sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O PENSAMENTO DE SESTOV - Logos e Fé. Selvino Antonio Malfatti























LEV ŠESTOV, nasceu em Kiev em 1866. Estudou direito e matemática na universidade de Moscou, mas, teve que voltar para Kiev devido a desentendimentos políticos com as autoridades, aliás, esta foi a tônica em sua vida enquanto esteve na Rússia.

Em 1908 radica-se na Alemanha, Friburgo e daí transfere-se para Suíça. Publica Vigílias Grandes e Palavras Penúltimas. Retorna a Moscou em 1915. Com a tomada do poder pelos bolcheviques a situação de Sestov se torna complicada. A única atividade que lhe foi permitida: lecionar filosofia grega em Kiev.

Numa viagem fora da Rússia chega em 1938 a Paris. Na Europa torna-se um intelectual conhecido e reconhecido. Sua obra mais conhecida foi O Livro Vermelho nos Julgamentos de Moscou (1936). Atualmente é editado “A filosofia da tragédia: Dostoevskij e Nietzsche”, uma das primeiras obras do intelectual russo.

O pensamento de Sestov contrapõe-se à tradição especulativa ocidental. Ele a classifica como abstrata e idealista, racionalista, sistemática e impessoal. Diz que começou com Sócrates, teve continuidade com Platão e Aristóteles, até chegar aos dias atuais. Contra esta postura reivindica os direitos da vida, do eu, da alma e do mistério. Na ocidentalidade há um idealismo incrustado que Spinoza o define como: nada de rir, nem chorar, mas compreender. A este modo de pensar opõe a visão de Giobbe: procurar gemendo, como propõe Pascal. Este via sempre a seu lado um abismo, impossível de ser reduzido às categorias racionais.

Com um estilo coloquial, Sestov adota uma visão trágica da existência. Talvez seja influência de ter sido professor de filosofia grega. O estilo é transparente, amigável, quase coloquial. Deixa de lado a postura universalista e abstrata de Platão ou de Hegel e afunda-se na experiência existencial de Pascal, Dostoevskij e Nietzsche, pensadores do subsolo, parecendo levitar, ou sem chão, em comparação com a filosofia canônica.

Sua filosofia está sempre na gangorra entre o logos e a fé, simbolicamente representada por Atenas e Jerusalém. Claro que neste aspecto há influência de Santo Agostinho da Cidade de Deus e a Cidade dos Homens, Jerusalém e Roma. Na obra Atenas e Jerusalém  é descrito um mundo dominado pela racionalidade. Atenas, para Sestov, é um mundo dominado pelo logos, mensurável, no qual o real é somente o racional. É o mundo da ciência, da matemática, da lógica. Por sua vez, Jerusalém é o reino daquilo que há de mais precioso, a emoção, o sentimento, o amor, o paradoxo, a fé, mesmo o arbítrio e o capricho. Não há nenhum motivo de investir somente num prato da balança - Atenas ou Jerusalém - e dos dois, o menos precioso é o de Atenas. Assim se expressa no referido livro:

Ma perché attribuire a Dio, al Dio che non ha limiti né di tempo né di spazio, lo stesso rispetto e amore per l'ordine? Perché parlare sempre di "totale unità"? Se Dio ama gli uomini, che bisogno ha di subordinare gli uomini alla sua volontà divina e di privarli della loro stessa volontà, la cosa più preziosa che ha donato loro? Non esiste alcuna necessità. Di conseguenza, l'idea di una totale unità è un'idea assolutamente falsa (...). Non è vietato per la ragione parlare di unità, o anche di più unità, ma essa deve rinunciare all'idea di unità totale.

(Mas por que atribuir a Deus, ao Deus que não tem limites de tempo ou espaço, o mesmo respeito e amor pela ordem? Por que sempre falamos em "unidade total"? Se Deus nos ama, que necessidade tem de submeter os homens a sua vontade divina e privá-los de sua própria vontade, a coisa mais preciosa que lhes deu? Não há necessidade. Como resultado, a ideia de uma unidade completa é absolutamente falsa (...). Não é proibido pela razão em falar de unidade única, ou mesmo mais unidades, mas deve desistir da ideia de unidade absoluta).


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