O pontificado de
Francisco sinalizou novos rumos para o catolicismo, tanto na maneira de
pensar, como do agir e mesmo do sentir. No pensar propõe-se ao debate a cima da
tradição. No agir abriu mão das parafernálias burocráticas e no sentir até se
propõe a acolher os excluídos da grei. Isto marca novos tempos, um espírito de
“aggiornamento” de João XXIII.
Estas atitudes
de Francisco levaram à reflexão sobre a ética cristã. Para o catolicismo a
ética está alicerçada no Absoluto. É Dele que ela emerge e é para Ele que ela
tende. Este Absoluto é identificado com Deus. Mas não é nenhum deus abstrato,
filosófico, “ex- intellecto”, mas um Deus identificável e identificado: o Deus
cristão. O cristianismo deixa claro seu pensamento sobre a questão. É nele que
repousa a ética cristã.
No entanto, isto
não significa que tenhamos, nós cristãos, que assumir uma ética absoluta. Na
vida prática, na convivência com nossos semelhantes, temos que ter outros
princípios que supram as lacunas da ética absoluta. Por exemplo, a caridade é
superior à justiça. Podemos ser caridosos sem sermos justos e vice-versa. Por
isso, o cristão atual tem seus próprios princípios e sua ética, mas não postula
impô-los aos demais.
Como diz um
filosofo português, Eduardo Abranches do Soveral, os valores cristãos
atualmente estão disseminados em escala universal. Já fazem parte da cultura de
todos os povos. O principal deles: a valorização do Homem e da Mulher na sua
dignidade, liberdade, igualdade, fraternidade e a justiça social com suas
exigências. No entanto, pensa ele, os valores cristãos se descristianizaram
tomando quase que vida autônoma. Existe na atualidade uma cultura de origem
cristã, no entanto não se autoidentifica com o cristianismo. Ela impregna toda
nossa sociedade pelo seu volume, opacidade, desumanização e fragilidade.
Há, atualmente,
um valor peculiar da cultura cristã presente na sociedade. Trata-se do
intelectual cristão que se apresenta como o mediador entre o homem de rua e a
cultura, como criador desta mesma cultura e que assume uma posição
declaradamente ideológica, com convicção e fundamentação. E como é este intelectual
cristão? Quais suas características?
A primeira característica
é de que seja limpo de coração, isto
é, uma pessoa que vive com Deus, em estado de graça. Em segundo, que conheça o conteúdo dos Livros Sagrados e
a Doutrina da Igreja e, finalmente, tenha uma visão prospectiva da cultura cristã genuína e primacial em oposição
a outras culturas como a marxista, por exemplo. E quais as prospectivas cristãs
mais salientes do intelectual leigo cristão?
1º O progresso. A ideia de progresso é de origem cristã, quando este é
entendido como perfeição pessoal, sentido para História, crescimento indefinido
de todas as atividades do homem, do universo em geral e dos seres vivos. Em
síntese, Deus e Homem são os sujeitos da História.
2º A pessoa humana. Cada homem é uma pessoa e não um indivíduo. Possui
uma dignidade conferida pelo próprio criador e uma natureza assumida pela
própria divindade.
3º A fraternidade dos homens. Os homens são irmãos por serem filhos do
mesmo pai, que é Deus. Esta fraternidade é a origem de sua liberdade e
igualdade relativamente de uns para com os outros.
4º Caridade. A caridade é pessoal, de coração para coração e não para
com os homens em sentido universal. A caridade começa com os mais próximos –
pais, irmãos, vizinhos, companheiros de trabalho etc. – e depois estende aos
demais. Isso tem sentido como um Corpo Místico de Cristo. Sempre na situação
concreta e não geral. Cada um seja um Cristo na situação concreta. “É
professor? Seja Cristo como professor. É aluno? Seja Cristo como aluno. É
empregado? Seja Cristo como empregado” Isso sem arrogância ou afetação e muito
menos exigência. Sejas tu e aceite o que o outro quiser ser.
Esta é a ética do cristão atual.