sexta-feira, 25 de março de 2011

VISITA DE OBAMA AO BRASIL - Selvino Antonio Malfatti

Foto: Marcelo Casal Jr. / ABr




As relações Brasil e Estados Unidos, nos dois mandatos de Lula, andaram estremecidas e, pelo que parece, mais por iniciativa nossa do que deles. Agora parece que está se ensaiando uma reaproximação, mais por iniciativa deles do que nossa.
Barak Obama tem algumas características que outros presidentes norte-americanos anteriores não tiveram:
- Ele é o único que não é de origem anglo-saxônica. É africano.
- Ele é o único negro. Do Quênia
- Ele é o único que tem experiência muçulmana. Criou-se e viveu num ambiente muçulmano, apesar de nunca ter sido. Atualmente é cristão, da Igreja União da Trindade de Cristo.
Isto significa que ele tem uma forma de pensar, agir e sentir diferente do norte-americano? Não. Ele é um genuíno norte-americano, mas possui um potencial a mais, isto é, tem sensibilidade para com os diferentes. O norte-americano comum, como os presidentes anteriores, sabiam lidar pouco com as diferenças. Achavam que todos deviam ser como os norte-americanos ou submissos a eles. Obama, apesar de ser um protótipo norte-americano e saber que atrás de si está o todo poderoso Capitólio, sabe também ser não norte-americano. E isto é um fato novo. Na entrevista que deu à Revista Veja, deixou claro. Ele acolheu o que é caro aos brasileiros, mas não deixou de ser estadunidense.
À pergunta, se os Estados Unidos estariam em declínio, responde exatamente o que pensam seus compatriotas: os trabalhadores americanos são altamente produtivos, têm espírito inovador e empreendedor, as universidades são as melhores do mundo e a missão de segurança e estabilidade internacionais. As três primeiras refletem o espírito da ética protestante que deu origem ao capitalismo e a outra externa a “pax romana”: a paz mantida pela força militar.
Já a pergunta se o crescimento econômico do Brasil incomodava os Estados Unidos, responde pelo viés norte-americano e brasileiro, isto é, o que é caro aos estadunidenses, o crescimento econômico, viés capitalista, e o que é caro aos brasileiros, a justiça social, viés solidário.
Quanto ao deslocamento do eixo de importação do Brasil, passando a importar mais da China do que dos Estados Unidos, dá a entender nas entrelinhas que realmente quer reverter a situação. Diz que o Brasil importa – significa que precisa dos Estados Unidos - de bens de alta tecnologia, de indústria aeronáutica e química. O Brasil, por sua vez, tem a oferecer – Obama aponta para a possibilidade de os Estados Unidos importarem – energia. Para tanto, quer ouvir o empresariado brasileiro e também dizer-lhe o que pensa.
Na pergunta sobre o reequilíbrio internacional – devido à ascensão do Brasil – acena para os valores, que no dizer de Obama, são comuns a Brasil e Estados Unidos. As duas sociedades políticas estariam alicerçadas sobre os princípios da promoção dos direitos humanos, o desenvolvimento econômico, ecologia, a democracia e inclusão social.
Quanto aos últimos acontecimentos no mundo árabe, mostra-se um americano capaz de entender o curso da História, devido aos novos ingredientes. Diz que os Estados Unidos sempre foram a favor da autodeterminação dos povos e da defesa dos valores fundamentais, como liberdade de expressão, reunião e voto. Seu país, somente não pactua com a violência e a repressão. Diferentemente do Irã de 1979, os levantes atuais foram em nome de valores universais e não de religião ou facção religiosa. Por isso, na opinião dele, os movimentos serão bem vindos e seguirão o caminho da América Latina, Leste Europeu e Sudeste Asiático os quais se desvencilharam do autoritarismo para trilharem o caminho da democracia.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O ALERTA JAPONÊS E A CIÊNCIA E TECNOLOGIA - Selvino Antonio Malfatti









O Japão está no centro das atenções e observações por parte de toda comunidade internacional. Este pequeno país, em tamanho físico, destaca-se pela sua economia, mas principalmente pelo desenvolvimento científico e tecnológico. Não há o que cai na mão dos cientistas japoneses que não se transforme numa ferramenta útil para a vida humana. Dominam, com saber e tecnologia de ponta, praticamente todas as áreas do conhecimento.
Pois foi exatamente este país que a natureza “escolheu” para emitir um alerta a toda a humanidade. Nas profundezas das águas, vinte e quatro quilômetros e meio, a placa do Pacífico chocou-se contra a placa Norte-Americana provocando um terremoto de 8,9 na escala Richter. As águas da superfície deslocaram-se numa velocidade de 800 quilômetros por hora. Ondas de 10 metros de altura, os tsunamis, invadem as cidades ribeirinhas varrendo tudo o que encontram pela frente. Mas o pior pode ainda estar por vir: o escapamento da radioatividade dos reatores nucleares.
Diante da iminência de uma tragédia radioativa no Japão e no mundo, de proporções superiores a de Chernobyl, a comunidade internacional está em estado de alerta máximo. E novamente vem à mente o título de um concurso lançado pela Academia de Dijon no século XVIII:
- A ciência e as artes tornam os homens mais felizes?
Este era um objetivo a que os iluministas, no século anterior, haviam se proposto: tornar os homens mais felizes pela ciência.
O pensador francês Jean-Jacques Rousseau, no “Discurso sobre as Artes”, contraria a tese dizendo que o homem primitivo, sozinho, errante, sem ciência, nem arte era feliz. Quando descobriu a ciência iniciou o calvário do sofrimento humano.
A análise e conclusão de Rousseau não estão erradas. É que apreciou sobre o aspecto moral, isto é, a ciência e a tecnologia, por si sós, realmente não tornam os homens mais solidários, mais leais, compreensivos, bondosos. Isto a ciência não faz, porque a felicidade está no âmbito do sentimento e da razão de cada um.
O que a ciência e a tecnologia fazem? Comparando com o período de Rousseau atualmente se vive mais, uma média de vida de 70 e poucos anos, contra os 35 de seu tempo. Havia doenças consideradas incuráveis e atualmente foram extirpadas. No tempo de Rousseau o homem tinha uma vida útil de 25 anos. Hoje o tempo se estende por quase toda vida. Casas, alimentos, deslocamento, comunicação, informação, tudo se tornou infinitamente mais fácil e melhor. Nos dias atuais, uma pessoa de Classe C, possui uma qualidade de vida que o Rei Sol da França nem imaginava que existisse.
Claro que persistem doenças, insegurança, e desastres ainda não evitáveis. Há ainda muitas mazelas sem um efetivo controle em casos de acidentes, como é no momento o caso do Japão. Mas o problema maior reside no descompasso entre o crescimento da ciência e tecnologia e a defasagem moral. A ciência e a tecnologia não acompanhadas de aperfeiçoamento moral – que não é o caso do Japão - levarão a humanidade a autodestruir-se. A radioatividade, uma das maiores descobertas científicas, possui dezenas de aplicações tecnológicas para a própria saúde humana. No entanto, como evitar que o saber seja usado para outros fins que não o bem estar do homem. E o pior, e aí Rousseau tem razão, utilizar a ciência e tecnologia para destruição, como aconteceu com Hiroshima e Nagasaki no Japão na segunda guerra mundial. Precisamente os países que ocupam a dianteira do conhecimento estão abarrotados de mísseis voltados para cá e para lá, bombas armazenas, reatores nucleares, usinas de beneficiamento de urânio etc.etc.etc. E outros se preparando para isto. . .
O que fazer para que a ciência e tecnologia tornem os homens mais felizes? Eis a questão.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O CEMITÉRIO DE PRAGA, de Umberto Eco - Selvino Antonio Malfatti



Com certeza todos se lembram do belíssimo filme “O Nome da Rosa“ baseado no romance de Humberto Eco, filósofo e literato italiano. Nesse filme, Guilherme de Baskerville, franciscano, discípulo de Roger Bacon- e seu aprendiz - Adso de Melk, Frei e amigo de Guilherme de Occam - chegam a um convento nos Alpes. Como pano de fundo o enredo gira em torno da explicação das mortes que ocorriam naquele convento. No entanto, o verdadeiro objetivo era discutir os métodos científicos da indução e dedução.
Agora Humberto Eco nos brinda com outro romance, “O Cemitério de Praga”. Pelo que me consta, ainda não foi traduzido para o português. Este romance, em forma de diário, é narrado através de um personagem com dupla personalidade. Nele, cada personalidade escreve alternadamente, narrando os acontecimentos de que foi protagonista como se fossem duas pessoas distintas.
O romance prende o leitor desde o início até o fim. O período que se desenrola é o final do século XIX e o ambiente se passa em Turim e Palermo, na Itália, e Paris, na França. No início é bastante cômico, devido às definições dadas aos padres, povos e organizações. Os jesuítas são chamados de maçons vestidos de mulher, os judeus devoradores de crianças cristãs, os maçons continuadores dos templários decididos a acabarem com hebreus, cristãos e a monarquia. Os comunistas são identificados como conspiradores e sabotadores.
Após esta parte hilariante o romance toma um rumo amedrontador, cheio de atentados e assassinatos. A parte final é tenebrosa. Há uma trama generalizada. Um abade morre duas vezes, cadáveres são enterrados nos pátios das casas ou bóiam sobre o rio Sena, Missa Negra, navios explodem em pleno mar mandando para os ares todos os tripulantes. Os jesuítas conspiram contra os maçons, estes estrangulam os padres com as próprias tripas. Personagens conspiram uns contra os outros. A versão da Comuna de Paris é descrita como um fiasco. A trama de serviços secretos envolve italianos, franceses, prussianos, russos, numa ação de espionagem e contra espionagem.
O centro da trama se refere a um documento falso, um “borderau”, sobre uma reunião de sábios judeus no antigo Cemitério de Praga. Consta que Hitler teria tido conhecimento deste documento e o teria usado para exterminar os judeus nos campos de concentração. Foi um documento forjado a várias mãos, mas com o retoque final do personagem principal do livro, o tabelião falsário, capitão Simonini. O documento fala de uma reunião, naquele cemitério, dos chefes dos rabinos de várias partes da Europa, os quais firmam os Protocolos dos Sábios Anciãos de Sião. Nesses Protocolos estariam traçados os planos dos judeus para conquistarem o mundo e a aniquilarem o cristianismo. Conforme o documento, á meia-noite, no Cemitério de Praga, chegaram doze indivíduos envoltos em mantos escuros, e uma voz, saindo do fundo de uma tumba os saudou como os doze Rosche-Bathe-Abboth, chefes das doze tribos de Israel, e cada um deles respondeu. “Saudamos-te, filho do condenado.” Daí prosseguia a voz. “Passaram-se cem anos desde o nosso último encontro. Donde vindes e a quem representais?” E cada um se apresentou dizendo-se representante de Amsterdam, Toledo, Worms, Peste, Cracóvia, Roma, Lisboa, Paris, Constantinopla, Londres, Berlim e Praga. Após isso, cada uma das vozes proclamou as riquezas de sua localidade. Calculadas as riquezas, passa-se a descrever o plano para aniquilar os cristãos e apoderarem-se do mundo. Para tanto seriam tomados os bancos, os meios de comunicação, a educação, as ciências, as artes. Enfim, o Plano do Cemitério de Praga seria um projeto para os judeus tornarem-se senhores de tudo o que houvesse sobre a terra.
( IL CIMITERO DI PRAGA, Umberto Eco. Milano, Bompiani, 2010)

sexta-feira, 4 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER – UM ARCO-ÍRIS DE FLORES - Selvino Antonio Malfatti




UMA HOMENAGEM ÀS MULHERES

Hoje vamos deixar de lado as profundezas da filosofia, os maquiavelismos da política e as estatísticas da sociologia. Vamos dar uma espiada na intimidade da poética.
Dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher!
- Mulher, abre os olhos! Hoje é teu dia.
Alegra-te! Receberás aquelas flores que sempre sonhastes, mas que ainda não haviam te dado. Dar-te-ão flores de jardins, que são belas e as mereces, mas principalmente as flores da devoção, aquelas que tanto querias mas que ninguém adivinhava que sonhavas com elas.
- Abre os olhos, hoje é teu dia, mulher.
És bebê no berço que todos querem pegar, roçar nas faces e beijar.
És menina encantadora que saltita, dando alegria e orgulho a quem está ao lado.
És moça que faz tremer de paixão os namorados.
És mãe, mãe que se dá no seio ao recém-nascido para que ele tenha vida.
És mulher, só e toda mulher.
- Sonha!Esta festa vai durar para sempre!
MULHER, TU ÉS UM ARCO-ÍRIS DE FLORES!
Cândida como um lírio
Alegre como um girassol
Insinuante como uma helicônia
Humilde como uma onze-horas
Elegante como uma orquídia
Sensual como uma rosa
Tímida como uma margarida
Dsicreta como uma tulipa
Misteriosa como uma violeta
Majestosa como uma ortência
Tenra como uma primavera
Cobiçada como um suspiro
Materna como uma dália
- Mulher, parabéns, 8 de março, hoje é TEU DIA!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

VOLTA ÀS AULAS E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA - Selvino Antonio Malfatti


Milhares de estudantes de todo Brasil estão voltado às aulas. Refrescaram a cabeça e agora prontos para o recomeço. Foram emocionantes as cenas divulgadas pela televisão mostrando o reencontro dos estudantes. Abraçavam-se, apertavam-se, beijavam-se e –acreditem – alguns até choravam de alegria!
Eles serão nós no futuro, por isso merecem toda a atenção. Aproveito este momento para lançar um desafio: discutir o modelo educacional brasileiro? Fazer um feedback? Sabemos que as coisas não andam bem para a educação no Brasil.
O Brasil ficou 88º lugar no ranking de 128 países sobre educação, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Dos critérios utilizados, quais sejam o percentual de crianças entre 6 e 15 anos matriculadas na escola, o índice de analfabetismo, a igualdade de acesso entre meninos e meninas e a QUALIDADE. Este último foi o pior de todos obtendo, numa escala de 0 a 1, valor 0,756 nota característica de países de baixo desenvolvimento. O Brasil ficou atrás de países como Paraguai, Colômbia e Bolívia. Alguns quiseram apresentar justificativas, como o alto índice no crescimento das matrículas, infra-estrutura, baixo preparo dos professores entre outros. Isto explica, mas não justifica...
Por sua vez, as universidades também não estão em situação confortável. A considerada melhor universidade do Brasil, a USP, desceu da 53ª posição para 122ª na ranking “Webometrics Ranking of World Universities”, isto é, a disponibilidade ao público dos conhecimentos produzidos na universidade. Com isso, neste item a USP deixou de ser a melhor universidade da América Latina.
Já no critério de IDH – Índice de Desenvolvimento Humano- o Brasil obteve 0,797 numa escala de 0 a 1. Ficou entre os países de desenvolvimento médio e próximo dos países de alto desenvolvimento. O índice colocou o Brasil ao lado dos países do leste europeu. Os critérios para se medir o IDH são: uma vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e um padrão de vida decente.
Mas o problema maior não está neste índice geral, que até foi bom, mas nos regionais. Enquanto sul (o mais alto índice), sudeste e centro oeste praticamente estão enquadrados entre os países de alto desenvolvimento, norte (médio) e nordeste entre os de baixo desenvolvimento. Este último puxou a média nacional para muito baixo.
Na questão dos talentos também decrescemos. É a capacidade de o país de formar, atrair e manter jovens talentos. Em 2007 ocupávamos a 23ª posição entre 30 países e o índice cairá para 25 para o ano 2012. O país investe em talentos, estes se capacitam e vão embora, atraídos por salários, incentivos e valorização melhor que aqui.
Este é um pequeno quadro da educação brasileira. Onde está o problema. Proponho reduzir ao máximo a análise para facilitar. Vamos ver escolas concretas. E para não melindrar ninguém, vamos ficar com uma de resultados positivos. É o caso dos Colégios Militares. No caso do Colégio militar de Porto Alegre. A porcentagem de aprovação dos vestibulandos foi: dos 144 alunos que concluíram o 3º Ano em 2010, 131 prestaram o vestibular. Destes, 81 foram aprovados. Foi também o maior percentual de aprovação na URGS, 61,83%, superior ao recorde anterior, obtido no vestibular de 2008, quando, após a 3ª chamada, atingiu o nível de 61,11%. Isto acontece com as demais escolas militares.
O que têm estas escolas de características em comum e o que as diferencia das demais? Uma constatação que salta à vista é a exigência para que o aluno efetivamente aprenda e não apenas passe. Concordo que se deva facilitar ao máximo para que aprendizagem ocorra, mas nunca abrir mão da aprendizagem. O que se nota é que há confusão entre facilitar a aprendizagem e o exigir de que efetivamente o aluno aprendeu. E se não aprendeu, repete e não dar “mais uma chance”, um trabalhinho (copiado da internet) até que consiga a nota para “passar”.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CARNAVAL, ADEUS À CARNE – PARA QUEM? Selvino Antonio Malfatti






Vamos esquecer que os trabalhadores do mínimo ganharam menos de 10% - 10 reais sem mordomias - e os deputados mais de 73% - 12 mil recheados de mordomias?
É o que vai acontecer. Dentro de poucos dias o Brasil vai esquecer as mágoas e atirar-se aos braços do Momo. Já estamos em ritmo de Carnaval: a mídia, o comércio, as músicas, as ruas, as pessoas. Mas, afinal, o que é o Carnaval? Qual o sentido? Qual sua origem?
Para se entender basta observar calendário. Logo após o Carnaval inicia um período religioso chamado de Quaresma o qual antecede a Semana Santa. No período anterior à Semana Santa, os medievais davam vazão aos sentidos entregando-se aos prazeres: comida, bebida, diversões e sexo. Nos três últimos dias – Carnaval - aumentava de intensidade porque era estava findando. Era o Carnaval, período de despedida: de comemorações, de prazeres, de festas. A própria palavra já o diz: carum e vale (do latim: carne e adeus), daí, então: adeus à carne, isto é, aos prazeres carnais ou mundanos. Depois viria a Quaresma, período subseqüente ao Carnaval, dedicado ao e jejum e abstinência em preparação à Semana Santa e Páscoa.
Evidentemente não tem mais sentido religioso o Carnaval atual. É um fenômeno puramente cultural, simplesmente um período de diversão popular, no qual, se exibe o resultado do trabalho artístico de um verdadeiro exército de empregados ou dedicados a essa indústria nas Escolas de Samba. É uma empresa como as outras só não há empregadores e empregados, mas artistas e “patronos”, estes podem ser gente de bem ou gente do mal, inclusive traficantes.
O Carnaval no Brasil acontece nas ruas, nos clubes ou nos bailões. Difundido em todo Brasil desde a capital federal, as capitais estaduais, e em praticamente em todos os municípios. Em toda parte, o ponto alto do Carnaval é o desfile das Escolas de Samba. As escolas desfilam em carros alegóricos. Nestes devem constar uma Bandeira Oficial, carregada por uma Porta Bandeira e protegida por um Mestre Sala, figurantes com suas fantasias e adereços, um enredo fantasioso, ou abstrato, ou da história ou dos costumes populares, musicalmente ilustrados por um Samba de Enredo, de letra e música inéditas e complementadas por Alegorias, Passistas, Fantasias de Destaque, Ala de Baianas, tudo evoluindo em desfile ao ritmo de uma Bateria.
Se observarmos minimamente os diversos elementos constitutivos dos desfiles das Escolas de Samba, salta aos olhos a monotonia. As baterias e melodias são praticamente iguais em todos. Os enredos são pobres de conteúdo. Os movimentos da Porta Bandeira, das baianas e passistas são semelhantes em quase todas as escolas e desfiles. Mas o que faz, então, ser tão atraente o desfile? Com certeza são as fantasias, as alegorias e a arte dos carros alegóricos. Nesses enxergamos sim a arte popular e erudita se fundirem para proporcionarem ao desfile um espetáculo inaudito e o Carnaval se transformar num ato grandioso, atraindo expectadores de todas as partes. Para o Rio de Janeiro, mas para outras capitais também, acorrem turistas do mundo inteiro para assistir ao desfile das Escolas de Samba.
É tempo de Carnaval, um ADEUS À CARNE. Com certeza são os do salário mínimo que se despedem da carne, porque os da elite política, estão dando as BOAS VINDAS À CARNE. E que filés e picanhas!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ALTO E AUTOAUMENTO DOS PARLAMENTARES - Selvino antonio Malfatti



Você já pensou se tivesse uma conta para pagar e estivesse em dificuldade para saldá-la? Que sufoco, não? Ou se quisesse comprar alguma coisa e não tivesse dinheiro? Que sofrimento! Ou tivesse vontade de fazer uma viagem, mas não dispusesse de recursos? Que frustração! Sem falar no sonho de ter uma casa, um carro ou outro bem? Mas digamos que você pudesse dispor o quanto precisasse e pudesse chegar ao patrão e dizer:
- Agora quero ganhar tanto. E pronto, no próximo mês, você passaria a ganhar o que pediu.
Pois é, este mundo existe, não é invenção nem estórias, nem uma fantasia de verão. Só que não é para todos. Ele é restrito aos NOSSOS representantes. A elite como diria Gaetano Mosca. Por paradoxal que seja esta elite são empregados nossos, mas que mandam em nós. Os empregados mandam nos patrões. E nós eleitores - os empregadores - devemos ficar bem quietos, senão eles não trabalham mais para nós. E estes empregados não estão reivindicando a mais-valia, não. Eles têm em mira o próprio capital.
No sistema político da divisão dos poderes, cada um dos poderes deve ser de tal forma independente que um vigie o outro para que cada um permaneça na sua órbita e não se exceda, conforme ensina o clássico Montesquieu, combinado com os ensinamentos dos Federalistas norte-americanos – Hamilton, Jefferson e Madison. Se algum quiser ter mais vantagens e avançar o sinal, o outro o conterá, de modo que o equilíbrio se alicerce nos pesos e contrapesos.
Mas no caso brasileiro, ocorreu um desvio e equilíbrio está em que cada um dos poderes busque o máximo de vantagens para si, atribuindo o máximo de vantagens para os outros poderes. O legislativo, por exemplo, querendo aumentar seus salários, aumenta do executivo e do judiciário, é um efeito da cascata atingindo a área federal, estadual e municipal. Foi o que aconteceu com o auto (e alto) aumento de 61,83% dos salários dos parlamentares, de 133,96% do vencimento do Presidente e 148,63 de vice-presidente. Assim, se o legislativo se auto-aumentar (e alto aumentar) automaticamente aumenta os salários do executivo e judiciário. Esses dois poderes, por sua vez, se forem se auto (e alto) aumentar, aumentarão também aos outros dois. Desse modo o auto-controle se transmuta-se em auto-favorecimento, para gáudio de todos os políticos.
No parlamento brasileiro há um expediente que permite isentar dos deputados e senadores da responsabilidade do auto-aumento (e alto) de salários. Trata-se da do regime de urgência e do acordo de lideranças. O projeto é apresentado pela mesa diretora e entra em votação sem discussão de praxe ou por consenso de lideranças. E pronto, está aprovado, sem discussão, sem estresse, sem incômodos da média, ou protesto dos eleitores. Foi o que aconteceu com o projeto de aumento dos vencimentos dos parlamentares. Os questionamentos foram isolados e sem a mínima força para reverter a situação. Haja vista o resultado do placar: 279 votos a favor, 35 contrários e 3 abstenções. Como é um decreto legislativo não precisa da sanção presidencial (melhor para a Dilma e o Temer).
Mas este auto (e alto) aumento não só beneficia a área federal. Atingirá as assembléias legislativas e as câmaras de vereadores. É uma farra só: do federal ao municipal. Abaixo estão os heróis da pátria do novo auto (e alto) aumento, responsáveis pelo acordo de lideranças:
Aldo Rebelo (PC do B-SP)
Renan Calheiros (PMDB-AL)
Ciro Nogueira (PP-PI)
Jorge Alberto (PMDB-SE)
Luciano Castro (PL-RR)
José Múcio (PTB-PE)
Wilson Santiago (PMDB-PB)
Miro Teixeira (PDT-RJ)
Sandra Rosado (PSB-RN)
Coubert Martins (PPS-BA)
Bismarck Maia (PSDB-CE)
Rodrigo Maia (PFL-RJ)
José Carlos Aleluia (PFL-BA)
Sandro Mabel (PL-GO)
Givaldo Carimbão (PSB-AL)
Arlindo Chinaglia (PT-SP)
Inácio Arruda (PC do B-CE)
Carlos Willian (PTC-MG)
Mário Heringer (PDT-MG)
Inocêncio Oliveira (PL-PE)
Demóstenes Torres (DEM-GO)
Efraim Moraes (DEM-PB)
Tião Viana (PT-AC)
Ney Suassuna (PMDB-PB)
Benedito de Lira (PL-AL)
Ideli Salvatti (PT-SC)

Postagens mais vistas