No dia 12 de janeiro, com 90 anos, faleceu o historiador
francês Jacques Le Goff. Foi um especialista em história da cultura medieval.
Durante muitos anos perdurou a ideia de que a Idade Média foi uma noite de mil
anos. O que aconteceu é que o progresso não foi propriamente material, mas
espiritual. Não foi somente um período de “queima de bruxas”, excomunhões,
anátemas, ignorância generalizada. Foi outro tipo de cultura, com outro ritmo e
outros valores. Floresceu a arte, a pintura, escultura e arquitetura nas catedrais, igrejas e abadias, a música, a literatura, a filosofia. E houve também progresso
material, como as universidades e hospitais que são testemunhas visíveis. Isso tudo Le Goff
resgata nos seus estúdios históricos.
Talvez a maior contribuição de Le Goff tenha sido a
particularidade de reconstituição da ideia de Purgatório no cristianismo medieval. Desde
a crença num estado temporário até a transformação em “lugar” intermediário
entre Céu e Inferno.
Quando uma alma, ainda com resquícios de pecado, precisa livrar-se deles cairia no Purgatório. Esta alma não é tão pecadora que merecesse a condenação eterna, mas não tão pura que pudesse partilhar com os eleitos. Este estado de não ainda totalmente puro para alcançar o Céu, mas também não totalmente merecedor da exclusão total, o Inferno, transforma-se em realidade, o Purgatório, com o mesmo status das categorias de Céu e Inferno. Aquilo que era apenas um estado torna-se “lugar” intermédio. A descoberta do “lugar” para o estado conseguiu superar a contradição de que ajudava os mortos orar por eles. Se estivem no Céu não precisavam de oração ou ajuda e se estivessem no Inferno não lhes adiantava nada as súplicas. Não importa se Céu, Inferno e Purgatório existem ou não. O que importa é que foi criada uma explicação lógica para uma crença religiosa tradicional.
Quando uma alma, ainda com resquícios de pecado, precisa livrar-se deles cairia no Purgatório. Esta alma não é tão pecadora que merecesse a condenação eterna, mas não tão pura que pudesse partilhar com os eleitos. Este estado de não ainda totalmente puro para alcançar o Céu, mas também não totalmente merecedor da exclusão total, o Inferno, transforma-se em realidade, o Purgatório, com o mesmo status das categorias de Céu e Inferno. Aquilo que era apenas um estado torna-se “lugar” intermédio. A descoberta do “lugar” para o estado conseguiu superar a contradição de que ajudava os mortos orar por eles. Se estivem no Céu não precisavam de oração ou ajuda e se estivessem no Inferno não lhes adiantava nada as súplicas. Não importa se Céu, Inferno e Purgatório existem ou não. O que importa é que foi criada uma explicação lógica para uma crença religiosa tradicional.
Conforme Le Goff, isto temporariamente aconteceu na
Baixa Idade Média, em torno do século XII. E antes? Acompanhemos a pesquisa de
como um estado de alma indefinido se transmuda em “lugar” temporário definido.
Conforme Le Goff, historicamente a ideia de Purgatório
somente foi consagrada na Baixa Idade Média. Há, porém,
resquícios desta representação na religião judaico-cristã, como é o caso de
Shéol, que abriga alguns elementos importantes. Um deles é o estado de trevas
que caracteriza o mundo dos mortos. Há ainda a montanha e o rio que separam um e
outro. Há também referências de um “lugar” intermediário, como no livro de
Esdras e no Apocalipse. Alguns pensadores medievais que se ocuparam com a ideia de
purgatório: SANTA PERPÉTUA ( sec. III d.C), ABÉRCIO Sec. II e III) d.C), ATOS
DE PAULO E TECLA (sec. II d.C.), CLEMENTE DE ALEXANDRIA (sec. II d.C), TERTULIANO (sec. II
d.C), CIPRIANO DE CARTAGO (sec. III
d.C.), ORÍGENES (sec. III d.C.), LACTÂNCIO (sec. IV d.C), BASÍLIO MAGNO (sec.IV
d.C), CIRILO DE JERUSALÉM (sec. IV, d.C), JOÃO CRISÓSTOMO (sec. V d.C.) entre
outros. Todos eles de uma forma ou de outrA, direta ou indiretamente, se ocuparam da questão do
Purgatório.
Nos Santos padres – como Ambrósio, Jerônimo e Agostinho
(sec. IV e V d.C) – as almas poderiam sofrer um provação antes do Juízo Final.
No entanto, onde se localizaria esta provação era uma incógnita. É o que consta
quando fala na eficácia da intervenção de santa Mônica que suplicava perante
Deus pedindo a conversãoi do filho Agostinho. Acreditava, inclusive, que as preces poderiam comover a Deus, desde que o
morto tivesse uma vida não pecaminosa. A ideia de Purgatório começou a ter
foros oficiais com o papa Gregório, O Grande, em 593, mas somente foi
proclamado como dogma em 1439, no Concílio de Florença. A ideia consagrou-se,
conforme Le Goff, como um “lugar” de purificação após a morte, e, passado o
tempo e o consequente pagamento da pena, a alma encontrará Deus.