As questões apresentadas no livro Babel foram expandidas em Estado de crise (2016 b) por Bauman e Bordoni. Nesse outro livro, o que chama atenção é a ideia de que a crise cultural e econômica atuais não são rápidas ou passageiras como outras, pois elas revelam uma mudança extensa e profunda que envolve todo o sistema. Bardoni entrou no assunto vinculando as dificuldades atuais com as experimentadas na modernidade, enquanto Bauman mostrou essas dificuldades e ofereceu pistas para superá-la.
Um aspecto importante dessa análise é a avaliação de que a crise, sendo fruto de intensas mudanças, representa dificuldades, mas também oportunidades. Dizem (BAUMAN e BORDONI, 2016 b, p. 11): “a crise é fator que predispõe à mudança, que prepara para futuros ajustes sobre novas bases.” No entanto, a descrição do atual estado de coisas, indica mais dificuldades que oportunidades.
O aspecto central da crise atual é sua dimensão global, devido a interligação dos interesses econômicos de modo que (id., p. 12): “uma queda da bolsa de Tóquio tem repercussões imediatas em Londres ou Milão.” Embora as questões sejam globais, nações e cidades é que enfrentam suas consequências, quase sempre com pouca chance de sucesso. Dito assim (id., p. 34): “cada unidade territorial formalmente soberana pode hoje servir como depósito de lixo para problemas originados muito além do alcance de seus instrumentos de controle político.”
As dificuldades atuais, experimentadas num outro contexto, mostraram que as soluções adotadas na crise de 1929 não podem ser repetidas e a razão mais forte é a fragilidade do Estado decorrente de problemas de caixa por conta da desterritorialização das corporações financeiras, o interesse global delas. Isso produz uma separação entre poder econômico e político. Esclarece o sociólogo (id., p. 22): “a separação entre poder e política é uma das razões decisivas para a incapacidade do Estado de fazer as escolhas apropriadas para enfrentar as dificuldades.”
Olhado desde dentro a crise econômica consome crescentemente recursos com bens básicos para aqueles que têm emprego, estimula a parte menos afetada da população a aumentar os gastos com o consumo de bens e serviços para aproveitar o momento, reduzindo sua capacidade de investimento e de atuar na produção. Na outra ponta, a queda no consumo produz a elevação dos preços para assegurar a lucratividade e isso também piora o quadro geral. Entra-se na estagnação e na carestia.
O resultado de momentos assim é o aumento da inflação, sendo ela (id., p. 14): “a pior consequência de qualquer crise econômica porque engole as economias de toda a vida e reduz as pessoas à fome num período curto, o dinheiro já não pode comprar nada e instala-se o desespero.” Daí resultam dificuldades crescentes e o desencanto com os políticos, a desilusão dos eleitores, favorecendo a expansão das propostas da extrema direita.
A compreensão da evolução histórica de outras crises, principalmente a de 1929, ajuda a entender o que se passou recentemente, depois do desenvolvimento inicial, sucesso do Estado Social e sua desidratação nos anos 70. No início os (id., p. 19): “gloriosos anos trinta e os opulentos 30 foram resultado da evolução do Estado de bem-estar social e de uma confiança limitada na sua capacidade de assegurar bem estar e segurança para todos os lados.” O Estado Social, depois de enorme êxito no final da guerra, começou a perder fôlego, quer pelo aumento das demandas sociais, quer pela perda de arrecadação resultante de processos como a desindustrialização, quer pelo distanciamento das grandes corporações dos interesses locais, quer pela perda da capacidade das pessoas de poupar para o futuro.
Da fragilidade do Estado vieram a propaganda da privatização, da terceirização, etc. e a confiança absoluta no poder do mercado de promover os ajustes necessários. Governos fizeram a redução da presença do Estado na vida social, deixando o cidadão na obrigação de resolver suas dificuldades por conta própria. Daí resumindo o que se passa, a crise atual difere das outras na (id., p. 21/2): “medida que é vivida numa situação de divórcio entre o poder e a política. Esse divórcio resulta na ausência de agências capazes de fazer o que toda crise por definição exige: escolher de que modo proceder e aplicar a terapia reclamada por essa escolha.”
Em meios a essas dificuldades o caminho possível para as sociedades é a construção de sólidas democracias onde o povo discute os problemas e suas soluções.
Uma leitura interessante.
ResponderExcluirApreender não ocupa espaço.
ExcluirImportante é discutir para encontrar as soluções, não fazer politicagem, tentando derrubar o adversário.
ResponderExcluirNão acredito em crises passageiras, sem solução para os problemas, a crise segue crescendo e criando outras crises.
ResponderExcluirNada é mais difícil do que explicar o inexplicável, assim um estado ineficiente sempre tem desculpas pela incompetência.
ResponderExcluirTem mesmo que privatizar, os impostos servem para viver muito bem as custas do sacrifício do povo.
ResponderExcluirAo governo incompetente deve sobrar o mínimo.
Muitas transformações, muita ambição a humanidade desumana.
ResponderExcluirEsperar o quê?
Para o povo?
ResponderExcluirNada, só as migalhas.
Os amigos do rei, tudo.
Os estudos de Bauman que temos apresentado não são completos, mas mostram um sério aspecto dos nossos tempos com a crise do Estado social e suas consequências negativas para a enorme maioria da sociedade.
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