joaquim Nabuco, Gilberto Freire e outras instituições parceiras foi realizado com módulos em Fortaleza e São Paulo, em 1995, e se dedicou ao estudo de Cunha Seixas e Farias Brito. Suas Atas foram editadas com recursos do Ministério da Cultura e Secretaria do Estado do Sergipe pelas Fundações organizadoras (218 p.). O IV Colóquio foi realizado em São Paulo e Brasília em 1997 e dedicado ao estudo do pensamento de António Vieira e Leonardo Coimbra, Atas publicadas pela Fundação Augusto Franco de Sergipe (232 p). O V Colóquio se realizou em 1998 na USP e suas Atas foram publicadas, em anexo, aos Anais do V Congresso Brasileiro de Filosofia, promovido pelo IBF e USP em 1995, cujas Atas somente saíram em 1998. O VI Colóquio dedicado ao estudo de Delfim Santos e António Sérgio realizou-se, em 1999, em São Paulo, na USP e na UFSJ e suas Atas foram publicadas, em anexo, aos Anais do VI Congresso Brasileiro de Filosofia, editado pelo Instituto Brasileiro de Filosofia, em 2003.
            A partir do VII Colóquio os eventos tiveram a temática ampliada para sínteses temáticas e os módulos foram todos realizados no campus Santo Antônio da UFSJ. Foram realizados desde então cinco eventos todos com Atas publicadas como os anteriores. O VII (dedicado ao século XIX) e VIII (século XX) trataram do confronto entre o pensamento político brasileiro e português. O IX e X foram dedicados ao confronto na área de ética (séculos XVI-XIX, o nono) e Século XX, o décimo. As atas do VII Colóquio Antero de Quental, foram publicadas em dois volumes pela UFSJ em 2007 (ISBN 978-85-88414-28-0) e em 2009 (ISBN 978-85-88414-47-1). As atas do VIII, IX, X XI Colóquios foram publicadas, respectivamente, nos números 3, 7, 11 e 14 da Revista Estudos Filosóficos, do Departamento de Filosofia e Métodos da UFSJ, ISSN 1982-9124 (versão impressa) e 2177-2967 (versão eletrônica). A revista em versão eletrônica pode ser acessada no endereço: http://www.ufsj.edu.br/revistaestudosfilosóficos.
As atas do XII Colóquio Antero de Quental foram publicadas na Revista Saberes Interdisciplinares do UNIPTAN, n. 21 e 22, relativas ao primeiro e segundo semestre de 2018 e podem ser encontradas na Internet no seguinte endereço eletrônico: https://uniptan.wixsite.com/educacaoesaude/edicao-atual
Todas as Atas dos colóquios realizados no Brasil, foram publicadas bem como a dos eventos em Portugal.

III. Metodologia dos Colóquios
            Os Colóquios trabalham com um método que, resumidamente, consiste em não pressupor o conhecimento dos autores e temas em seus respectivos momentos; inventariá-los e identificar os ciclos em que aparecem correntes efetivamente afeiçoadas, em ambos os lados do Atlântico. Estruturada de modo consistente essa etapa prévia, estamos realizando o confronto do que seria especificamente luso-brasileiro, ou mais precisamente, como os elementos comuns reagiram durante a história dos dois países ao diálogo com a cultura ocidental.
            Este trabalho de síntese foi aprofundado nos VII e VIII Colóquios Antero de Quental dedicados ao confronto entre o pensamento político nos dois países e no IX e X Colóquios Antero de Quental que fizeram um confronto no âmbito moral. O XI Colóquio foi dedicado à filosofia do direito em razão da grande importância que os jusfilósofos possuem na construção do pensamento filosófico brasileiro e o XII Colóquio ocupou-se da historiografia filosófica luso-brasileira. O XIII seguirá essa mesma orientação e se voltará para a filosofia da educação.

IV. Objetivo do XIII Colóquio Antero de Quental e Público alvo   
O objetivo desse colóquio é estudar a filosofia da educação presente na cultura luso-brasileira contemporânea como parte do exame dos temas e autores importantes no Brasil e em Portugal. Nesse sentido, tomar-se-á como referência autores fundamentais na construção da historiografia da filosofia luso-brasileira no século passado com o propósito de orientar os trabalhos de pesquisa voltados para a filosofia da educação. Nesse sentido, o XIII colóquio complementa o estudo sobre a cultura luso-brasileira efetivados nos colóquios anteriores.

V. Referências gerais utilizadas no XIII Colóquio
            Os Colóquios Antero de Quental (Brasil) e Tobias Barreto (Portugal) partem da constatação de que, provindo de base unitária, constituída ao longo de três séculos (XV; XVII e XVIII), a cultura portuguesa enfrentou, em relação ao Brasil, nos dois séculos seguintes, momentos de ruptura e períodos de aproximação.
            No que se refere ao pensamento filosófico, os estudos já realizados mostraram que a filosofia brasileira distanciou-se da portuguesa no enfrentamento das questões suscitadas pela Filosofia Moderna e Contemporânea. O cerne da questão residiria em que, enquanto os brasileiros buscaram tirar as devidas consequências do surgimento da perspectiva transcendental, a filosofia portuguesa adotou como prevalente a preservação da perspectiva transcendente.
            Nesse colóquio espera-se estudar como as referências gerais já identificadas sobre os principais momentos, correntes e problemas filosóficos estão presentes nas ideias sobre a educação. Será igualmente importante aprofundar reformas educacionais que afetaram não somente os rumos do pensamento filosófico como da cultura em geral. Exemplo disso foi a mudança de mentalidade decorrente dos estudos da Escola Náutica de Sagres e das Navegações que alteram o modo de ver a Geografia da terra. Outro exemplo marcante foram as ideias educacionais de Luis Antônio Verney que suscitaram prolongado debate que culminou na reforma da Universidade de Coimbra pelo Marquês de Pombal que significou um encontro definitivo da cultura portuguesa com a ciência experimental, apesar dos limites que revelou na incorporação de outros aspectos da mentalidade moderna. Disso resultaram as críticas à filosofia aristotélica, muito forte no período inicial da chamada Contra-Reforma. Mais tarde no Brasil temos a criação do colégio Pedro II e as reformas dos cursos de engenharia civil, militar e naval. A forma como se entendeu a ciência naquele período veio da mentalidade proposta pelo bacharelado em Ciências. No final do século XX, os rumos da Escola de Direito do Recife influenciaram não somente na forma como se estruturam as letras jurídicas nas décadas seguintes, mas na constituição da escola culturalista brasileira. A presença da filosofia da educação continuou afetando os rumos da cultura brasileira no século XX, quer pela presença inicial da escola nova como da preocupação social decorrente das ideias de Paulo Freire, bem como no esforço contemporâneo de Vitor da Fonseca para fundamentar a educação inclusiva.

VI. Justificativa do XII Colóquio Antero de Quental
            Considerando a importância das ideias educacionais na história da cultura luso-brasileira explicada no item anterior, estamos diante da necessidade de examinar os autores que pensaram a filosofia da educação na nossa tradição. Espera-se alcançar o mesmo nível de sistematização que já se alcançou em outros aspectos da cultura como em relação à filosofia política, jurídica e moral.
A filosofia da educação é outro ramo fundamental da filosofia, mas até aqui não foi estudada de forma sistemática como os temas anteriores. Dos doze colóquios anteriores foram construídas atas que registram a compreensão crescente desses assuntos. Esses estudos ajudarão os historiadores das ideias luso-brasileira terem a sua disposição um material para compor trabalhos cada vez mais completos e esclarecedores de nossa tradição filosófica. É esse trabalho de organização que será agora estudado mais de perto.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Nação e esperança. José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei



Agora que se inicia novo processo eleitoral e que nosso quase infinito número de partidos se preparam para disputar o poder nos três níveis (municipal, estadual e federal) parece momento de lembrar que somos um povo, com um grande território, com grande população e inúmeras possibilidades de progresso se do nosso futuro não destruírem a esperança. O lema de nossa bandeira, assim como a ideia de nação geralmente ficam esquecidos de nossos líderes políticos até a época das eleições. Agora é chegado o momento em que os vemos se dirigir ao povo como se ele fosse tratado como nação e a falar que as legítimas disputas de interesse de grupos não podem prevalecer sobre os interesses maiores da sociedade e lembrar da vocação desse povo ao progresso.
É essa mesma classe política que estabeleceu para si privilégios que não se estendem nem aos demais funcionários do Estado e nem ao povo em geral que agora proclama que todos são iguais e igualmente importantes. É essa mesma classe política que legitimou o caixa dois como forma de atualizar a relação promiscua entre as elites econômicas e políticas que agora fala de trabalhar pelos mais pobres. É essa mesma classe política que inviabiliza qualquer governo que queira buscar os interesses nacionais, colocando antes deles seus mesquinhos interesses partidários ou individuais, que trouxe do céu para o inferno a máxima franciscana do é dando que se recebe. É essa mesma classe política que estabeleceu os mais tristes tempos de corrupção que agora se apresenta como diante do povo como gestores eficientes e probos. Creio que a sociedade saberá dizer a eles que basta, queremos outras pessoas como queremos outras práticas. Não haverá progresso se tivermos que pagar por duas pontes e receber uma, se tivermos que conviver com políticos roubando merenda e funcionários desviando remédios. Não se forma nação sem sentido moral. Não se vota em candidatos denunciados e envolvidos com práticas ilícitas.
O desafio de escolher novos governantes é difícil porque não basta trocar ladrões ou colocar no poder novos capachos do capital internacional e nacional, cujo interesse é apenas de aperfeiçoar a ordem econômica exclusora, onde a distância entre os mais ricos e os mais pobres não pare de aumentar. Sempre repito que se pensar como povo, construir uma sociedade menos injusta, não tem nada radical, venezuelano ou de cubano, pois assim entendem os tendenciosos da direita contemporânea e os ignorantes que os bajulam. Embora considere que isso não será alcançado com governos radicais de esquerda.
O maior desafio da República quando precisa escolher novos líderes que a dirija é o de encontrar homens que sejam capazes de pensar os grandes interesses nacionais e liderar a sociedade na sua busca. É esse o grande desafio e para onde deve se voltar nossa atenção nesse momento de escolhe-los. Escolher homens que sejam capazes de mobilizar a sociedade e ajudá-la a se pensar como comunidade, isto é, um grupo de pessoas que tem interesses comuns no fundo dos legítimos interesses particulares, que tenha noção de moral social e de compromisso coletivo.   
Considero que, para nossa realidade atual, isso signifique encontrar dirigentes que estejam a meio caminho entre a esquerda e a direita radical, que tenham um passado isento de processos e acusações, que demonstre conhecimento profundo da realidade nacional e dos seus problemas, que tenha propostas efetivas e claras sobre o que fazer para enfrentar nossas dificuldades (nada como sou pela educação, pela saúde, vou trabalhar pelo povo, etc.). Cobre dos candidatos COMO ele vai fazer isso, COMO operacionalizará seus ideais e COM que recursos. Somente assim poderemos aproximar a esperança da nacionalidade já que andamos distante delas duas.


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A CONTRIBUIÇÃO DE LUTERO PARA A EUROPA NO SURGIMENTO DA Idade Moderna. Selvino Antonio Malfatti



Não se pode dizer que o cristianismo desenvolveu tão somente uma ética linear na Europa. As contribuições vinham dos mais diversos setores e autores. O que acontecia era que havia uma cultura oficial e esta dava as diretrizes. AS “culturas” que se desviassem da oficial eram condenadas como heréticas. A primeira seria considerada oficial e a segunda dissidente.
A contribuição de Lutero foi de forçar a adoção de um pluralismo cultural, colocando-se ao lado da cultura e ética não oficial, proveniente de um pluralismo religioso. Com efeito, a Reforma de Lutero possibilitou a advento de dezenas de religiões cristãs na Europa cujo pensamento oficial não conseguiu mais se opor, citamos as religiões: protestante, presbiteriana, anglicana luterana, calvinismo, anabatista, metodista entre outras.

Uma das religiões que se disseminou na Europa foi a calvinista dando origem uma ética sui generis, devido as consequências para a economia. Não que os fundadores, os calvinistas, tivessem em mente um modelo econômico capitalista. Ele foi um efeito não desejado de uma ética praticada por eles. Isto não significa a negação de outras explicações do capitalismo, apenas mais uma. A análise desta ética coube a ax Weber em a “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. O objetivo de Weber não foi o religioso, mas o econômico, embora o econômico provenha do ethos religioso, no caso do advento do capitalismo, e não o contrário, isto é, o religioso ser uma superestrutura ou função do econômico. Em questão religiosa mantém-se neutro. Faz somente sociologia, fundamentado na hipótese compreensiva.
Com efeito, a hipótese de Weber é que as teses teológicas da Reforma protestante calvinista tiveram um efeito não esperado e nem pretendido, qual seja, ensejou um ethos mundano e econômico-materialista. Isso está calcado na doutrina calvinista sobre a crença na predestinação. Para Calvino não é Deus que existe para os homens, mas estes para Ele. Além disso, pregava que não seriam todos que gozariam da bem- aventurança da salvação, mas apenas uma pequena parcela, que teria como sentido a autoglorificação de Deus. A “justiça” terrena como critério para os desígnios de Deus seria uma ofensa. Por que somente Ele e somente Ele é livre, isto é, não está submetido a nenhuma lei. Seus decretos somente podem ser conhecidos se ele os quiser revelar. O que conhecemos é somente isto e o resto são mistérios obscuros, tal como o sentido de nosso destino individual. Se os condenados quisessem se queixar de sua sorte é como se os animais lamentassem por que não são seres humanos. A criatura humana está separada de Deus por um abismo intransponível e aos olhos de Deus esta criatura só merece a morte eterna a não ser que Ele decida de forma diversa. Só de uma coisa temos certeza: somente apenas uma pequena parte da humanidade está salva e resto está condenado a priori. Supor que haveria um critério de merecimento para a salvação ou condenação é insensatez. As decisões são absolutamente livres de Deus. A graça de Deus é imperdível para quem a recebeu da mesma forma que inatingível a quem lhe foi negada. Há, portanto, uma predestinação de todo ser humano.

Esta religião tem em mente a eternidade, isto é, os eleitos e os condenados já tinham seu final traçado para sempre: estavam predestinados ou à salvação ou à condenação. Isto levava os fiéis a um dilema angustiante: “serei eu um eleito ou condenado?” De nada adiantaria os sacramentos ou boas obras. Ninguém poderia ajudá-lo. Nem o pregador, pois somente o eleito seria capaz de entender o em espírito a palavra de Deus. Os sacramentos, que na doutrina católica, são meios que Deus dispõe para obter a graça, no calvinismo não se obtêm nada, pois são apenas auxílios externos e servem para a glória de seu autor. Nem mesmo a igreja, pois esta serve para congregar eleitos e condenados e não os que se esforçam para conseguir a bem-aventurança. É como uma seara que abriga joio e trigo. O agricultor escolhe o que quer. No entanto, fora da igreja não haja salvação: extra eclesiam nulla salus. Nem mesmo Deus pode ajudá-los, pois Cristo morreu pelos eleitos e não pelos condenados.

As raízes desta doutrina de desencantamento podem ser encontradas obscuramente delineada nas profecias do judaísmo e também no pensamento científico helênico. Consideram superstição toda e qualquer prática “mágica” que visasse a salvação. O puritano calvinista genuíno condenava até mesmo cerimônias religiosas fúnebres e enterravam os mortos sem cantos, nem rezas, nem música. Tudo o que pudesse lembrar uma proximidade da criatura com o Criador era peremptoriamente condenado. Era preciso a qualquer custo manter distância de Deus.

Esta doutrina tinha tudo para levar ao suicídio coletivo, pois os planos de Deus não mudariam. Em vez do suicídio ou desespero a doutrina suscitou nos seus seguidores “um sentimento de inaudita solidão interior do indivíduo”.
Tudo estava decidido. A partir disso os crentes tentaram encontrar “provas” da eleição. Identificaram-na com o sucesso na atividade mundana, isto é, ser bem sucedido economicamente era uma “prova” de ter sido escolhido por Deus para a salvação eterna.
Mas como chegar ao sucesso econômico? Através de um ethos de vida. Nada de gozar a vida com o dinheiro ganho ou os bens adquiridos. Gastar somente o necessário para sobrevivência. A orientação era ser prudente e diligente. Afastar a preguiça, pois tempo é dinheiro. Se o credor o vir ou ouvir trabalhando até altas horas da noite ou cedo de manhã, ficará descansado. Cultivar um bom nome, pois isto facilita o crédito e este leva ao investimento e reinvestimento. “Crédito é dinheiro”, dizia o calvinismo. Se, após o vencimento, alguém fica com o juro o qual é igual ao dinheiro, está guardando um dinheiro que não é seu. O dinheiro é procriador fértil. Ele gera dinheiro e seus rebentos geram mais dinheiro e assim ao infinito vai acumulando capital. Como diz o ditado, um bom pagador é senhor da bolsa alheia. Quem criar a fama de bom pagador pode pedir quanto dinheiro precisar ou quiser que todos emprestasse. Ser pontual nos compromissos e frugal no consumo.
Percebe-se que a doutrina calvinista não é apenas uma técnica de vida, mas uma ética. A violação destes princípios não somente significam loucura, mas uma falta com o dever. Não se ensina como negociar, ser esperto, mas um ethos, um espírito o qual tem como subjacência uma crença religiosa. Se conseguir fazer isto, será bem sucedido nos negócios e isto prova que é um eleito. E qual o calvinista que não quisesse?

Da mesma forma que o calvinismo outras religiões trouxeram novas e diversas contribuições culturais para a Europa. O luteranismo contribuiu com a o valor da fé, em detrimento das obras de tese católica. A anglicana chamou a atenção da importância da religião local. Saliente-se o valor do trabalho como um benção, em oposição do castigo como se salientava no catolicismo.
A recompensa do esforço era o sucesso e com ele a certeza da salvação: a sensação irracional de ter cumprido o dever.
As palavras de Lutero ao Papa repercutiam pela Europa inteira: quem te disse que és um semideus e que podes fazer tudo que quiseres, papa Leão? Todos entenderam que se tratava de corrupção, espírito mundano, venda de indulgências, concubinato etc.
À medida que Lutero avançava no sentido de dar nome e princípios diferentes à sua doutrina a Cúria romana agia no sentido de desvencilhar-se dos motivos das acusações. A maior reação foi o Concílio de Trento, mas já era tarde. Praticamente somente dois países o adotaram: Espanha e Portugal.
Lutero continuava atacar chamando o papa de Anticristo, pior de qualquer Turco e denominar Roma de Nova Babilônia.
Talvez se tivesse explorado o lado humano de Lutero teria conseguido algo. Gostava de chamar sua mulher Katharine de “minha senhora Kathie.  Apreciava alguma bebida e “ameaçava” Deus de não reconhecê-Lo Todo Poderoso se não o aliviasse das dores nos rins. Mas politicamente era implacável: não aceitava nenhuma autoridade, nem de papas nem de concílios.

Espalhou a guerra por toda Europa purificando- com um banho de Sangue. Ao fim, das guerras nas outra Europa cultural, renovada e calcada nos novos princípios éticos originários não da religião, mas da razão.
Com isso Lutero deixou a Europa preparada para a Idade Moderna:
1º A Bíblia deixou de ser critério científico.
2º Um leque cultural foi aberto.
3º A autoridade cedeu lugar ao livre arbítrio.
4º O poder político reside na comunidade e não no papa.
5º A fé religiosa passou para a vida privada.
6º O antropológico tomou o lugar o teológico.


sexta-feira, 27 de julho de 2018

A EDIÇÃO DE “O COLAR GRANDANGOLO” . SELVINO ANTONIO MALFATTI



A reedição do livro de DANTE em  "A COLEÇÃO GRANDANGOLO", certamente será mais um marco para uma análise crítico-histórica social. 

A obra de maior de repercussão na época de Dante Aleghieri, que procurava combater a doutrina oficial da Igreja, foi a “De Monarchia”. Defende o governo romano, de um só homem, sobre todo o mundo. Isto porque, tal soberano, traria paz à humanidade e com ela adviria o desenvolvimento intelectual. Refuta a ideia, então em voga, de que o Papa é o Sol, e o Imperador, a Lua.

Se nas relações, entre Igreja e Estado, Alighieri se alinha na corrente dissidente, quanto à concepção da norma, permanece com a vertente naturalista. Pensa que haveria uma hierarquia de normas para se obter a harmonia dos cosmos. Primeiramente viria uma ordem natural. Nesta ordem natural, no pensamento de Alighieri, há uma disposição que deve ser mantida, tanto por si mesma como pelo homem. A ordem natural deve ser seguida, e não modificada. É universal e necessária. Seriam as normas éticas válidas para todos. O direito, a ordem humana, e por isso moral, deve esforçar-se para não quebrar a ordem dada pela natureza. Por isso, o ponto de partida, e o termo final, será sempre a ordem natural. Legislar significa respeitar a própria natureza, e nisso reside a legitimidade do direito. E, conforme ele, o Império Romano é obra da própria natureza. Quando os romanos submeteram os povos, estavam agindo de acordo com a natureza, que tinha destinado um povo para governar o universo.

No Livro III, Dante tenta provar que o poder do monarca romano proveio diretamente de Deus, e não através de “algum vigário ou ministro de Deus”. Havendo uma continuidade entre natureza e Deus, o Império Romano é fruto da lei natural, e a Igreja, da lei Divina. Conforme ele, não consta na lei divina que os sacerdotes tivessem recebido poderes para instituir ou destituir soberanos.

Com o se sabe, Dante não só foi um gênio em si, como serviu de modelo para outros grandes escritores da renascença italiana como, Foscolo, Primo Livio, Pasolini e Montale. O que significou Platão e Aristóteles para a era do apogeu da civilização de Atenas, Dante terá o mesmo papel no auge da cultura renascentista italiana com repercussões por toda Europa. 

Dante analisa a problemática ético-moral de sua época. Vê um mundo destituído de sentido ético, mundo este submetido aos poderes impenetráveis. Sobressa-se o egoísmo, interesses privados ou partidarizados. A corrupção interpenetra toda uma sociedade em decadência. Um sistema enganador que se estende sobre a humanidade. Já é práxis e ninguém reage convivendo no cenário do quotidiano. O testemunho condescendente que dá lugar ao vício da simonia (cargos eclesiásticos negociados), de favoritismo, propinas, um desenfreado desejo de cúmulos de bens. Dante se revolta contra a luxúria (inclusive prazeres do sexo), a degradação da nobreza e do clero. 

Pelas posições políticas e pelas denúncias públicas foi natural que, o pai da língua italiana, caísse em desgraça perante os dirigentes e civis eclesiásticos. E, consequentemente, tenha sido perseguido, condenado e exilado. A partir daí torna-se um errante perante as nações, sem pátria. A vida de errante, exilado, de Aleghieri, decepcionado pela política, pois percebe que mal obtida a liberdade logo se transforma novamente em tirania. Fóscolo encontra nele a vítima a quem se une espiritualmente e pelo mesmo destino. Da mesma forma que Leonardo Da Vinci, que carregava consigo Mona Lisa, Dante não se afasta da Comédia como ideal de estudo e um amuleto de consolação. Primeiramente foi denominada de Comédia (obra com final  feliz), e posteriormente, com Boccaccio foi acrescentado o adjetivo Divina.

Nela descreve a Terra como sucessão de círculos concêntricos, formando a Estrela Armilar e o meridiano onde está localizada Jerusalém atual. Neste local teria caído Lúcifer abrindo uma cratera profunda, o Mar Morto, o Portal do Inferno. Para o Mar Morto todas as águas convergem. O Paraíso e o Purgatório seriam os segmentos dos círculos concêntricos. 

Praticamente todos os personagens bíblicos do Antigo Testamento são descritos no Inferno. Nesta viagem pelos três – Inverno, Purgatório e Céu – Dante é acompanhado pelo poeta Virgílio e no Paraíso sua bem amada Beatrice está a seu lado, pois Virgílio, como pagão, não podia entrar no Paraíso. 

Diante do papa Bonifácio VIII é árduo defensor do livre-arbítrio. Foi um autor cuja obra manteve-se oculta e considerada não divulgada. Oito anos após sua morte, seu tratado De Monarchia foi atirado à fogueira, acusada de heresia pelo cardeal Bertando del Poggetto, talvez pensando que, junto com o tratado, pudesse transformar em cinza toda obra de Dante. Já em 1559, sua obra foi anexada ao Santo Ofício através do primeiro Índice dos “Librorum Phroibitorum” do Santo Ofício, isto permaneceu até a metade do século XIX. Pudera! Nada menos que cinco papas são colocados no Inferno. Para se ter uma ideia, nunca antes de 1791 foi publicada em Roma a Commedia. Durante toda vida a Igreja faz Dante calar, mas somente o conseguirá após sua morte.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

A fragilidade do discurso político, outra marca da crise atual.José Mauricio de Carvalho – Academia de Letras de São João del-Rei



















Desde meados do século passado se fala em crise, mas as pessoas geralmente pouco refletem sobre ela. Nota-se a perda dos valores de humanidade e de outros elementos culturais que serviam de referência para viver e alimentava a esperança no futuro, mas a sensação é imprecisa. A discussão da crise migrou dos livros de literatura e filosofia para os consultórios onde impera a depressão, a drogadicção e a falta de sentido. Os filósofos tentaram entender a crise. Perguntaram: crise de que? De ciência e de humanidade, disse Husserl; de crença acrescentaram Buber e Ortega y Gasset. Esse último falou mais: crise de massas superficiais e sem excelência; de valores, ensinaria Scheler; de orientação, preferiu dizer Karl Jaspers; de autenticidade, emendaria metafisicamente Martin Heidegger; crise de liberdade, avaliava Jean Paul Sartre; do que fazer na história entendeu Sören Kierkegaard; de um mundo que matou Deus, escreveu Friedrich Nietzsche; crise pelo ocultamento de Deus, retificou Martin Buber. Tudo para dizer que viver ficou difícil. Viver nunca foi fácil, mas nunca foi tão perigoso. O perigo é do homem se perder sem humanismo, sem cultura, sem sentido. Pois bem, é preciso aprender a viver nesse tempo de massas superficiais. Esse tempo produziu uma sociedade 'leve', 'líquida', 'fluida' resumiu Zygmunt Bauman, um tempo de rápidas mudanças e ausência de referências humanistas. Bauman resumiu a vida desses dias: fortaleceu-se a competição em detrimento da solidariedade, enfraqueceram-se os sistemas de proteção social e a proteção do trabalhador, os fracassos foram atribuídos apenas aos indivíduos, reduziu-se o planejamento de longo prazo e o poder econômico se afastou da política. O resultado é um homem perdido e infeliz. Não é à toa que as drogas se tornaram um flagelo, a ideia de que é preciso buscar o prazer rápido, ilusório e irresponsável, do que a droga é exemplo, prosperou sobretudo entre os jovens. E além da falta de referências culturais, da falta de esperança no bem, da perda de valores humanos, em alguns países de baixa escolarização como o nosso, emergiu a estranha combinação de liberalismo conservador e fascismo político. Para propor esse modelo seus representantes apostam na imbecilização da política, o que é facilitado pela esquerda cega que, ao invés de fazer mea culpa pelos erros recentes e reconstruir um projeto político factível, insiste em se manter de costas para a lei e a moralidade. Liberais consequentes e respeitosos do estado de direito sumiram e levaram junto os sociais democratas respeitáveis. E por último, essa massa desprovida de inteligência que ocupa as redes sociais e como parte dessa onda imbecil decidiu atacar as universidades e seus intelectuais mais notáveis em todo o mundo, como se propor uma sociedade menos desigual e generosa fosse absurdo. Nas universidades e fora delas há intelectuais mais à esquerda como há outros mais à direita, isso nunca impediu a prática ou o debate político. O problema atual é outro: a imbecilização do processo. A falta de coerência e superficialidade das ideias provoca absurdos como a identificação de humanismo e comunismo estatizante, a mistura de fascismo e liberalismo, alimenta o engano e a corrupção. Essa época de muito marketing e pouca inteligência misturou direita e liberalismo, na ilusão de que é possível o máximo de liberdade econômica com o mínimo de liberdade política e desrespeito ao estado de direito. Hoje a essa combinação idiota se acrescenta a falta de consistência da ideia de nação, isto é, a ausência de preocupação com as bases das sociedades nacionais, recuperando seus elos mais fracos. A superação dos problemas do nosso país e mesmo de problemas mundiais como a preservação da natureza e a redução do uso das drogas alucinógenas passa pela superação da fragilidade do debate político e pela renovação da vida nos estados nacionais. O processo eleitoral que se aproxima é boa oportunidade de limpar a política dos idiotas, dos enganadores e dos ladrões.

Postagens mais vistas