No extremo sul do Brasil – Rio Grande do Sul – é comemorada a data de 20 de Setembro. Foi inspirada na revolução Farroupilha ou dos Farrapos que surgiu no contexto das várias revoluções que eclodiram no Brasil durante as regências, de 1832 a 1840.
Após a renúncia ao trono do Brasil de D. Pedro I – D. Pedro IV de Portugal – o Brasil mergulhou num perigoso torvelinho revolucionário regional que por pouco não se esfacelou territorialmente. Foram a Praieira, a Balaiada, a Confederação do Equador e a Revolução Farroupilha. Politicamente emergiram da ideologia política democrática, de cunho rousseauniano, a qual, como diria o historiador português Joel Serrão, deu origem ao democratismo. Esta ideologia se contrapunha ao ideal liberal da representação e defendia a participação direta do povo. Daí que as massas deviam estar sempre mobilizadas e prontas a intervir. Em Portugal esta ideologia deu origem às revoluções do Vintismo, Setembrismo e da Patuléia.
Em que pese de, no Rio grande do Sul, não ter predominado a vertente radical do democratismo, mas uma face mais democrática do liberalismo, o republicanismo, o qual se tornou o móvel da idéia revolucionária, e com isso fazia coro com os democratas radicais, pois ambos não aceitavam uma monarquia constitucional, representada na pessoa de D. Pedro II, ainda uma criança na época. Para solucionar o problema foi instituída a regência, isto é, um ou mais regentes governariam enquanto a idade impedisse o monarca de governar. Os Farroupilhas não acataram ordens dos regentes e proclamaram a independência do rio Grande do Sul, com o nome de República do Piratini, por ter sido proclamada no município de Piratini. A reintegração deu-se já depois da declaração da maioridade de D. Pedro II, através do pacificador Duque de Caxias.
A partir de então começou a se criar uma cultura no imaginário popular, através da literatura, canções, história e política. É o conjunto de idéias e valores em torno da peculiaridade do riograndense, denominado de “gaúcho”. Diz-se, por exemplo, que o gaúcho é homem de palavra, que é valente, tem orgulho de seu chão e respeitador, entre outras coisas. Por sua vez, a cultura material e imaterial expressa-se por alguns traços típicos. Na vestimenta e em comemorações usa-se bombacha, botas, lenço branco ou vermelho, pala e chapéu. Na linguagem, há termos típicos riograndenses como peão, prenda, mango, canha. Nos centros tradicionalistas – CTG – há danças típicas. No sotaque, as sílabas das palavras são bem separadas com a intercalação de tchê no tratamento. No alimento e bebida destaca-se chimarrão e churrasco. E o companheiro inseparável, o cavalo.
O interessante é que o imaginário cria o real. Quando alguém de outro estado do Brasil encontra um gaúcho e lhe pergunta se é assim, ele faz questão de dizer que sim e age desta forma. Conheço um amigo que nunca tinha feito um churrasco no Rio Grande, mas quando se mudou para o Paraná para trabalhar, foi nomeado churrasqueiro oficial dos colegas e ele aceitou, com muito orgulho...
Nada de errado com a cultura Regional, desde que não se contraponha à cultura nacional e sirva de sustentação a movimentos separatistas como o basco, na Espanha e, com menos intensidade, o lombardo na Itália. Aliás, há sociólogos como Marshall MecLuhan que levantam a hipótese de que a globalização mundial estreitou os laços da identidade cultural, internacional, nacional e mesmo local, a denominada aldeia-global. E parece que o cantor popular do Rio Grande, Teixeirinha, interpretou o espírito da cultura gaúcha na letra de Querência Amada: o riograndense quer ser um brasileiro gaúcho.
“Querência amada,
meu céu de anil.
Este Rio Grande gigante,
mais uma estrela brilhante na bandeira do Brasil.”
meu céu de anil.
Este Rio Grande gigante,
mais uma estrela brilhante na bandeira do Brasil.”