Há duas formas de se promover as mudanças
político sociais: separar o joio do trigo ou lavrar joio e trigo juntos. No
primeiro caso se vai buscar o que está
errado, o que é obsoleto, o que não funciona. É a reestruturação. No
segundo caso, se faz terra rasa e depois se promove tudo novo. É a
desestruturação.
Na Antiguidade, pode-se dizer que
os primeiros a proporem a restruturação foram Platão e Aristóteles, ao estabelecerem
como norte para a política a PRUDÊNCIA.
Era preciso cautela, verificar somente o que fosse um estorvo, removê-lo e manter o que estivesse bem.
Já na Idade Média, temos Santo Agostinho e Santo Tomás,
que pregaram o bom senso, o meio termo, o costume, a lei
natural. Aqui também se agia com cautela, prudência para não cometer injustiças
ou deixar a sociedade perdida.
continuando a evolução histórica, na transição do antigo regime
medieval para o novo, moderno, confrontam-se os dois modelos encarnados na revolução britânica
e na revolução francesa. A primeira extirpou o que já não correspondia aos
novos tempos da idade moderna. No entanto, aproveitou o que havia de bom. A monarquia foi mantida, mas dotada do sistema
representativo, os novos capitalistas foram incorporados à representação e
introduziu-se o voto, em quer pese, ainda censitário, e a religião também
mereceu reformas, mas mantida.
A França também faz sua revolução, mas abole tudo para erigir um edifício novo. O
rei primeiramente despojado de seus poderes, depois decapitado, Os estados gerais
abolidos. Os parlamentos fechados, os conselhos destituídos, a religião
laicizada. O poder foi entregue aos representantes, os quais, populisticamente,
aliaram-se ao povo e instauraram um democratismo, uma democracia totalitária.
Três aspectos foram introduzidos que acabaram de pôr por
terra todas as tradições francesas: o sistema eleitoral, a divisão do poder e a
publicidade dos atos governamentais. O sistema eleitoral privilegiava o número,
na divisão do poder o executivo e o judiciário ficaram submetidos à Assembleia a
qual vai anulando uma a uma as tradições do reino. Na divisão do poder,
submeteram todos à Assembleia e a publicidade dos Atos governamentais tinha ou
um controle interno, “a se”, ou o povo era chamado à toda hora para externar
sua vontade, c omo aconteceu com os líderes Marat e Robespierre. A consequência: tudo ruiu. O povo não sabia mais a quem
obedecer.
É neste contexto que
surge o livro de Edmund Burke – Reflexões sobre a Revolução em França -
denunciando as arbitrariedades cometidas pelos revolucionários franceses ou
libertários.
Poderão dizer alguns que no fundo é uma crítica conservadora
à revolução francesa. Com certeza. Mas, analogicamente, veja-se o que acontece com a ciência. Nesta
nada se cria do nada, ao contrário se “descobre” o que já existe. Aquilo que
não corresponde com isso, é afastado. Então, faz-se uma nova reestruturação do
conhecimento.
Pode-se dizer que foi
Burke que primeiro teorizou o modelo de reestruturação, no sentido de
que estabeleceu como critério da mudança, uma REFLEXÃO sobre a realidade
fazendo a devida crítica. É um modo de pensar, digamos prudente, que
posteriormente foi seguido por vários outros, como Tocqueville. Atualmente, um dos mais destacados é Russell
Kirk. Como age a política da reestruturação ou conservadorismo?
1º As instituições político-sociais não são somente uma
preferência, ou objeto da preferência própria, mas o preferível, o desejável, o
objeto de uma antecipação da direção normativa da ação humana.
2º Não é um mero ideal que se possa prescindir, mas o guia
das próprias escolhas apresentadas a cada um individualmente e à sociedade como
um todo. É o próprio critério de juízo.
3º É uma possibilidade de escolhas, uma disciplina racional
antecipada das preferências podendo acolher umas e eliminar outras. É uma
autêntica possibilidade do exercício do livre arbítrio, acreditando na
universalidade e permanência dos valores.