O Japão está no centro das atenções e observações por parte de toda comunidade internacional. Este pequeno país, em tamanho físico, destaca-se pela sua economia, mas principalmente pelo desenvolvimento científico e tecnológico. Não há o que cai na mão dos cientistas japoneses que não se transforme numa ferramenta útil para a vida humana. Dominam, com saber e tecnologia de ponta, praticamente todas as áreas do conhecimento.
Pois foi exatamente este país que a natureza “escolheu” para emitir um alerta a toda a humanidade. Nas profundezas das águas, vinte e quatro quilômetros e meio, a placa do Pacífico chocou-se contra a placa Norte-Americana provocando um terremoto de 8,9 na escala Richter. As águas da superfície deslocaram-se numa velocidade de 800 quilômetros por hora. Ondas de 10 metros de altura, os tsunamis, invadem as cidades ribeirinhas varrendo tudo o que encontram pela frente. Mas o pior pode ainda estar por vir: o escapamento da radioatividade dos reatores nucleares.
Diante da iminência de uma tragédia radioativa no Japão e no mundo, de proporções superiores a de Chernobyl, a comunidade internacional está em estado de alerta máximo. E novamente vem à mente o título de um concurso lançado pela Academia de Dijon no século XVIII:
- A ciência e as artes tornam os homens mais felizes?
Este era um objetivo a que os iluministas, no século anterior, haviam se proposto: tornar os homens mais felizes pela ciência.
O pensador francês Jean-Jacques Rousseau, no “Discurso sobre as Artes”, contraria a tese dizendo que o homem primitivo, sozinho, errante, sem ciência, nem arte era feliz. Quando descobriu a ciência iniciou o calvário do sofrimento humano.
A análise e conclusão de Rousseau não estão erradas. É que apreciou sobre o aspecto moral, isto é, a ciência e a tecnologia, por si sós, realmente não tornam os homens mais solidários, mais leais, compreensivos, bondosos. Isto a ciência não faz, porque a felicidade está no âmbito do sentimento e da razão de cada um.
O que a ciência e a tecnologia fazem? Comparando com o período de Rousseau atualmente se vive mais, uma média de vida de 70 e poucos anos, contra os 35 de seu tempo. Havia doenças consideradas incuráveis e atualmente foram extirpadas. No tempo de Rousseau o homem tinha uma vida útil de 25 anos. Hoje o tempo se estende por quase toda vida. Casas, alimentos, deslocamento, comunicação, informação, tudo se tornou infinitamente mais fácil e melhor. Nos dias atuais, uma pessoa de Classe C, possui uma qualidade de vida que o Rei Sol da França nem imaginava que existisse.
Claro que persistem doenças, insegurança, e desastres ainda não evitáveis. Há ainda muitas mazelas sem um efetivo controle em casos de acidentes, como é no momento o caso do Japão. Mas o problema maior reside no descompasso entre o crescimento da ciência e tecnologia e a defasagem moral. A ciência e a tecnologia não acompanhadas de aperfeiçoamento moral – que não é o caso do Japão - levarão a humanidade a autodestruir-se. A radioatividade, uma das maiores descobertas científicas, possui dezenas de aplicações tecnológicas para a própria saúde humana. No entanto, como evitar que o saber seja usado para outros fins que não o bem estar do homem. E o pior, e aí Rousseau tem razão, utilizar a ciência e tecnologia para destruição, como aconteceu com Hiroshima e Nagasaki no Japão na segunda guerra mundial. Precisamente os países que ocupam a dianteira do conhecimento estão abarrotados de mísseis voltados para cá e para lá, bombas armazenas, reatores nucleares, usinas de beneficiamento de urânio etc.etc.etc. E outros se preparando para isto. . .
O que fazer para que a ciência e tecnologia tornem os homens mais felizes? Eis a questão.