Á
perda de referências culturais e valores que eram caros até poucas décadas, a
ausência de confiança no bem, as brutais mudanças no mundo do trabalho, os
conflitos regionais, a emergência climática são desafios atuais abordados por
vários estudiosos. De algum modo eles encontram no novo nacionalismo de
inspiração nazifascista uma proposta para enfrentá-los. De modo diverso do
antigo nazifascismo esse novo modelo político-econômico rearranjou a combinação
liberdade econômica e autoritarismo político. Nesse caso, não há propriamente
um casamento do Estado com o empresariado nacional como no século passado, mas
a aproximação dos dirigentes do Estado com as grandes corporações
multinacionais e com o capitalismo financeiro.
Esse
fenômeno foi examinado e descrito por Bauman e Mauro no livro Babel.
Nesse modelo político-econômico, que é uma nova forma de nazifascismo, seus
representantes apostaram na fragilização do discurso político e dos partidos, o
que ficou facilitado pela incapacidade de reação de liberais históricos,
principalmente os moderados e da falta de compreensão dos fatos pela social
democracia. Vamos considerar que radicais de esquerda ou de direita, não
possuem as melhores respostas para a grande maioria da população. Radicais
viram as costas para a lei, para a democracia, para o estado eficiente e a
moralidade. Liberais consequentes e respeitosos do estado de direito, sejam
eles mais ou menos conservadores, emudeceram e deixaram o combate da extrema
direita para a social-democracia. Essa realidade criou um ambiente propício à
emergência de uma nova extrema-direita, com líderes populistas e uma pauta
moral conservadora. Em resumo, o centro democrático encontra-se fragilizado.
Esse contexto entregou aos partidos mais à esquerda a tarefa de preservar o estado
de direito, as políticas sociais e a democracia. Apesar da fragilidade desses
partidos são eles que procuram preservar a democracia e as políticas sociais,
valorizar a ciência, proteger o trabalhador e assumir a responsabilidade pela
pauta ambiental.
Enfim,
não temos mais um estado social como no século passado, o mundo do trabalho
ficou precarizado, mas apesar disso, seu projeto político é dessemelhante das
posições assumidas pela extrema-direita. O estado do bem-estar social
encontra-se em grande dificuldade, bem como o próprio funcionamento do
Estado-nação em função da desterritorialização do capital. Assim, com o motor
da economia nas mãos das grandes corporações, inclusive de narrativas criadas
nas redes sociais recheadas de fakes, trabalhadores, profissionais
liberais e mesmo o capital que tem interesses localmente situados encontram-se
fora do protagonismo econômico. À parte de que radicais de qualquer orientação
não ajudam o jogo político, o fenômeno mais curioso é a desorientação dos
liberais históricos, eles deixaram de ocupar o campo político. Eles não se
sentem representados pelos sociais democratas, acabam se aproximando da extrema
direita, mas ela não está alinhada com seus interesses.
Os
autores de Babel que estudaram esse fenômeno, entenderam que a
fragilização do estado do bem-estar social, que notamos hoje em dia, teve
origem na mudança do capitalismo industrial para o financeiro. Na nova
realidade, o capital já não necessitava conviver com o trabalho num certo
local, o que é uma boa explicação para a destruição das políticas sociais e de
investimento dos Estados nacionais. Assim, como não lhe é imprescindível a
democracia política para negociar interesses contraditórios de uma sociedade,
pois o importante é que o Estado passe a funcionar como uma delegacia de
polícia para conter consumidores falhos, expulsar estrangeiros indesejáveis,
perseguir minorias e quaisquer contestadores da nova ordem. E muitos
empregados, boa parte da classe média, o empresariado local passou a apoiar
políticos de extrema direita porque temem se tornarem eles próprios
consumidores falhos. Ao fazer isso passam a defender um projeto político que,
em suas grandes linhas, não lhes favorece e que foi resumido no conceito de
pobres de direita.
Assim,
embora não seja possível prever o sucesso da solidariedade social nas
democracias sobreviventes, essa forma de governo parece ser a que melhor atende
os interesses da cidadania, do cidadão comum, incluído o empresário localmente
instalado. Não se pode reunir, pelo menos atualmente, a esquerda e a direita na
tendência antidemocrática e não é à toa que a ultradireita emergente retomou,
como no século passado, um viés nitidamente antidemocrático. Essa ultradireita
defende a liberdade, mas o conceito apenas traduza a possibilidade de o capital
ir e vir sem dificuldades, desregulamentando o mundo do trabalho, deixando de
considerar os interesses locais, mesmo os dos empresários localmente situados.
Assim, esse novo mundo favorece o enriquecimento dos super ricos, promovendo
uma concentração de riqueza sem precedentes na história humana. Assim, os dois
autores nos oferecem uma síntese da face política e econômica da atual crise de
cultura.
BABEL, está muito bem identificado.
ResponderExcluirNos tempos de hoje tudo é muito rápido, difícil ter respostas, para tantas inquietações.
ResponderExcluirMas Babel, tenta levar o leitor a aprofundar seu conhecimento e entender o momento.
Muito triste ler a realidade que vivemos, o estado uma máquina feroz cobrando impostos, com total desperdício.
ResponderExcluirAs dívidas para o povo.
Bem-estar social, aos privilegiados.
Viva BABEL.
Não se trata de unir lados opostos.
ResponderExcluirPrecisamos falar a mesma linguagem.
Falta conhecimento da realidade que temos nos muitos brasis.
Os muitos " brasis" e a ilha da fantasia, Brasília.
ResponderExcluirAssim estamos vivendo, Babel.
O desnível pobreza e riqueza sempre existiu, o rico quando tem uma empresa, dá emprego, se for um bom patrão está cooperando com o quem precisa deste trabalho.
ResponderExcluirErrado este jeito de tratar o empreendedor como explorador.
Solidariedade social, é questão de educação.
ResponderExcluirO governo não dá conta, não é pauta de esquerda, deve ser plano de governo, independente de partido político.
Verdade, devemos apreender a unir, não desunir, não colocar uns contra os outros.
ResponderExcluirPara Deus somos todos iguais.
A pauta é liberdade e respeito, o que aprendemos com nossos pais.