A
religião, como fato cultural, é uma das dimensões fundamentais da Vida. Tem um
lugar importante no pensamento moderno ao lado da Ciência, da Filosofia e das
Artes em geral. Ela enseja uma forma de ver o mundo e uma das fragilidades da
modernidade foi perder de vista o significado da religião e de uma linguagem
que ligue o homem com a transcendência.
O
ocidente tem a Bíblia cristã, com seus dois testamentos, como livros sagrados,
incorporando, assim, o essencial do livro sagrado dos judeus. No Primeiro Testamento
(também chamado de Antigo Testamento) vemos que a religião ditava o ritmo da
vida e inclusive os rumos da política. Disso tratei no livro sobre Martin Buber, publicado pela Filoczar de
São Paulo. Ali mostramos que depois de sair do Egito, o povo judeu (CARVALHO,
2017, p. 77): “procurava Moisés para decidir sobre todos os assuntos da vida
diária, por isso ele foi aconselhado a ter auxiliares para se dedicar apenas
aos assuntos mais importantes de sua missão. A organização do povo naquele
momento da viagem se assemelhava a das tribos de Madián, que eram diversas e
tinham experiência de como se organizar nas andanças pelo deserto. E, para
cumprir sua missão, Moisés adotou a forma de organização sugerida pelo sogro,
uma estrutura sem alma copiada dos medianitas. Como explicou Buber, esse foi um
acontecimento realmente histórico, já que os medianitas tinham experiência de
como organizar as andanças pelos campos da região.”
Segue-se a estruturação moral da
sociedade pela lei mosaica, que a fé do povo acolheu como vinda diretamente de Deus.
Embora, na sequência da história, a organização política foi entregue aos
juízes e reis, enquanto a vida religiosa ficava a cargo dos sacerdotes. Na era
profética, os homens de Deus sempre tinham algo a dizer sobre a vida e
influenciavam o destino do povo, inclusive a política.
A boa
novidade dos tempos modernos na Europa foi organizar a vida política à parte da
religião. Isso porque havendo várias religiões cristãs num mesmo Estado
Nacional era melhor deixá-las cuidando de assuntos espirituais e oferecendo uma
moral íntima, ajudando, enquanto organização, a formatar uma moral social laica.
Assim, religiosos e seus interesses ficavam fora da organização política da
sociedade. Foi preciso revisar o pensamento judaico-cristão para ele não
alimentar o fanatismo religioso, não estimular o ódio a outras crenças e nem tentasse
impor à força uma religião, uma fé, uma perspectiva de mundo. Ficou claro, para
o homem moderno, que uma sociedade de irmãos é um ideal moral e somente nesses
termos encontra justificativa em nossos dias, como explicaram o judeu Martin
Buber e o notável teólogo protestante Paul Tillich.
É
claro que, como a sociedade caminhou no sentido da laicização, em alguns
setores eclipsou Deus, resultando em dificuldades para lidar com o sagrado. A
laicização acabou plantando sementes de uma crise que desabrochou em nosso
tempo. Essa semente não foi, contudo, a única responsável pela crise de cultura
atual. Chegamos por muitas influências à sociedade líquida e
desinstitucionalizada. Como se trata de assunto complexo não temos como entrar
nos múltiplos elementos dessa crise nesse pequeno ensaio.
Um
fato novo e estranho de nossos dias foi o apoio de religiões neopentecostais a
um pensamento de direita e extrema-direita, em razão de um interesse comum, a
pauta de costumes conservadores. Essa aproximação não apenas dificultou parte
da sociedade discutir os novos problemas morais e conversar com o que hoje
temos, como trouxe para o discurso político a mesma intransigência,
fundamentalismo e radicalismo que marcam essas crenças. Isso deu ao assunto um
clima que em nada favorece um ambiente saudável de debate, que consiste em dar
e ter reconhecida a razão quando se discute o destino dos grupos.
Some-se
a isso a popularização das redes sociais usando um algoritmo que aproxima os
que pensam iguais e afasta quem pensa diferente. Concebido para vender e
identificar interesses comuns entre consumidores, as redes sociais e sua forma
de funcionamento, alimentam a radicalização do pensamento político e favorecem
um ambiente antidemocrático que precisamos revisar e modificar.
O futuro da democracia vai exigir que
essas duas realidades, a religião e a política, sejam acompanhadas e revisadas
para superar os discursos de ódio, o unilateralismo, o fanatismo e,
especialmente, para manter a distância necessária entre as religiões e o espaço
político.
Concordo, religião e seus interesses devem estar fora da política.
ResponderExcluirVocê precisa entender não é fanatismo, apenas queremos família unida, não sufocada pelos desmonte de valores éticos e morais.
ResponderExcluirTeorias são importantes, mas a ganância e o poder tornam as pessoas insensíveis.
ResponderExcluirA ganância virou uma compulsão desenfreada, é triste ver o que estão fazendo com nosso país.
ExcluirSe as religiões são parte da sociedade, que participem da política.
ResponderExcluirDiscursos de ódio, uns contra os outros e a doutrinação são armas políticas.
ResponderExcluirMe criei e cresci, sem ódio, éramos todos amigos.
Sou a favor de conservar o ético, hierarquia e limites são valores na família e na sociedade.
ResponderExcluir
ResponderExcluirDemocracia é liberdade de expressão, o que estamos vivendo hoje? Falar de futuro?
QUAL O FUTURO?
O homem perdeu sua ligação com o Criador, tornou-se vazio, sem fé.
ResponderExcluirMelhor influenciar o destino dos jovens para Deus.