Nos dias 9 a 13 de setembro será realizado na
Universidade Federal de São João Del Rei o X Colóquio de intercâmbio cultural
entre Brasil e Portugal. Esta idéia nasceu quando, após a Revolução dos Cravos
em Portugal, em 1974, a situação radicalizou-se e vários intelectuais das
universidades portuguesas tiveram que fugir do país e vieram para o Brasil. Dois
deles merecem destaque pela importância de atuação que desenvolveram no Brasil:
Marcelo Caetano e Eduardo Abranches de Soveral. Nasceu deles, juntamente com brasileiros, um projeto ambicioso: descobrir nexos
culturais entre Portugal e Brasil ao longo de sua história. Foram organizados
colóquios - em número de 10 em Portugal
e 10 no Brasil, um aqui e outro lá alternadamente. Assim se expressa um dos líderes brasileiros
deste projeto, Antonio Paim:
“Coube a Eduardo Soveral (1927/2003) estruturar no Brasil
o estudo sistemático das relações entre pensadores brasileiros e portugueses em
determinadas esferas do saber. Sua ambição era, em cada ciclo histórico, sermos
capazes de identificar eventuais laços, explícitos ou apenas implícitos, entre
os pensadores em causa, num espectro bastante amplo, para incluir a filosofia
geral, o pensamento político, a filosofia da educação, do direito, etc.
Tanto o prof. Miguel Reale (1910/2006) como Luís Washington
Vita (1921/1968) davam-se conta da importância de termos presente a nossa
origem lusitana e cuidaram de estabelecer relações com estudiosos portugueses
de seu tempo. Contudo, investigação de caráter sistemático fizemo-la sob a
paciente orientação de Soveral, durante cerca de dez anos. Nesse período,
praticamente demos conta do confronto em matéria de filosofia. Ainda que se tornasse
patente a diversidade de interesse quanto aos problemas teóricos
preferentemente desenvolvidos, o norte era visivelmente idêntico: privilegiar a
investigação de caráter ético. Quanto ao confronto em matéria política, o
fizemos por nossa conta e risco, partindo do reconhecimento de que era
flagrante a influência recíproca. A proclamação da República no Brasil serviu
como ponto de referência para que em Portugal também se chegasse ao fim da
monarquia. Lá, como cá, tivemos Primeiras Repúblicas de inspiração positivista,
ambas conduzindo a idêntico desfecho autoritário, por sinal, com o mesmo nome
(Estado Novo), embora de fundamentação teórica assaz diversa. Os estudos então
efetivados serviram para sugerir que, no ciclo anterior, também terá havido
fenômeno análogo; o Regresso brasileiro seria uma das fontes da Regeneração portuguesa,
neste caso dispondo muito provavelmente de idêntico fundamento ideológico: o liberalismo
doutrinário.” (Atas do IX Colóquio - UFSJ).
A introdução ao projeto lembra que:
“Cabe recordar
que o esforço de aproximação entre as filosofias
brasileira e portuguesa data dos anos sessenta, então desenvolvido, do lado
brasileiro, pelo Professor Miguel Reale e, do lado português, pelo Professor
Antônio Braz Teixeira. Dois grandes iniciadores do diálogo foram o brasileiro
Luís Washington Vita e o português Antônio Quadros, ambos desaparecidos.
Seguiu-se a presença no Brasil dos saudosos professores portugueses Eduardo
Soveral, Francisco da Gama Caeiro e Afonso Botelho, todos igualmente falecidos.
Tudo isto é permitiu, com vistas à continuidade dos trabalhos, a criação do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira,
sediado em Lisboa, atualmente presidido pelo Professor José Esteves Pereira,
que reúne pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e portuguesas.(José Maurício de Carvalho - Coordenador)