O físico brasileiro Marcelo Gleiser recebeu no dia 19 de
março deste ano, o prêmio Templeton, o Nobel da Espiritualidade, por suas
pesquisas referentes às origens do universo, jungindo ciência e religião. Tem
sessenta anos, carioca, professor da Dartmouth College, em Hanover, nos Estados
Unidos.
Sobre a relação entre ciência e religião diz Marcelo
gleiser:
"O caminho para a compreensão e a exploração científica
não é apenas sobre a parte material do mundo, e minha missão é trazer de volta
para a ciência e para as pessoas que se interessam por ciência, esse apego
àquele mistério. É fazer as pessoas entenderem que a ciência é apenas mais uma
maneira de nos envolvermos com o mistério de quem somos".
Apesar de agnóstico, não nega o espiritual, apenas acha
que são se o atinge, afirma: “
"O caminho para a compreensão e a exploração
científica não é apenas sobre a parte material do mundo, e minha missão é
trazer de volta para a ciência e para as pessoas que se interessam por ciência,
esse apego àquele mistério. É fazer as pessoas entenderem que a ciência é
apenas mais uma maneira de nos envolvermos com o mistério de quem somos".
Na obra de Gleiser encontramos duas dimensões: uma física
na qual lida com números, gráficos, cálculos matemáticos buscando decifrar o
universo através da física e astronomia, outra espiritual,
buscando respostas para o mistério e aí se vale da ajuda da religião. Diz ele:
“A gente sabe que só vê parte da realidade. Essa conexão
com o mistério que nos cerca, para mim, é profundamente espiritual. Meu
discurso tem todo um lado ecológico e social. Informa pela ciência, mas
constrói uma nova moral do século 21 para salvar nosso planeta e nossa espécie”.
Tem em Einstein como fonte de inspiração tanto para o
físico como para o espiritual.
Revela:
“Eu me identifico muito com o que Einstein chama de
‘mistério cósmico religioso’. Essa urgência que temos de nos conectar. Isso é
uma coisa que eu tenho, desde antes de ser cientista. Sou carioca, cresci indo
da praia para as montanhas, vendo o céu estrelado. Dentro da ciência, em raros
momentos da vida profissional você faz uma descoberta e, quando vê alguma coisa
acontecendo na sua frente, você sente um frio no estômago. Você diz: ‘Caramba,
eu consegui vislumbrar uma coisa que nem todo mundo conseguiu. Uau.’
É um
momento que acontece, através da ciência mais racional, mas que leva para este
sentimento”, É o que Einstein define como o sentimento cósmico religioso.”
Em que pese este lado religioso, declara-se ateu, isto
por que não admite imiscuir religião onde não deve, isto é, ser fanaticamente
religioso como querer implantar o criacionismo nas escolas, emblemar as salas
de aula com bíblia ou crucifixo. Esta postura religiosa é privada e não
oficial.
Diz ele:
“Se sou ateu; se fico transtornado quando vejo a
infiltração de grupos religiosos extremistas nas escolas, querendo mudar o
currículo, tratando a ciência em pé de igualdade com a Bíblia; se concordo que
o extremismo religioso é um dos grandes males do mundo; se batalho contra a
disseminação de crenças anticientíficas absurdas como o design inteligente e o
criacionismo na mídia; por que, então, critico o ateísmo radical de Dawkins?
Porque não acredito em extremismos e intolerância. ... É essa crença ignorante
que deve ser combatida; ... É a hipocrisia usada sob a bandeira da fé que deve
ser combatida, não a fé em si”.
O lado humano de Gleiser pode ser encontrado no livro de
sua autoria: A simples beleza do
inesperado’, (Ed. Saraiva), enquanto o lado da física, cosmologia e
espiritualidade, encontra-se em: ‘Quantum questions: Mystical Writing of the World’s Greatest Physicists’
(‘Perguntas quânticas: escritos místicos dos maiores físicos’, sem tradução
para o português). O livro O fim da Terra
e do Céu, mereceu-lhe o Prêmio Jabuti.