Em maio de
1994, morando fora do país, assisti chocado a morte de Airton Senna, um
brasileiro cidadão do mundo. Tão impressionante quanto o próprio acidente eram as
imagens que chegavam à Europa de um país ferido. O povo em estado de choque, as
pessoas com olhar perdido caminhando pelas ruas, as crianças chorando. Brasileiro
acima de tudo, com a bandeira nacional erguida depois de cada vitória, Senna
transformou nossas manhãs de domingo dos já
distantes anos 90, numa realidade mágica. Um brasileiro cidadão do
mundo, pois não havia canto do planeta em que Airton Senna não fosse conhecido
e admirado.
Ao recordar o
corredor talentoso e humilde, vinte anos após sua morte em Ímola, nem de longe
penso em retratá-lo como santo, o jovem corredor tinha angústias e contradições
próprias da juventude. Errava como qualquer humano. No entanto, o garoto tímido
fazia do seu projeto de correr algo tão grande quanto nosso país continental.
Ele corria por todos nós e seu projeto de vida ultrapassava sua existência
singular, para ser, para nós, figura exemplar de dedicação, exemplo de um país
que dava certo. De alguma forma ele nos fazia sentir orgulho do Brasil. Isto
não é pouco.
O fato de
viver completamente sua vocação de corredor até o limite extremo do quanto
alguém pode ser fiel ao que tem de mais singular no seu íntimo, o fato de
querer melhorar o país com seu esforço, o seu desejo de fazer de todos nós
vencedores em nossa luta diária, fez dele o ídolo de uma geração. O que há de
mais profundo em cada um de nós não são os limites, mas as pontes que nos levam
para além deles. E Airton sabia como poucos transcender seus limites, sem
deixar de ser humanamente limitado: pela dor, pelo sacrifício e, finalmente,
pela morte trágica que o levou tão jovem.
O ser alguém
capaz de entregar-se completamente a sua missão e, sobretudo, por fazer dela a
causa de uma nação, ela fez dele um herói. Herói como tantos que este país
produziu e produz, mas cuja memória não cultivamos nem divulgamos. Ou pior, sou
de uma geração que não acreditava em heróis, ou que um povo não precisasse
deles. Airton me obrigou a pensar diversamente e romper esta lógica niveladora
da mediocridade. Um povo precisa de heróis, como a Igreja de santos. Pois uns e
outros são pessoas comuns, capazes de fazer gestos simples que possuem a força
dos gigantes. Ambos ensinam a fazer o melhor, a procurar o melhor, a ser melhor,
em não se conformar com menos.
Um homem e
uma nação podem funcionar sem este espírito, mas dificilmente chamaríamos de
vida às escolhas que brotam dessa existência sem fidelidade completa ao mais
íntimo de si. Ser o melhor que posso ser é uma experiência humana maravilhosa,
marcada pelo espírito de uma ética da fidelidade a si e do sacrifício que leva
à vitória.
A morte de
Aírton, iluminada por este olhar que clareia sua vida, não foi um desperdício
que terminou no acidente trágico daquela manhã de domingo. Sua vida ganhou,
pela exemplaridade e amor que os brasileiros lhe dedicavam, dimensão de
permanência e eternidade. Airton viveu uma vida de significado pleno. Então,
viva Aírton.
Saudades deste grande brasileiro.
ResponderExcluirUma bela homenagem, merecida.
ResponderExcluirBoa lembrança,exemplos que não podem ser esquecidos.
ResponderExcluirViva o campeão, brasileiro de coração, exemplo de ética.
ResponderExcluirCidadão do mundo, exemplo de profissional e pessoa.Valeu a lembrança.
ResponderExcluirAs pessoas passam por nossas vidas e sempre deixam algo. SENA deixou uma história breve mas exemplar,soube ser um cidadão do mundo,mas nunca deslumbrou-se,sempre as vitórias tinham a bandeira do Brasil,suas conquistas eram para todos os brasileiros.
ResponderExcluirTalvez a brevidade da vida seja a lição para nos tornarmos mais humanos.
Sempre será o campeão.
ResponderExcluirBelo exemplo de dedicação ao esporte e um ser muito humano.
ResponderExcluirUma ótima lembrança.
Bela homenagem ao nosso AIRTON SENNA.
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