sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

SERIA POSSÍVEL UM HUMANISMO PARA TODOS? Selvino Antonio Malfatti

 

                                                   Diversidade

Não seria exagerado e até poderia ser dizer que o genuíno humanismo é aquele, conforme Protágoras, que faz do homem a medida de todas as coisas. O que entendemos por Humanismo? Nada mal seria partirmos da proposta aristotélica: as causas do ser. Todo ser se estrutura sob quatro causas: causal, material, formal e final. Partindo da proposta de Protágoras e conjugando com Aristóteles devemos encontrar um humanismo cuja origem seria o homem explicado pelas causas intrínsecas do ser.  Não pode ser um humanismo alicerçado numa máquina fruto de uma inteligência artificial. Um humanismo só pode ser bom quando tiver sua origem no homem, seja elaborado pelo homem e para o bem estar do homem.

Sonho com um mundo ocupando somente algumas horas do dia dentro de um escritório de máquinas que fabricam máquinas. Sonho com robôs automatizados que trabalham em lavouras preparando a terra, eliminando pragas, fazendo a colheita. Outros processando os produtos tornando-os farinha, carne, pão e alimentos.

Sonho com um mundo pessoas se dedicando às artes, ao lazer e ao culto cantando o hino de Beethoven: Alegria dos Homens. Nesse tempo foi eliminado o suor dos homens, por isso, comerão o pão com o sorriso nos rostos. O trabalho humano foi abolido e em seu lugar foi instituído o lazer universal. A dor, a fome, a sede, a doença, o vestuário já não é uma atividade dolorosa para conseguir por que existe em abundância: uma “Civitas Solis” de Tommaso Campanella.

A realidade, porém ainda é outra. Não só do nosso país, como do planeta Terra. Nosso país não tem nem menos nem mais, mas ainda são enormes.

Quando e como chegaremos lá, no reino da Alegria dos Homens? Alguns sonham com sociedade espontaneamente igualitária, na qual os bens pertencem a todos e todos os usufruem conforme seus desejos e necessidades. Outros sonham com uma igualdade compulsória, com um grupo se encarregando de garantir o nivelamento, não permitindo que ninguém e nem grupo algum se sobressaia.  Há ainda os aspiram com uma sociedade convicta da superioridade da igualdade, e por isso age de forma convencida a viver na igualdade. Por fim há ainda uma proposta de igualdade através da qual cada um busca sua própria igualdade. Não seria a igualdade de todos, mas de todos igualmente livres. Pois não é a igualdade que garante a realização, mas a liberdade. Os homens são iguais na liberdade e não iguais na servidão.

Quais os tipos de desigualdade? E quais as diferenças?

Geralmente podem ser consideradas como grandes diferenças entre os seres humanos: gênero e raça.

Primeiramente há que distinguir desigualdade e diferença. A tipologia a cima se refere às diferenças e não às desigualdades. Um homem e uma mulher podem ser desiguais em gênero, mas iguais em renda. Um negro e um branco são desiguais em raça, mas podem ser iguais em status. Um rico e um pobre são desiguais na fortuna, mas podem ser iguais na ocupação hierárquica. E em todas elas, vice-versa também é verdadeiro. Contra as diferenças naturais nada se pode fazer, mas as desigualdades podem ser corrigidas pela liberdade.

O humanismo é do ser humano, isto é, a medida de todas as coisas. Devemos ser iguais? O parâmetro da igualdade ou não, não pode ser o econômico e sim a liberdade. Por isso o parâmetro da igualdade é a liberdade. Se tiver mais bens, ou menos. Se for mais habilitado ou não, não importa desde que não seja impedido de ser. Isto significa que a liberdade supre a não igualdade natural: se a natureza o privou de um corpo perfeito, a liberdade complementa-a, como Hawking. Se a natureza o privou de inteligência, a liberdade providenciará para supri-la como João Vianey, ou Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que perdeu as mãos e os pés, mesmo assim andava e esculpia com ajuda de técnicas, graças à liberdade.

Humanismo sem homem não existe. E o que é o homem? Um ser mortal e finito. Por mais que procuremos razões para justificar a finitude e a mortalidade, não encontraremos. Finitude aqui significa ter fim, findar, e não apenas limitado.  Por isso, não adianta justificar isto ou aquilo quando o principal permanece inalterado: a finitude da vida.

Não há humanismo que resista esta realidade que vai acontecer logo aí? O ser humano tem dois marcos: o berço, inicial e o túmulo, final. E a fé, poderia ser um componente do humanismo? Claro que sim, para os que têm fé. Um verdadeiro humanismo deveria ser válido para todos os homens, caso contrário seria restrito: cristãos, judeus, muçulmanos, hindus e todos os que creem. Por isso é preciso solucionar a questão da finitude.

E se aceitássemos um liberalismo como a autossuficiência de cada homem? A própria finitude deixaria de ser um problema, como a solução. Quando cada homem encontrasse a plenitude da sua finitude, isto seria o humanismo. Esta plenitude abrangeria as diversas dimensões humanas, definidas como plenas por cada um. Se cada um conseguisse tornar plena sua finitude, tornaria também pleno o humanismo dos humanos, desde que fosse extensivo a todos os seres humanos.

sábado, 7 de janeiro de 2023

OS PAPAS JOÃO PAULO II E BENTO XVI. Selvino Antonio Malfatti

 

                                            


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1.         João Paulo II. Vida e Obra

Com o nome civil Karol Wojtyla, O papa João Paulo II nasceu em 18 de maio de 1920, em Wadowice, Polônia. Antes de ser sacerdote foi operário, autor, ator e diretor de teatro.   Foi o primeiro papa de raça eslava. Elegeu-se papa em 1978, no Vaticano, Itália. Ocupou o cargo dei chefe da Igreja católica desde 2005 até a morte.

Considerava o papado uma missão e, portanto, mantinha esta visão em todas as atividades que empreendia. Foi no esforço para por fim ao regime comunista na Polônia particularmente, e de um modo geral na Europa. Procurou melhorar as relações com o judaísmo, a Igreja Ortodoxa, as religiões orientais e a Comunhão Anglicana. Foi criticado pela sua posição contrária ao controle da natalidade, ordenação de mulheres, apoio ao Concílio Vaticano II, reforma nas missas e abuso sexuais dentro do clero.

Tantas viagens empreendeu que o vaticano era para “dormir”. Como papa vivia mais fora do que dentro dele. Foi um dos chefes que mais viajaram. Só durante o pontificado visitou 129 países. Tinha como coadjuvante o fato de ser poliglota: falava italiano, francês, alemão, inglês, espanhol, português, ucraniano, russo, servo-croata, esperanto, grego clássico e latim, além do polaco. 

Sua ascensão aos altares foi meteórica: em 2009, proclamado “Venerável” por Bento XVI, também por Bento XVI proclamado “Beato” em 2011. E em 2014, proclamado “Santo” pelo papa Francisco I, junto com Joao XXIII. A festa litúrgica acontece em 22 de outubro.

2.         Bento XVI. Vida e Obra

Bento XVI, nome civil, Joseph Aloisius Ratzinger, nasceu em  Marktl Alemanha, em 1927 e faleceu no Vaticano em 2022. Foi papa da Igreja Católica e bispo de Roma de 2005 a 2013. Após, Papa Emérito até a morte. Como papa foi o 265º, eleito com 78 anos.

Do mesmo modo que seu antecessor, também era poliglota. Falava alemão, italiano, francês, latim, inglês, castelhano e entendia português.

Membro de várias academias científicas como Académie des sciences morales et politiques da França. Obteve 10 títulos de Doctor Honoris Causa. As obras completas do papa Bento XVI compõem XVI volumes.

Os dois papas diferem de personalidades, mas ambos, a seu modo, dedicaram-se pela vida toda à Igreja. Pode-se sintetizar a diversidade de caráter de ambos.

3. Missão x Função

3.1.        João Paulo II – Para ele a função que desempenha é uma MISSÃO. Por isso sua atividade é considerada pessoal, uma vocação, um verdadeiro sacerdócio. A meta é aspirar à santidade, agir como um herói, com paixão, carisma. O caráter ideológico é submetido e controlado. Comanda a ação. É um  líder, arrasta multidões. Popular, brincalhão, imitava pessoas, falava com a mesma desenvoltura com jovens, crianças e idosos. Nos gestos, ora era sério, ora patético, ora hilariante.

 

3.2.        Bento XVI – Para ele a atividade que exerce é uma FUNÇÃO. Os valores que defende são inegociáveis. A atividade que desempenha é profissional, e por isso, age de forma neutra, burocrática, porta-se como funcionário. Embora não aspire, mas a promoção lhe vem ao encontro com facilidade. Porta-se de forma imparcial, não toma partido. Até que pode contemporizou os abusos do clero, mas condenou os sacerdotes pedófilos.  Às vezes frio, gélido em algumas questões controversas. Um defensor da fé, no seu estilo e caráter. Inarredável naquilo que crê. OPanzerkardinal”, o cardeal blindado. Foi considerado pela crítica como o continuador da obra de João Paulo II, só com outro estilo.  (Luigi Accattoli e Massimo Franco - Corriere).

 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

COMO SE CHEGOU AO 1º DO ANO DE 2023? Selvino Antonio Malfatti

 



Atualmente se quisermos saber que ano,dia do mês ou da semana que estamos, basta olharmos para o calendário ou acessar o celular. Facílimo. Mas, para chegar a tal comodidade foram necessários mais de 3 três mil anos de estudos e experiências. Vou tentar fazer um resumo desta evolução no sentido de que possamos nos contextualizar no tempo e no espaço.

Primeiramente nem todos os povos seguem o nosso calendário, denominado gregoriano. Há vários calendários vigorando pelo mundo. Vejamos alguns povos:  

- CRISTÃO: Ano 1, nascimento de Cristo.

- JUDAICO : Ano: 5783 - 

- ISLÂMICO: Ano: 1444 - Maomé foge de Meca para Medina

- CHINÊS: Ano: 4719

- ETÍOPE: Ano: 2015, entre outros.

Cada calendário tem seu próprio critério de início: 

Judaico, a criação do mundo. Cristão antes depois de Cristo. Islâmico, fuga de Maomé de Meca para Medina. 

O calendário de cada povo varia conforme os critérios adotados para fixar as datas, mas principalmente a inicial. O calendário ocidental e de alguns outros povos é o Gregoriano, devido ao papa Gregório XIII.

Podemos identificar 3 etapas:

1º Calendário Lunar. Possuía 10 meses e começava no equinócio da Primavera. De 30 ou 31 dias. 61 dias de inverno não eram contados. É atribuído a Rômulo, considerado o fundador de Roma em 753 a.C.

2º Calendário Luni-solar - Júlio Cesar.  Reforma realizada por Numa Pompílio, em torno de 713 a.C. Os meses passaram a ter 29 ou 28 dias e acrescentou no final mais dois meses: Januarius e Februarius. O ano tinha 355 dias. De tempos em tempos se acrescentava um mês extra para se adaptar ao ano solar, conforme o calendário de Atenas. Foi chamado de calendário Juliano, posteriormente.

3º Calendário Gregoriano. Foi criado na Europa em 1582, pelo papa Gregório XIII. E praticamente o calendário oficial do ocidente.

Embora tivesse alguma resistência, pouco a pouco foi aceito pela sociedade civil devido a sua praticidade. Para elaborar o novo calendário o papa assessorou-se da comunidade científica da época para lhe dar o respaldo. Foram os principais intelectuais:

“Neste grupo de estudiosos participaram Christopher Clavius,  (1538-1612) jesuíta alemão, sábio e matemático, Ignazio Danti, (1536-1586) dominicano, matemático, astrônomo e cartógrafo italiano e Luigi Giglio,(1510-1576) médico, filósofo, astrônomo e cronologista italiano.” (Wikipedia)

Após cinco anos de estudos, foi promulgada a bula papal Inter Gravissimas.

Os primeiros países a aceitar o novo calendário, o gregoriano, foram Portugal, Espanha, Itália e Polônia. Alguns dirão: os mais atrasados. Ao contrário: Portugal, Espanha e Itália estavam no topo dos conhecimentos científicos na época: sobressaíam-se aos demais em matemática, física, astronomia, geociências, navegação e as demais ciências correlatas. 

Esta é a origem do ano de 2023 que inicia....


 


sábado, 24 de dezembro de 2022

NASCIMENTO DE JESUS NO EVANGELHO APÓCRIFO DE TIAGO.

 

"O Apócrifo de Tiago, também conhecido pela tradução do seu título - o Evangelho Secreto de Tiago (ou Livro Secreto de Tiago) - é um texto pseudónimo dentre os Apócrifos do Novo Testamento. Ele descreve os ensinamentos secretos de Jesus a Pedro e Tiago, o Justo, passados no período entre a Ressurreição e a Ascensão." (Wikipedia)

Este texto apócrifo de Tiago narrando o Nascimento de Jesus é para compararmos com os textos considerados canônicos. Há divergências, mas não tão graves que possam ser consideradas heréticas. Neste, Maria não é esposa de José, apenas uma menina entre seus filhos. O Imperador Augusto convoca o censo. Outra discordância, é atribuída a José com uma extensa prole. Algumas questões, no entanto, coincidem como a gravidez de Maria ser obra do Espírito Santo, a viagem a Belém, o nascimento de Jesus numa gruta de pastores. (Selvino Antonio Malfatti)




 

XVII

 Chegou, então, uma ordem do imperador Augusto, obrigando que todos os habitantes de Belém da Judeia participassem do censo.

Disse José: ¨Posso recensear os meus filhos, mas e esta menina? O que informarei no censo? Que é minha esposa? É vergonhoso. Que é minha filha? Todos os filhos de Israel sabem que não é. Faça-se a vontade do Senhor, pois este é o seu dia¨.

Colocou a sela na jumenta e acomodou Maria sobre ela. Um de seus filhos ia conduzindo o animal pelo cabresto enquanto José simplesmente os acompanhava.

 Ao chegarem a três milhas [de Belém], José notou que Maria estava triste e disse a si mesmo: ¨Deve ser porque a gravidez a incomoda¨.

Olhando novamente, porém, viu que ela sorria e disse-lhe: ¨Maria: o que está acontecendo? Às vezes te vejo triste, outras sorridente...¨

 Ela respondeu: ¨Dois povos foram-me apresentados aos olhos: um que chora e se desespera; e outro que se alegra e rejubila¨.

Atingindo a metade do caminho, Maria disse a José: ¨Desça-me porque o fruto de meu ventre anseia por vir à luz¨.

Então [José] ajudou-a a descer da jumenta e disse-lhe: ¨Para onde te levarei para esconder a tua nudez, uma vez que nos encontramos em campo aberto?¨

XVIII

Descobrindo uma caverna, conduziu-a para dentro e a deixou com seus filhos enquanto se dirigiu para Belém a fim de buscar uma parteira hebreia.

E eu, José, andava mas não avançava; olhei para o espaço e o ar parece-me assombroso; olhei para o céu e tudo estava parado, inclusive os pássaros do céu; olhei para a terra e vi um vasilhame no chão e uns trabalhadores sentados, como se estivessem comendo já que suas mãos estavam sobre o vasilhame; porém, embora parecessem comer, não mastigavam e quem parecia pegar a comida, não a retirava do prato e, ainda, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam porque olhavam para o alto.

Havia também ovelhas sendo capturadas, mas não fugiam e o pastor levantou seu cajado para bater-lhes, porém, manteve sua mão no ar.

Então olhei para o rio e notei que os cabritos punham seus focinhos nele mas não bebiam da água. Por certo tempo tudo parou.

XIX

Então a mulher que descia a montanha me perguntou: ¨Onde vais?¨

Respondi: ¨Procuro por uma parteira hebreia¨.

Ela disse: ¨Sois de Israel?¨

Respondi: ¨Sim¨.

Então ela disse: ¨Quem está dando à luz na caverna?¨

Disse-lhe: ¨Minha esposa¨.

Ela replicou: ¨Mas não é tua mulher?¨

Respondi-lhe: ¨É Maria: aquela que foi criada no Templo do Senhor. De fato, foi-me dada por mulher, mas não o é, e agora concebe por obra do Espírito Santo¨.

Disse a parteira: ¨Isso é verdade?¨

José respondeu: ¨Vinde e vede¨. Então a parteira foi com ele.

2. Chegando à caverna, pararam, pois estava coberta por uma nuvem luminosa.

Disse a parteira: ¨Minha alma foi agraciada pois meus olhos viram coisas incríveis e a salvação para Israel nasceu!¨

Então a nuvem saiu da caverna e de dentro brilhou uma forte luz, de forma que nossos olhos não conseguiam ficar abertos.

 E [a luz] começou a diminuir e viu-se que o menino mamava no peito de sua mãe, Maria.

E a parteira gritou: ¨Hoje é meu grande dia! Vi com os meus olhos um novo milagre¨.

3. E, saindo da gruta, veio ao seu encontro Salomé.

Disse a parteira: ¨Salomé, Salomé! Preciso contar-lhe uma maravilha jamais vista: uma virgem deu à luz. Como sabes, isso é impossível para a natureza humana¨.

Respondeu-lhe Salomé: ¨Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei enquanto não puder tocar os meus dedos em sua natureza para examiná-la¨.

XX

1. Então a parteira entrou [na caverna] e disse a Maria: ¨Prepara-te porque existe uma dúvida sobre ti entre nós¨.

E Salomé pôs seu dedo na natureza [de Maria] e soltou um grande grito: ¨Ai de mim! Minha malícia e incredulidade são culpadas! Eis que minha mão foi carbonizada e desprendeu-se do meu corpo por tentar ao Deus vivo!¨

2. E, se ajoelhando diante de Deus, pediu: ¨Ó Deus de nossos pais: recorda-te de mim, pois sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não me tornes exemplo para os filhos de Israel! Cura-me para que possa continuar a me dedicar aos pobres, pois bem sabes, Senhor, que curava em teu Nome e recebia diretamente de Ti o meu salário¨.

3. Então um anjo do céu apareceu-lhe e disse: ¨Salomé, Salomé! Deus te ouviu! Toque o menino e terás alegria e prazer¨.


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

SEGUNDO TURNO BRASIL – LULA E BOLSONARO. Selvino Antonio Malfatti.

 






A expectativa era grande para ver se haveria Segundo Turno nas eleições de 2 de outubro no Brasil e se houvesse em que porcentagens. E a surpresa foi enorme, pois, parte dos partidários de Lula acreditava, numa vitória no Primeiro Turno. A surpresa do Segundo Turno houve, mas com porcentagens muito próximas entre o primeiro e o segundo.

A título de curiosidade vamos apresentar algumas aproximações e distanciamentos dos dois candidatos.

O atual presidente Jair Bolsonaro do Partido Liberal, de direita, no cargo desder 2019 e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder de uma ampla coalizão aglutinada em torno do Partido os Trabalhadores, de esquerda.

Chama a atenção é um cenário extremamente polarizado, carregado de tensões, já somam três mortes, acontecimentos não comum no Brasil. Os dois candidatos engalfinharam-se na disputa: Lula para ganhar o primeiro turno, Bolsonaro para garantir o segundo turno em 30 de outubro. As pesquisas dos institutos apontam uma vantagem de 10 pontos percentuais para Lula, (50% Lula – 35% Bolsonaro). O resultado, porém, foi bem diverso. Lula não passou de 5% de vantagem.

Um pouco de dados biográficos de cada um.

Lula, sétimo filho do casal de camponeses de Garanhuns, nasceu 3m 1945, nordestino de Pernambuco. Emigrou para São Paulo ainda criança com 7 anos. Trabalhou como vendedor ambulante e engraxate. Aos 14 anos consegue uma profissão de torneiro mecânico. Cedo ingressa no Sindicato dos metalúrgicos e elege-se presidente. No período de 1979/80 lidou grandes greves e acaba sendo preso, permanecendo reclusos 31 dias. Funda o Partido dos Trabalhadores e elege-se deputado em 1986. Tenta chegar a presidência por três vezes, o que consegue em 2002/2006. Em 2010 rodeado de popularidade. É sucedido por Dilma Roussef, que sofre o impeachment. A partir de então começam as investigações judiciais de Lava Jato por crimes de corrupções e lavagem de dinheiro, o que o impede de concorrer às eleições e em 2018 acaba preso por 580 dias. Em março de 2021 recupera os direitos políticos após a anulação das condenações do Supremo Tribunal Federal com a alegação de defeitos técnicos. Lula permanece não condenado juridicamente, mas não absolvido das acusações.

Bolsonaro, paulista de Glicério, filho de descendentes italianos. Por parte paterna de Anguillara, Pádua e materna da Toscana. Ingressa na carreira militar e em 1986 formou-se na Academia militar. Após denunciar os baixos salários num artigo foi por 15 dias preso. Um ano depois é condenado e absolvido por plantar bombas em unidades militares. Em seguida é transferido para a reserva com posto de capitão.

A partir de então começa a carreira política. Eleito sete vezes para a câmara dos deputados. Apenas dois projetos viraram lei dos 170 apresentados. Sua marca é mudar de partido, pois em 30 anos mudou 9 vezes. Em 2018 concorre como candidato antissistema e anticomunista, tornando-se o porta-voz de anti-PT e dos escândalos de corrupção principalmente dos de Lava Jato. Durante a campanha presidencial é vítima de um atentado a faca. Em 2019 deixa o partido PSL e ingressa no Partido Liberal, concorrendo para um segundo mandato. Para seus inimigos desenvolveu ataques xenófobas, racistas e homofóbicas às minorias. Foi acusado também de má gestão da pandemia da COVID-19 causando milhares de mortes. Contudo não se puderam associar as baixas da COVID com a própria gestão.  Examinemos rapidamente o conteúdo ideológico e programático dos candidatos.

Lula. Não se pode dizer que é possível extrair uma coerência ideológica, apenas programática. Debaixo do guarda-chuva de: ” Esperança, amor, trabalho e reconstrução” , apoiado por artistas – como Caetano Veloso e desportistas como Raí –apegado a bandeiras vermelhas, o que fez foi construir um “frente ampla de partidos” visando não só eleitores tradicionais da esquerda, mas também os decepcionados com o bolsonarismo. Edinho Silva, prefeito de Araraquara e coordenador da campanha de comunicação de Lula, explica o programa de Reconstrução e Transformação do Brasil:  "Inclusão social, combate à fome e à pobreza, aumento do salário mínimo e recuperação econômica, multilateralismo nas relações internacionais”. Em síntese aumentos de gastos sociais e incremento da ação do Estado, bem como “políticas específicas para a população LGBT+, negra e indígena.” 

"O que realmente lamento é que a social-democracia brasileira tenha afundado junto com Lula. Alkmin e os tucanos acompanhando o ex-presidente larápio no palanque, suicida-se politicamente e leva consigo os tucanos. Lamentável. Porque a social-democracia ainda teria algo a dizer nestes tempos de crise, reconhecendo os seus erros e baixando o nariz empinado com que enfrentou o eleitorado ao longo desta insossa campanha."  (Publicado em: 17/10/2022 – Ricardo Velez Rodríguez-LULA MENTINDO O TEMPO TODO)

Bolsonaro. Vale-se de 4 pilares: Deus, pátria, família e liberdade, para levar adiante sua campanha eleitoral. Com a bandeira verde-amarela o “capitão” puxa as motociatas, seguido por milhares. Entre eles estão Neymar do PSG, com o balé no tiktok e o ex-piloto da Fórmula 1, Nelson Piquet. Um programa econômico para levar o Brasil à potência mundial. Para tanto aponta para: “geração de emprego e renda, a liberdade de negociação contratual, a redução da burocracia e da carga tributária, a desregulamentação para estimular o empreendedorismo, o aumento da produção agrícola, mineradora e de fertilizantes”. 

"Bolsonaro, na correria da campanha que se alastra penosamente com as chuvas extemporâneas desta primavera que não decola, faz o que pode, mostrando a falta de objetividade do seu adversário e pontuando as realizações feitas pelo seu governo no último quatriênio. Erros houve. Mas também houve correção de rumos e tentativas de reerguer a nossa combalida economia. Coisa que, convenhamos, o atual governo tem conseguido fazer. Não é o melhor dos mundos possíveis, mas é o que o governo, aliado ao Parlamento, conseguiu realizar, para minorar a penúria.!" ((Publicado em: 17/10/2022 – Ricardo Velez Rodríguez-LULA MENTINDO O TEMPO TODO)

Ideologicamente cremos na hipótese de que Lula propõe uma democracia, nos moldes do socialismo ortodoxo de Fidel Castro de Cuba e Hugo Chavez da Venezuela. São suas companhias. Seria um socialismo não democrático, mas populista.

Enquanto Bolsonaro acredita no conservadorismo. Suas companhias Donald de Trump e Joe Biden, dos Estados Unidos. Seria um conservadorismo não genuinamente democrático, mas autoritário. 

E se o ditado for válido: DIGA-ME COM QUEM ANDAS....


sexta-feira, 21 de outubro de 2022

BRUNO LATOUR E A DESMODERNIDADE. Selvino antonio Malfatti.





Por que não aderimos à alimentação artificial?

Bruno Latour, nascido em 1947, em  Beaune, França,  ficou conhecido no mundo intelectual como o filósofo da ciência e da ecologia política. Deixou o mundo durante a noite de 9 de outubro de 2022, com 75 anos, Paris, França,  coincidentemente no mesmo ano que James Lovelock, seu grande inspirador, também faleceu. Foi graças a Latour e Lovelock que o termo Antropoceno recebeu popularidade.  E foram os dois que despertaram interesse pela nova ecologia, graças a seus ensaios sobre o tema, como Let us feel. Foi influenciado por: Gilles Deleuze, Michel Serres, Peter Sloterdijk, e por sua vez influenciou: Ian Hacking, Graham Harman, Levi Bryant, Steve Woolgar, Reiner Grundmann.

Latour tem uma maneira peculiar como pensador. Em vez de fundamentar sua proposta no conhecimento das teorias das grandes autoridades no assunto, produzindo, portanto, um conhecimento fundamentado, já testado, prefere buscar in loco, ao vivo, no momento vivo que se realiza. Para tanto, peregrina por onde a pesquisa palpita viva, nos laboratórios, tribunais, exposições artísticas e em novéis trabalhos de campo. Aí busca não o que já é consensual, mas o controverso, o polêmico.

De certa maneira Latour quer repetir o renascimento científico ao se propor voltar às fontes do pensamento da modernidade, apoiando e negando a divisão tradicional entre natureza e cultura, entre um mundo humano feito de afetos, intenções, consciência, escolhas contrapondo-se a um mundo natural, carente, potência de vontade e ação, ou de “agência”, como é definido pelos britânicos.

Conforme  Latour  a palavra “modernidade” é apontar para uma direção e mesmo uma palavra de ordem, daquelas que mais incitam para uma ação do que para um conteúdo científico. É um chamamento para o crescimento sem estar limitado, ao incremento tecnológico sem se preocupar com a crítica reflexiva. Um convide para deixar de lado as condições do planeta, uma exaltação ao progresso do ponto de vista apenas humano.

Num dos seus livros “Nunca Fomos Modernos” imbuídos que fomos da ideologia da modernidade associada à ideia da negação dos direitos dos outros ( extensivo a populações e outras formas de vida). A exacerbada exaltada da falsa autonomia ocidental que se abrigou no esconderijo da dependência e relação com outros seres humanos, vivos e não humanos. Se atualmente o conceito de não humano já se encontra constituído isto foi devido a Latour e Lovelock que mostraram que todos os seres da natureza estão submissos às mesmas leis invioláveis, contrariando um dos princípios fundamentais da modernidade. Senão vejamos: enquanto Latour pronuncia estas palavras emocionantes em algum momento, como contra prova, numa refeição, um ser humano tem diante de si outro ser não humano, como um prato de cordeiro, ave, gado, peixe, ovos ou outro alimento. Cada romper do dia milhares de cabeças de gado são abatidas, frangos aos milhões, suinos às centenas e centenas, redes cheias de peixes, crustáceos, animais silvestres, todos são mortos para manter o homem vivo.Com que direito se apodera de outros seres? Diz que há um Código de Ética para Humanos e outro para Animais. Elaborado por quem? Se invertesse a autoria dos códigos continuaria ser justo? Por que um animal não poderia saborear um ser humano como os canibais brasileiros faziam, com a consciência mais pacífica do mundo. Por que inocentes animais podem servir de alimento aos seres humanos e não vice-versa ou simplesmente ser uma ação antiética para todos?

E se, em vez de devorarmos animais, por que não criamos artificialmente o que necessitamos. Vejamos a proteína, carne. Já dominamos a técnica da “carne artificial”. Sua obtenção é através das células-tronco. As células são obtidas através da retirada de um músculo vivo e cultivadas num biorreator que reproduz as condições de um corpo animal (temperatura, acidez pH etc.;) nutrientes para que as células se multipliquem exponencialmente. Com isso, uma única célula pode produzir 10.000 quilos de carne. (https://www.corriere.it/dataroom-milena-gabanelli/ )

O ecossistema em que vivemos animais, plantas, vírus bactérias, oxigênio e metano é um mundo co-construído, do qual o ser humano é apenas UM dos inúmeros anéis. Foi necessária a pandemia para nos alertar que estes seres invisíveis estão entre os seres vivos e não vivos que construíram nosso corpo ou que vírus e bactérias é a redoma atmosférica de nosso habitat. Esta é uma zona restrita da Terra destinada à vida de humanos e não humanos e que reage às interferências.

A proposta de Latour é superar a modernidade. É deixar de lado a atitude arrogante e destrutiva, de qualquer ideologia, quer seja socialista da Rússia de Putin, da liberal dos Estados Unidos de Biden, da social democracia da Alemanha de Scholz entre outros. Tal como uma partitura é preciso compor novamente o mundo, respeitando os humanos e não humanos. Latour aponta a direção: RUMO A DESMODERNIDADE.


 

 


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