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Todos se apercebem quando um livro é simplesmente
repetição do que outros escreveram e, ao contrário, há algo novo. No primeiro
caso as teorias já consagradas são simplesmente repetidas. No segundo caso as
próprias teorias tradicionalmente aceitas são postas em discussão e uma a uma
são desmanteladas, tais como informática e internet comparável à máquina a
vapor e eletricidade, as revoluções sociais e tecnológicas serem base da
economia moderna? Ou, a sociedade da informação, com sua inteligência
artificial, o último estágio do progresso?
Atualmente é lugar comum justificar qualquer coisa
contrapondo à democracia, como se esta fosse o parâmetro da justiça, quando
justamente a democracia está submetida à justiça. A justiça é a condição da
democracia.
É o que o livro de Franco Bernabè e Massimo Gaggi, quer
nos alertar. (“Profetas, Oligarcas e Espiões”) O desenvolvimento digital não é simples
progresso dos tempos atuais, mas uma alteração nas relações entre sociedade,
economia e Estado. Em detrimento dos sistemas parlamentares e classe média.
Sobre os autores. Bernabé foi líder de grandes indústrias
exercendo a presidência da CEO da ENI e da Telecom Itália, Energia e
Comunicações. Gaggi foi vice-editor do jornal Corriere e há vinte anos vem
decodificando a sociedade americana como colunista da Nova York.
Ambos passaram por grandes crises desde o pós-guerra. O
11 de setembro com o Atentado das Irmãs Gêmeas que deram origem ao Patriot Act,
lei da vigilância em massa. A multidão de turbulentos que invadiu Capitol Hill,
o Congresso Americano.
No início da Internet, como numa Lua de Mel, tudo era
atraente e ilusoriamente gratuito. Este mundo novo que se vislumbrava e
deslumbrava era propriedade da Big Tech.
No entanto, não será o domínio da tecnologia da web que frouxa os freios
e contrapesos, alicerces da democracia, mas é a forma como essas concentrações
de poder será submetida. Na verdade por trás delas está o poder econômico. Por
isso, o primeiro a ser dominado será o poder econômico. Neste, três variantes precisam ser colocadas
nos limites: identificar os riscos do descontrole da tecnologia, chegar a um consenso
de regras aplicáveis e introduzir um travão para domesticar os monopólios. O
tabuleiro de jogo de forças pode ser definido: 1º A Europa tem vontade
política, mas não tem força. 2º Os Estado Unidos tem a força, mas não consegue
força política. 3º A China se aproveitando para monopolizar o poder político e
econômico. Por isso, não basta deixar à mão invisível guiar a política, o
algoritmo, mas manter o controle pelo debate democrático submetendo-o à
justiça,
O que provocou o nascimento, crescimento e a consolidação
de uma oligarquia venenosa para o funcionamento da democracia foi o processo de
desregulamentação dos anos Noventa que permitiu à indústria da internet criasse
raízes tão profundas que os impérios financeiros, dela originários, ocultassem
os do passado. A vontade de Reagan era não matar no berço o recém-nascido.
Quando se deu conta, contudo, já não tinha volta. Já não é tarde imaginar como era antes de “curtir”?
Neste momento pululam os “arrependidos”. Como paradigma
pode-se citar Evan Williams, conhecido como pai do Twitter, declarou
publicamente: “Achei que dar às pessoas mais liberdade para trocar ideias e
informações online era suficiente em si mesmo para criar um mundo melhor. Eu
estava errado, a internet está quebrada”. Muitos agora lembram quantos
denunciaram o mais tóxico do Vale do Silício: o Facebook. Tal como o ópio, o
facebook criou em boa parte da juventude uma sensação generalizada de
ansiedade, insegurança e irresponsabilidade. O setor editorial com certeza está
em crise. O pensamento crítico foi sufocado. Em vez de bibliotecas surgiram
“salas” que alimentam as ofensas, acusações, ódios, os piores instintos. Não há
raciocínio, apenas exaltação da pornografia e crimes contra vida, homicídio,
infanticídio e aborto.
Qual a origem?
- A Seção 230, nos Estados Unidos, que protege as
empresas. Ela praticamente as isenta da responsabilidade pelos conteúdos
publicados por terceiros. Á chamada a Lei de Decência nas
Comunicações (Communications Decency Act).