sexta-feira, 12 de setembro de 2025

SÍSIFO – MITO E SÍMBOLO. Selvino Antonio Malfatti

 



Um rei de Corinto, Sísifo, extremamente esperto conseguia enganar os deuses Tanatos e Hades e por isso foi condenado e como castigo devia rolar uma pedra do pé da montanha ao cume e chegando lá a pedra rolava de volta e ele a subia e ela voltava, assim para sempre.

Se considerarmos um mito então concordamos que foi uma crença de um povo num determinado momento histórico. No entanto, se pensarmos como uma fábula como as de La Fontaine, pode ser interpretada de varias formas e aplicar aos tempos atuais. Sabemos que as fábulas encerram uma lição, uma moral, um ensinamento para a vida prática. Há ainda outra forma de considerar o texto, um símbolo. Neste caso, o texto representa algo. Reflitamos a colocação do autor e tentemos entender a mensagem.

À primeira vista, uma tarefa interminável, sem vitória, um castigo cruel e sem sentido, mas por trás dessa narrativa há lições profundas para a vida prática.

O trabalho de Sísifo de rolar continuamente a pedra significa as tarefas repetitivas: acordar, fazer a higiene, alimentar-se, trabalhar, descansar e no dia seguinte a mesma coisa. Sonhamos com a vitória fina e fim! Como ganhar na loteria. Fim de trabalho, só lazer. Contudo, a vitória é uma conquista de rotinas, repetitivas e prosaicas. Nada de glória repentina.

O mito nos lembra de que a existência não é feita apenas de conquistas definitivas, mas também de processos que se renovam. O valor, portanto, não está apenas no resultado, mas no ato de persistir.

Por outro lado Albert Camus, ao refletir sobre Sísifo, fala do absurdo da vida, a aparente falta de sentido diante da inevitabilidade da morte. No entanto, ele nos convida a “imaginar Sísifo feliz”. Por quê? Porque, mesmo diante do inevitável, Sísifo é livre para escolher a atitude com que encara sua condição. Da mesma forma, não controlamos todas as circunstâncias, mas podemos escolher como reagir a elas. O sentido pode nascer não do destino, mas do caminho.

O sentido nos direciona para a inevitabilidade do esforço repetitivo de nosso dia a dia. Não existe uma vitória momentânea e definitiva. A vida é composta de trabalho, estudos, atitudes, reerguimentos contínuos sem fim. Diante disso poderíamos concluir pelo absurdo da vida. Como diria Albert Camus: a morte é inevitável e esvazia todo sentido. No entanto, e no máximo, podemos imaginar Sísifo feliz por cumprir livremente a missão, mas sem esperança.

Até aqui a interpretação dos pagãos. Daqui em diante começa a interpretação de quem crê em Jesus Cristo. Este também carregou uma cruz monte a cima até o calvário. Nem a cruz nem Jesus voltaram para subir  novamente. Jesus morreu nela e com isso acorrentou o mal (Tanatos-morte) e salvou a todos que jaziam no vale de lágrimas aguardando a salvação (hades).  Com isso o sofrimento deixou de ser um absurdo, mas uma lapidação para a vida eternamente feliz. 

A pedra (cruz) tornou-se símbolo da esperança.

 

terça-feira, 2 de setembro de 2025

O CAMINHO. O VERDADEIRO. Selvino Antonio Malfatti





Estamos cercados, encurralados, andamos de um lado para outro sem achar um lugar para ficar como os habitantes de Gaza. Estamos rodeados de guerras: Ucrânia-Rússia, Israel-Hamas, Irã-Israel. As guerras estão lá, mas estão aqui. Estamos no meio delas. Somos escudos, pontarias indefesas. Para onde vamos? Qual o caminho?

Não é feio, nem antiquado voltar. Um dos exemplos mais clássicos e contundentes de voltar para melhorar foi o Renascimento no final da idade média. O homem tinha tomado um atalho, deixado tudo para trás e chegou num beco sem saída. Dante sintetiza numa palavra “la diritta via era smarrita": (o caminho verdadeiro estava apagado) - Canto I do Inferno. Diante disso as lideranças humildemente se perguntaram: onde nos desviamos?

A resposta saltou aos olhos:

- abandonamos tudo o que até então havia sido conquistado pelos: egípcios, romanos, gregos, hebreus. A decisão:

- Voltemos e retomemos o caminho certo.

E o que encontraram que havia sido abandonado? O humano.

E atualmente estamos de novo perdidos. Na Idade Média, no afã de procura do divino, esqueceu-se o humano. E agora? Conforme Hannah Arend, em “Vita Activa” o esforço para libertação do homem da “prisão terrena”. O cristianismo fala na terra como “vale de lagrimas” e os filósofos no corpo como “prisão da alma”. Até então, porém, nunca havia sido mencionado como “terra prisão do homem”. Diz Arend: “Renunciamos a Deus, que era um Pai celestial e, como pai, dialogamos com a mãe Terra". Na mesma linha apontam as experiências de criar seres superiores, evidentemente libertos da terra. Passados setenta anos do Sputnik o firmamento tornou-se uma autoestrada cheia de satélites, mais de 7 mil, orbitando sobre nossas cabeças.

E no que deu a civilização? Guerras e ameaças, invasões, crises econômicas e degradação dos costumes, que podem acabar com uma hecatombe mundial. Pode, porém, acabar de outra maneira, menos grandiosa, mas não menos fatal. O excesso de bem-estar.

Uma fatia da população vive satisfeita, sem preocupações. Comida em abundância, ausência de problemas. A única preocupação é com o máximo de lazer. Trabalho? Nada. Estudos? Para quê? Argumentam:

- Não consenti para nascer. Agora que sustentem.

Celulares garantem comunicação imediata e com quem agrada. Nem mesmo a saúde se escapa. Se o médico discordar troca o médico.

É um novo mundo que se aproxima como um asteroide prestes a chocar-se contra a civilização atual e destruir tudo. E a apatia toma conta das últimas gerações. As salas da internet é o mundo virtual  criado com total liberdade para mutilar, estuprar e matar num delírio coletivo. E novamente a pergunta: onde nos perdemos.

É verdade que há uma diminuta população jovem que não nasceu em berço de ouro, nem extrema pobreza. São jovens comuns que tem pais, professores e outros orientadores que mostram o caminho não com palavras, mas vivência, que encaram os desafios. Não por suas próprias forças, mas com elas e com apoio de alguém, ou de algo, enfrentam as dificuldades e as vencem. Fui voluntário de grupos de apoio a familiares de dependentes químicos. Constatei que conseguia vencer quem tinha uma família que apoiasse e uma religião que lhe desse um sentido superior. Era preciso a conjunção de dois fatores: a família e a religião. A família poderia ser um amigo, um professor, um psicólogo e a religião um motivo supramaterial, algo espiritual, um ideal.

Nesta linha a volta ao verdadeiro caminho, o renascimento ético-moral da sociedade atual, necessita de uma análise crítica do contexto contemporâneo. É preciso encontrar a “vera via” que foi “smarrita”. Hoje o verdadeiro caminho foi substituído por aparências, consumo, prestígio social. O verdadeiro caminho são os valores universais do amor, compaixão, responsabilidade pelo outro e respeito à vida. O caminho apagado é o relativo, o descartável. Seu oposto é o caminho objetivo, duradouro, enraizado na verdade e na consciência. Não se pesa por “likes” ou o quanto é útil, o bem que proporciona a cada um. O caminho verdadeiro é o bem autêntico que nasce da empatia, da escuta e da ação desinteressada, não de atitudes feitas por obrigação ou autopromoção. O novo Renascimento:

 A VOLTA À INTERIORIDADE.


sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Terrivelmente evangélico foi Paulo de Tarso. José Mauricio de Carvalho

 

 



A vida contemporânea como todas as épocas de mudança e transição exige grande esforço de compreensão e atualização. Entendê-la sim, mas sabendo distinguir aquilo que chega como possibilidade e oportunidade, do que parece menos adequado e razoável. Alguns filósofos passaram a denominar esses dias do umbral de um novo tempo que se seguiu à pós-modernidade.   O conceito de pós-moderno é complexo, ele migrou da Arte para a Filosofia e ganhou forma no desconstrutivismo de Jacques Derrida e nas teses de Gianni Vattimo e Pier Aldo Rovatti. Esses pensadores, na síntese de Bauman (BAUMAN e BORDONI, Estado de crise. Rio de Janeiro: Zahar, 2016 b, p. 108): “são profundamente influenciados tanto por Nietzsche quanto por Heidegger.” Eles constroem um pensamento (id., p. 109): “autorreferente, provocador, intuitivo, obscuro, crítico, criativo e ferozmente crítico.” Ele refere-se ao que começou na Europa, mas alcançou o resto do mundo.

Parece que tanto a modernidade, como a pós-modernidade, ficou para trás e já começamos algo novo e indefinido. Não se trata de um detalhe semântico, mas de novos aspectos da cultura. Assim, o que se chamou pós-moderno é a porta de entrada de um novo tempo que ainda não temos uma palavra exata para descrevê-lo. Estamos assistindo a muitas e profundas mudanças no universo cultural, uma das piores é a tentativa de transformar o cristianismo num apêndice do capitalismo e fazer a mensagem de Jesus parecer ser um caminho de prosperidade financeira e não uma trilha de crescimento espiritual.

Isso não significa que o crescimento pessoal prescinda de um suporte material, nem que não seja desejável ter boas condições de vida. Ter uma vida segura e confortável não é mal. Não se trata de fazer a defesa da pobreza como em outras épocas. Não é esse o problema, o que estraga tudo é transformar o que é meio em fim. Ter condições materiais adequadas é a base para uma vida que pode ou não me levar a Deus. Não é garantia da presença de Deus na vida e nem é um prêmio pela fé. Pessoas de diferentes classes podem chegar a Deus se fizerem a trajetória de fé e amor que leva a Ele. No entanto, a advertência de Jesus é extremamente atual, quem se apega ao que é meio está distante do Reino de Deus. É pelo amor que se vai a Deus, pelo amor a Deus e ao próximo. Pela caridade com o mais pobre, pelo amparo do mais fraco, pelo cuidado verdadeiro com o pequeno, pelo respeito com todos.

Um dos capítulos mais tristes desses nossos dias é a emergência de um falso cristianismo. O uso da mensagem de Jesus carregada de ódio, com motivação política, usado para defender a riqueza, as armas, a violência, a discriminação do pobre, do estrangeiro e do diferente. Enfim tudo o que não está em Jesus e nem vem de Deus.

O primeiro fruto do verdadeiro cristianismo é o amor ao próximo. Isso já está no decálogo de Moisés, o amor a Deus no primeiro mandamento é a base para todos os outros nove. Os mandamentos foram à raiz da mensagem com Jesus, como na síntese de Mateus (22, 37-39): Respondeu Jesus: " Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento'. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: 'Ame o seu próximo como a si mesmo.” Portanto, todo aquele que abandona o segundo mandamento, não segue o primeiro, pois a Trindade é constituída de pessoas, como é o mundo que habitamos. E a Pessoa é o maior valor dentre todas as coisas.

Havia muitas regras, costumes, tradições no Primeiro Testamento, usadas para se purificar e manter-se limpo. Rituais complicadíssimos, que foram criados principalmente como norma de higiene para um povo que vivia no deserto, mas que era apenas o instrumento para o que verdadeiramente importa, amar a vida e respeitá-la.

Essa foi a linda transição íntima de ressignificação da fé que fez Paulo de Tarso tornar-se cristão. Ele entendeu que todas as regras, todas as exigências, todas as leis perdem o sentido quando se tornam fim, pois o fim é Jesus e suas palavras, aquelas que não passarão. Paulo as resumiu (Cor. 1, 13): “ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor seria como o metal que soa e o címbalo que tine.” E segue-se nessa carta aos Coríntios, a versão paulina do Sermão da Montanha. Pois só seremos de fato terrivelmente evangélicos se a nossa relação com os outros os ajudarem a serem melhores pessoas e nos esforçarmos também para o ser. Por isso todo meu respeito ao Pe. Júlio Lancelotti e a todos os que fazem do amor a razão da vida. Pois tudo o que na vida vale a pena e tem verdadeiro significado é, em sua raiz, amor. Amor em todas as suas formas, aos pais, aos filhos, ao esposo e a esposa e ao próximo em geral.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

A FÉ DE NOSSOS PAIS. Selvino Antonio Malfatti.

 



A aura sacra que acompanhava as pessoas do despertar até á noite agora passou para um mundo prosaico de trabalho sem luz. Um ser humano desnudo com uma carapuça de fantasia gritando felicidade na passarela da vida. Conheceu o bem e mal em troca da felicidade. Um crânio sorrindo.

O sacro de cada dia com sentido para o prosaico de um dia após o outro sem luz. O mudo morreu e o homem nele. Nem dias, nem meses ou ano fazem sentido. Todos sabem o que o espera no fim da jornada: a morte.

Onde está a fé da família que rezava junto? As missas ou cultos com igrejas repletas? Ou um arrependido no fundo da igreja rezando solitário? A fé morreu e com ela a esperança? A caridade, descarte sem serventia?

Deus foi embora e os santos nos abandonaram. Ficou só a ciência. Ela foi encarregada de aliviar a dor, consolar o aflito. Mas ela é fria, não tem coração, só razão. A ciência não abraça, só explica. Como medico que cuida da doença, mas abandona o doente.

Cada etapa da vida tinha seu sentido. Ninguém era meteorito que se precipitava no vácuo e desaparecia incandescente. Nascia e a comunidade recebia. Crescia e ingressavas na fé. Forma uma família de uma só carne com o cônjuge. Pecava e perdoado. Morria e a comunidade do além o recebia.

A vida era sacra. O alimento uma dádiva divina. O sexo um dom de criar vida. Respirava-se o sacro. Levanta-se com o sinal-da-cruz e termina o dia com orações da noite. A fé fosse presente em tudo, e não apenas em objetos ou pessoas: um universo onde tudo respirava fé. Não há figuras, porque o sagrado não se deixava conter em imagens fixas; estava nas ruas, nas casas, nos sinos, nas preces. Procissões e a da vida comunitária, unida pela devoção. O fogo das velas, a luz dourada dos altares, a intensidade das festas religiosas. O mistério: a fé como presença difusa, inefável, que tudo tocava e tudo envolvia.

Agora é diferente por que se fazem as mesmas coisas sem a fé. O mundo dessacralizou-se. Foi a perda do caráter místico do mundo. Tudo é natural, pode ser explicado pela ciência que substituiu o poder do sagrado. Romarias pedindo chuva deixaram de fazer sentido diante da previsão do tempo. Missas para uma boa colheita tornaram-se anacrônicas com as previsões de safras. Para que rezar? Deus não se comove. A oração, no máximo pode comover a si mesmo. Esta é a lógica da ciência. Forças sobrenaturais não interveem na natureza.

Estamos num impasse: o sacro ou o natural. Aquele ambiente místico está materializado pelo mundo físico. Os nossos pais era precisavam externar o interior. Devia ser visível. Para comprovar fé precisa fazer o sinal da cruz. Para dizer que fala com Deus precisa recitar em voz alta o Pai-Nosso. Pedir ajuda, balbuciar o Santo-Anjo.

A toda hora dizer graças a Deus, Deus queira, vá com Deus, Adeus, Oxalá. Para ter em mente o sobrenatural guia-se pelo tempo fracionado em semana, meses e anos cada divisão representam um santo ou ato litúrgico. Marcava locais por templos, catedrais, ruas com santos.

Agora prevalece o paradoxo. Multidões se formam para receber uma autoridade religiosa, marchas-para-Jesus reúne milhares de fiéis, procissões congregam muitas centenas de seguidores. Locais de aparições atraem devotos aos milhares. No dia seguinte cada um volta para sua casa e continua tudo como antes.  Num momento multidões oram publicamente e de repente desfazem-se tudo como uma nuvem! Nem sinal do que aconteceu.

Os sinais externos se voltam para o interno? O sentido externado recolheu-se para o interior e somente aflora em alguns momentos e em seguida recolhe-se para o interior?

Onde está a fé de nossos pais?


sexta-feira, 15 de agosto de 2025

NOSSA SENHORA MEDIANEIRA, RAINHA DO POVO GAÚCHO. Org. por Selvino Antonio Malfatti

 


Em solenidade em 15 de agosto de 2024,  realizada na Basílica Nossa Senhora Medianeira, presidida pelo Arcebispo Leomar Antônio Brustolin, Nossa Senhora Medianeira foi coroada Rainha do Povo Gaúcho.

Por isso, a origem da comemoração e do consequente feriado de 15 de agosto deu-se por ter o Episcopado rio-grandense concedido o título de Rainha do Povo Gaúcho Nossa Senhora Medianeira. Para justificar tal título o episcopado busca os fundamentos na Sagrada Escritura, na tradição da Igreja e na história do povo gaúcho.

A devoção a Virgem Maria em Santa Maria, RS, tem duas ramificações, embora se trate de devoção à mesma santa: Maria Medianeira e Mãe Peregrina. Cada uma tem uma origem própria.

A devoção à Nossa Senhora Medianeira em Santa Maria tem suas raízes em 1928, com o incentivo do Padre Inácio Rafael Valle, e se popularizou após a concessão do título de festa própria pela diocese pelo Papa Pio XI em 1929. A devoção à Mãe Peregrina, por sua vez, originou-se do movimento de Schoenstatt e tem em João Luiz Pozzobon seu grande impulsionador, com a primeira imagem peregrina sendo levada por ele em 1950.

A devoção à Medianeira popularizando-se através da iniciativa religiosa em Santa Maria. A basílica, dedicada a essa devoção, foi iniciada em 1935 e elevada à categoria de basílica em 1987.

Em 31 de maio de 2024, o Estado do Rio Grande do Sul foi oficialmente consagrado à Virgem Maria sob esse título, culminando com o decreto que determinou sua coroação como “Rainha do Povo Gaúcho”

A coroação pontifícia, além de um ato litúrgico, simboliza consolo e esperança em um momento de reconstrução e fé para muitos gaúchos, especialmente após as chuvas que afetaram a região com enchentes em muitos locais.

1. Medianeira - Fundamentação Teológica

A Igreja reconhece em Maria o papel singular de Medianeira de todas as graças, associada intimamente à obra redentora de Cristo, único Mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2,5).

2. Rainha – Fundamento teológico.

A Tradição eclesial, confirmada pelo Magistério, celebra Maria como Rainha do Céu e da Terra, por sua maternidade divina, sua perfeita união ao Filho e sua participação no Reino de Cristo (cf. Lumen Gentium, 59). A realeza de Maria não é de domínio político, mas de serviço materno e de intercessão constante.

3. Santa Maria como centro de fé do Rio Grande do Sul.

Desde o início do século XX, o povo gaúcho manifesta sua fé e amor à Virgem sob o título de Medianeira, com centro de irradiação na cidade de Santa Maria. A romaria anual, iniciada em 1930, tornou-se a maior peregrinação mariana do estado, expressão visível de uma devoção profunda e perseverante.

Em 1930, o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora Medianeira Padroeira principal do Rio Grande do Sul, conferindo-lhe um vínculo especial com esta terra e seu povo. Ao longo das décadas, essa devoção cresceu como expressão da identidade religiosa e cultural do Rio Grande do Sul.

4. Sentido Pastoral Pastoral do título.

A proclamação de Nossa Senhora Medianeira como Rainha do Povo Gaúcho é um gesto pastoral de consagração e confiança. Reconhecemos nela a Mãe e Intercessora que acompanha nossas famílias, fortalece nossa fé, inspira a solidariedade e aponta sempre para Cristo, seu Filho e nosso Senhor.

Tal título é símbolo de unidade espiritual e convite a seguir o exemplo de Maria em humildade, fidelidade e serviço, para que a presença do Evangelho se mantenha viva nas cidades, campos e comunidades desta terra.


sexta-feira, 8 de agosto de 2025

80 ANOS DE HIROSHIMA E NAGASAKI - Os EFEITOS MORAIS DA BOMBA ATÔMICA. Selvino Antonio Malfatti

 


Estamos há 80 anos da primeira bomba atômica acionada nas cidades do Japão de Hiroshima e Nagasaki . A destruição física foi descrita por historiadores, economistas, populacionistas, ecologistas e outras especialidades. Falta refletir sobre os efeitos morais.

Para contextualizar.  Na década de quarenta a guerra na Europa seguia feroz e devastadora. Estados Unidos ainda não haviam entrado na guerra.  Os Aliados estavam esperançosos numa arma secreta, mas estava mãos dos Estados Unidos que estava fora da guerra. Por isso era preciso atrair os Estados Unidos para os aliados.  De repente e inesperadamente surge o motivo. Uma base naval americana Pearl Harbor no Havai é atacada pelas forças japonesas e o Japão já havia se declarado favorável à Alemanha e Itália formando o Eixo. Por causa do ataque, os Estados Unidos declaram guerra ao Japão e e firma aliança com os aliados. Na guerra com o Japão, Estados Unidos tinha duas opções: enfrentamento terrestre ou?! surgia a justificativa ideal para testar a nova arma e justamente longe da Europa, na Ásia.  

Com efeito, em 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram as bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Mais de 200 mil pessoas morreram, direta ou indiretamente, como resultado imediato ou tardio das explosões. Muito além da destruição física, os impactos morais se desdobraram ao longo das décadas.

A constatação mais elementar é de que na guerra não há limites morais. Tem razão é quem vence. O perdedor leva o ônus da culpa. No caso da Alemanha há consenso na atribuição da culpa, mas no caso das cidades do Japão pairam perguntas sem respostas até o dia de hoje; não estavam envolvidas na guerra, eram comunidades civis, nem sabiam do estado beligerante de seu país. Até seguras se sentiam por estar longe da guerra. Imagine estar na sua cidade, longe da Faixa de Gaza e Ucrânia e do nada cai uma bomba! Foi o que aconteceu com as cidades japonesas.

Qual lição foi tirada do “teste” Hiroshima e Nagasaki?

. medo: o mundo ficou temoroso com o futuro da humanidade

. precavido: foram proibidas as usinas nucleares para fins bélicos

. organismos: criaram-se organismos preventivos que evitassem a guerra como ONU, UE, OEA e OTAN

Enquanto isso os sobreviventes, hibakusha, continuam carregando as feridas físicas e morais da bomba, vítimas expostas dos conflitos de outros.

O impacto moral da bomba atômica permanece como uma ferida aberta na consciência humana. A reflexão sobre Hiroshima e Nagasaki transcende a história militar e pede-nos  uma resposta ética: como civilização, seremos capazes de aprender com o sofrimento e assumir um compromisso com a paz?

 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO. Selvino Antonio Malfatti.

 



Em abril de 1892, Floriano Peixoto, presidente do Brasil, decretou estado de sítio. Prendeu os manifestantes e desterrou outros para a Amazônia. Quando Rui Barbosa ingressou com habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em favor dos detidos, Floriano Peixoto ameaçou os ministros da Suprema Corte: "Se os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarão".

Este episódio se refere a um ato ditatorial de um Presidente, detentor do executivo. Foi um ato arbitrário praticado por um dos poderes, o executivo. Acima dele, porém, havia outro poder, o judiciário. E foi para ele que Rui Barbosa apelou, uma instância superior.

Rui Barbosa (1849–1923), o maior jurista brasileiro, de renome internacional, apelidado de Águia de Haia, pela sua intervenção na Conferência de Paz de Haia, considerou a ditadura do judiciário como a pior das ditaduras, pois contra ela não há a quem recorrer. Quais os argumentos que apresentados por Rui Barbosa para justificar tal afirmativa?

Rui denuncia os abusos oriundos do sistema que deveria ser o defensor da justiça, mas a usa contra seus protegidos. Seria como um pai que em vez de defender sua família torna-se o carrasco dela. Um pai que em vez de escudo torna-se espada ferindo e matando seus filhos e esposa. A ditadura do judiciário numa instituição política corrompe a estrutura do estado de direito. Por que é tão letal o desvirtuamento do judiciário?

Ao contrário dos demais poderes, cujos abusos podem ser contestados judicialmente, não há a quem recorrer quando o Judiciário erra ou se torna tirano. A sua posição de guardião final da legalidade o torna praticamente inalcançável em termos de correção imediata, especialmente se a injustiça vem das instâncias superiores.

Quando o Judiciário deixa de ser imparcial e se submete a interesses políticos ou pessoais, compromete-se a confiança popular na Justiça, pilar fundamental da ordem democrática. Sem essa confiança, o tecido social se rompe, favorecendo a anarquia.

Um Judiciário autoritário é a perversão da própria a justiça. Impõe a sua vontade, muitas vezes em desacordo com a lei ou a equidade. A imparcialidade se converte em parcialidade institucionalizada, e o cidadão se torna vítima de decisões arbitrárias sem possibilidade real de defesa.

A tirania judiciária tem caráter duradouro e insidioso. Diferente de regimes autoritários políticos, que frequentemente enfrentam oposição e revoltas, a opressão judicial pode se perpetuar de forma silenciosa e legalista, mascarada de legalidade.

Quando o Judiciário usurpa funções legislativas ou executivas, ou age com conivência em prol de um grupo dominante, rompe-se o equilíbrio entre os poderes, abrindo caminho para o despotismo institucional.

Atualmente no Brasil há um clamor de vários setores contra a atuação do ministro presidente do judiciário. As acusações não são propriamente ao judiciário, mas ao seu presidente .

O presidente do SPF federal do Brasil vem sendo acusado de arbitrariedades acusado de perseguição política aos seus adversários, mormente a um ex-presidente. Afirmam que se comporta não como juiz imparcial, mas como filiado a um partido.

As principais acusações dirigidas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) dizem respeito à sua atuação firme no combate à desinformação, aos atos antidemocráticos e à responsabilização de figuras públicas e seus aliados. Críticos apontam uma suposta atuação parcial e autoritária. Os principais pontos dessas acusações incluem:

O presidente do STF  é acusado por opositores de extrapolar os limites constitucionais do cargo, tomando decisões monocráticas (individuais) que restringem liberdades, especialmente de expressão e comunicação.

Há críticas de que ele concentra poderes indevidamente, sendo ao mesmo tempo vítima, investigador e julgador em certos inquéritos (como o das Fake News e o dos Atos Antidemocráticos).

Decisões como a remoção de conteúdos ou canais, sem trânsito em julgado e com pouca transparência, são vistas por críticos como censura prévia.

Críticos apontam falta de contraditório e ampla defesa, pois os investigados não foram formalmente denunciados ou ouvidos previamente.

O inquérito é alvo de queixas por violação ao devido processo legal.

Após os atos golpistas em Brasília, o presidente  do STF determinou prisões preventivas, bloqueio de bens e suspensão de mandatos políticos.

Alguns setores questionam a celeridade e severidade das medidas, alegando perseguição a simpatizantes adversários.

Organizações e parlamentares internacionais, como integrantes do Partido Republicano dos EUA e ONGs ligadas à liberdade de expressão, criticaram algumas decisões vendo nelas viés autoritário.

Por suas decisões reiteradas contra aliados da direita é acusado por críticos de agir como um adversário político, e não como um juiz imparcial.

Há também críticas ao diálogo restrito com setores da oposição e à suposta convergência ideológica com partidos de esquerda.

O presidente do STF tem apoio expressivo entre instituições democráticas, como o Congresso Nacional, parte da imprensa e o Judiciário, que defendem sua atuação como essencial para conter ameaças à democracia e ao Estado de Direito no Brasil.

No entanto, órgãos internacionais, e nacionais, continuam clamando por justiça contra decisões. A mais recente e forte reação veio dos Estados Unidos ao sancionar o presidente do STF do Brasil com a Lei Magnitsky pela qual são punidos os dirigentes estrangeiros que violarem dos direitos humanos.

 

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