RESUMO: O estômago dos políticos não é igual ao da alimentação. Este tem limites. Aquele possui uma capacidade de elasticidade infinita.
Há alguns dias, um ex-aluno perguntou-me se havia escrito alguma coisa sobre a compulsão do poder. Perguntei de onde havia tirado aquela idéia? Então me lembrei de um assunto que havia abordado em aula e que prometi expô-lo melhor em outra ocasião. Entretanto, o torvelinho da atividade acadêmica impediu-me de pesquisá-lo, pois não sobrava tempo nem para pensar, muito menos para escrever. Agora, já na praia, dá para retomar.
A idéia
ganhou força com a publicação da reportagem na Veja desta semana com o título: Eles Sempre Querem Mais, sem falar na
proximidade das eleições municipais. Sempre associo a compulsão pelo poder aos
gafanhotos que apareciam nas lavouras de trigo na minha infância. Em pleno meio
dia de repente o sol escurecia e uma nuvem negra descia lentamente sobre os trigais. Em
segundos a plantação não existia mais. Ficava terra
desolada, completamente arrasada. Os gafanhotos, então, levantavam e iam pousar
em outra lavoura para fazer o mesmo.
Da mesma
forma agem os políticos. A voracidade começa a se manifestar antes mesmo das
eleições. Primeiramente cotoveladas mútuas para serem aprovados como candidatos
dentro dos diretórios de seus partidos. Depois, a busca do voto, numa luta que
vale tudo, inclusive contra os próprios correligionários. É a disputa pelos
espaços, pelas fontes financiadoras, pela visibilidade. A competição é feroz e
se faz nos mínimos detalhes. Conseguida a eleição, estes engalfinham-se
numa guerra encarniçada pelos cargos, desde os mais altos – a presidência da
república – até o último cargozinho no mais longínquo município. O pivô são os
ministérios. Dilaceram-se os políticos para conseguirem. Depois vêm as
presidências e vice-presidências das casas do Congresso. As comissões e suas
presidências. As lideranças de partidos. Fora do Congresso são as diretorias
que, quanto mais rentáveis, melhor. Nas devidas proporções, tudo o que acontece no âmbito feral, repete-se nos estados e municípios. Cada espaço é disputado com ganância inaudita.
O
estômago dos políticos não é igual ao da alimentação. Este tem limites. O dos políticos possuem uma capacidade de elasticidade infinita. Quanto mais abastecido, mais
fome sente. Em toda a História aconteceu isto. Com os políticos egípcios,
gregos, macedônios, romanos, árabes, cristãos, ingleses, portugueses,
espanhóis, norteamericanos e, de modo
especial, dos brasileiros. Nunca se satisfazem. Sempre querem mais, mais e mais
poder.
Conforme
Weber, os políticos esquecem mais facilmente de arranhões aos próprios
programas partidários do que da diminuição das verbas. Eles estão continuamente
atentos ao menor sinal de aparecimento de algum bem econômico para apossar-se
dele. Para isso mobilizam seu exército, os políticos profissionais, que vivem
da política. Eles colocam à disposição da administração pública seu pessoal e
em troca recebem os bens econômicos, concretizados em empregos, cargos,
sinecuras, remuneração fixa, pró-labore. As diversas formas de se remunerar os
políticos profissionais são normais. Eles vivem da política. No entanto,
quando, além daquilo que legalmente está estabelecido, se obtém outros ganhos
como propinas, superfaturamento, desvio de verbas, licitações pré-combinadas,
entramos no terreno da corrupção.
Os
políticos profissionais, por sua vez, são porta-vozes de seus partidos junto à
administração pública. Em troca da própria remuneração carreiam bens econômicos
para seus partidos. São como abelhas de uma colmeia que em troca do próprio
alimento devem continuamente trabalhar por ela. Os partidos se tornaram
trampolim para os políticos e estes operários dos partidos. Os políticos
profissionais estão, por isso, vinculados a um partido. Partido e político têm
o mesmo selo.
Por isso,
o político é o depositário do poder, do mando ou de poder para exigir
obediência. Os partidos são apenas instrumentos, poderosíssimos às vezes, mas o
objetivo final deles é encontrar homens para depositar o poder, isto é, o
político.
Isto
acontece no plano coletivo, pessoal e partidário. A fome, a voracidade, a
compulsão pelo poder é infinita. Aliás, na teologia cristã são mencionados sete
Pecados Capitais. O primeiro deles é a soberba. Está a cima de qualquer outro
pecado pois, da soberba, do poder, derivam todos os demais pecados. A própria
origem do Inferno se deveu à insaciável vontade de poder da parte de alguns
anjos, os mais poderosos.