A universidade como ente abstrato mantém o elo de união do ente concreto, seu povo. Ela é o espírito da nação. Nela todas as energias espirituais encontram um corpo para viver. Nela se encontram todas as forças que se entrelaçam e aprofundam o pensamento. A universidade é a alma de coesão de um povo formado pelo corpo de suas partes nela conjugadas (Donatela Sciuto- reitora do Politécnico de Milão).
Qual o vinculo da universidade brasileira com a sociedade? Constata o filósofo e professor do PUC-SP, Luiz Felipe Pondé, o cenário político partiu o Brasil em dois continentes separados por águas ideológicas inconciliáveis. O que acontece com a política na sociedade em geral, repete-se também na universidade brasileira: uma esquerda autoritária e uma direita impotente.
A primeira busca seu próprio bem travestido de uma moral filantrópica. É o Ogro filantrópico de Meira Penna. Esta mesma ideologia embota o pensamento. A realidade que se dane, deve submeter-se à ideologia. É o heliocêntrico submetido ao geocêntrico. Não importam as experiências de Galileu, mas a doutrina da Igreja. É o lulismo.
Por sua vez o bolsonarismo vazio de ideias, está tentando comover os eleitores mostrando a saga de uma pessoa esfaqueada, sempre doente, perseguida pela justiça e encarcerado injustamente. Numa palavra, uma teimosia e uma incapacidade de superar uma ideologia de direita personalista.
Sabemos por Bauman que vivemos um tempo liquido, no qual, como nuvens, a realidade se faz e desfaz. Neste cenário de incerteza e falta lideranças autênticas e preparadas espera-se da universidade que assuma a direção dos fatos e que seja um farol a guiar a sociedade. Porém, o pior acontece: ela mesma se atrela ao torvelinho da voragem ideológica que engole tudo e a todos.
A delinquência cobre o território nacional, a corrupção assusta qualquer cidadão. Os noticiários mostram 99% de assassinatos, assaltos e corrupção. E o restante 1%, futebol.
Os poderes da República. De harmonia não existe mais nada, é só divisão. Cada um quer emplacar mais cargos para seu partido: preenchimento de vagas para o Supremo, procuradoria geral da república, diretorias, presidências e assim segue. Tudo nutrido com o suplemento alimentar das emendas parlamentares.
E o país? Desprezado pelo Estado. O povo conta moedas para pagar transporte, não existe para os poderes. Enquanto o povo junta moedas, a elite política careia milhões ou bilhões para seus bolsos. Como diz Pondé: “o Estado opera contra o cidadão”.
E pensar que toda essa patifaria conta com a anuência da maior parte da imprensa que lambe as botas do Lula, descaradamente. Fosse um presidente que não pertencesse a gangue, a imprensa teria descascado essa coisa ridícula que foi essa balada em Belém, com direito a incêndio, falta de água nas privadas e bate boca com o chancelar alemão que nada disse além da verdade nua e crua sobre o evento e sua organização. O Brasil nunca foi um país sério.
Neste cenário político, qual o papel da universidade?
A primeira missão da universidade é afastar-se do jogo político do aqui e agora e pautar-se pela racionalidade. Se o Estado age contra o cidadão a universidade deve ir ao seu encontro.
Para tanto instituir-se como espaço crítico, acima do jogo político de slogans produzindo um conhecimento científico por excelência. Apresentar-se como uma instituição educativa e civilizadora. Num meio de descrença nas instituições apresentar-se como tábua de salvação, dando exemplo de premiar pela competência e mérito. No momento que lá fora da universidade a ferocidade devoradora engole adversários a universidade seja um espaço racional de lugar comum de ideologias, raças, credos e gêneros. Enquanto lá fora se vive o dia a dia, a universidade projeta futuros, faz cenários de reformas, apresenta diagnóstico e sugestões. Aponta saídas para soluções para violência, modica estruturas arcaicas e opções para corrupção sistêmica.