Dizer
algo da liberdade significa descrever uma experiência de todo homem. O ponto de
partida parece ser o seguinte, liberdade não é redutível a outra dimensão da
vida e se trata de algo que empiricamente verificado. Sem muita especulação
sabemos que podemos ou não realizar uma viagem, e se for uma viagem de férias
escolher um ou outro destino. Podemos escolher tomar uma cerveja ou não.
Portanto, liberdade traduz uma experiência simples que todo homem faz de que ele
pode dar caminhos diferentes para sua vida. Se vida, como diz o filósofo
espanhol Ortega y Gasset, é o que se faz, liberdade significa que se pode fazer
as coisas de mais de um modo. Portanto, se trata de uma realidade comum para as
pessoas.
A
simplicidade com que podemos reconhecer a liberdade não nos livra de mergulhar
em questões difíceis quando se trata de explicar teoricamente no que ela
consiste, tanto porque o homem depende de processos que são biologicamente
determinados, sofre limitações na forma de expressar e viver seus afetos,
quanto encontra limites sociais em sua ação. A liberdade não é exterior ao ato
de escolher, de fazer surgir, em nossa existência, uma realidade diferente da
que já se tem, mas isso só se realiza dentro de limites. Portanto, a primeira
coisa a se fazer quando se pensa a liberdade é não contrapor a possibilidade de
se fazer tudo o que se quer às dificuldades decorrentes dos condicionamentos
presentes no dia a dia. Não se trata de afirmar a autonomia contra os limites,
nem de, devido aos condicionantes da circunstância deixar de admitir a
realidade da liberdade.
As
diferentes concepções antropológicas que se desenvolveram no ocidente reconhecem
essa situação, mas realçam aspectos diferentes dessa realidade, umas supervalorizando
as possibilidades de escolha, outras realçando os limites da vida emocional ou
a circunstância social. Posições como a de Sartre estão no primeiro grupo,
outras como a de Freud destacam os limites estabelecidos inconscientes da vida
mental e há aqueles, como Marx, que supervalorizam os limites da realidade
social e econômica.
Considero
que a supervalorização de um ou outro lado não é a melhor forma de tratar o
assunto. A liberdade humana é possibilidade de escolha que dentro de limites. O
corpo do homem atende a processos e seus instintos o instigam numa direção, mas
ele tem no pensamento uma possibilidade real de orientar esses aspectos. Os
limites sociais são reais, mas há sempre um espaço de escolha nessa
circunstância. Filósofos como Ortega e Psiquiatras como Frankl e Jaspers
destacam que o homem possui uma dimensão animal que lhe limitam o caminhar, mas
destacam a capacidade humana colocar perguntas, transcender as situações e de
modificar a circunstância. A ação do homem transforma o mundo. Dito de outro
modo, mesmo reconhecendo as necessidades, processos, forças condicionantes e
limites da dimensão social, ele pode ir além dessas medidas por sua condição
decisional. Dessa forma ele supera o seu modo de ser coisa.
Autores como
Frankl, Ortega y Jaspers destacam que a liberdade se relaciona com o modo como
a pessoa vive o sentido de sua vida. Sentido que ela precisa descobrir no seu
núcleo mais íntimo para o espanhol ou no inconsciente espiritual para Frankl. Assim, as escolhas que concretizam a
liberdade passam pelo plano intelectual e emocional, pois o homem escolherá a
partir desses dois aspectos, já que ele não é nem só uma coisa e nem outra.
Frankl entendeu que, em relação as questões emocionais, há uma dimensão
inconsciente, porém é a espiritual a que move a outra, governada por pulsões.
Assim o
assunto é complexo e envolve muitas variáveis e dificuldades.
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