Se dermos uma repassada sobre a trajetória do pensamento,
podemos constatar que não há filósofo, antigo ou moderno, que não fale em
felicidade. Mas, se nos perguntarmos: o que é felicidade, o que quer dizer ser
feliz? É possível um estado de felicidade permanente ou sempre a felicidade
momentânea, fica ou depois vai embora e se deve esperá-la voltar? Perguntou-se
a Allen Woody e ele disse que não se pode ser feliz por mais de seis horas.
Theodor Adorno nos alerta que não temos consciência quando somos felizes e só
depois nos damos conta. Em contrapartida, Michel de Montaigne nos fala que
ninguém é infeliz por muito tempo a não ser por própria culpa. Como
consequência, para ele a felicidade se pode aprendê-la, é uma arte.
Poderíamos continuar desfilando pensadores como Platão
que acha que a felicidade está assentada na sabedoria e virtude; Epicuro aponta
para uma vida sábia, bela e justa; Aristóteles a realização da natureza
específica. Na atualidade Woody Allen destaca o pensamento positivo, pois dizer
a alguém “seja feliz” é o método mais seguro de afastá-lo da infelicidade. Há
quem diga, que a procura obsessiva na busca da felicidade é o atalho mais
seguro para se conseguir o contrário.
Sempre dispomos mais de informações e sempre menos de
meios para nos conhecermos. Nesta esteira está também a felicidade. Todos dizem
que a provaram, mas ninguém consegue defini-la e muito menos como consegui-la.
A tendência atual é o retorno ao pensamento grego originário que pensava que a
felicidade é uma escolha de vida, mas esta exige que quem fizer a escolha seja
feliz. Chegamos, portanto, a um círculo vicioso: tenho que ser feliz para fazer
uma escolha feliz.
Voltemos ao questionamento. Sabemos que não sabemos por
que somos felizes e por que não somos. Alguns podem dizer que felicidade são
férias nos Trópicos que dura pouco. Para os kantianos a consciência do dever
cumprido pelo dever. Podemos ser felizes sozinhos ou somos com o outro? A
felicidade é o fim último ou há outro? É melhor ser um Sócrates infeliz ou um
imbecil contente, como se perguntava John Stuart Mill? E a conclusão é de que
haveria mais felicidade num Sócrates infeliz do que num imbecil satisfeito.
José Ortega y Gasset escreve que o homem vive a partir e
de uma filosofia. Esta pode ser sofisticada ou simples, própria ou adotada,
antiga ou atual, genial ou rudimentar. Mas, de qualquer forma, nosso ser
penetra suas raízes numa filosofia. Por conseguinte é a qualidade da filosofia
nas quais estão nossas raízes que determina a qualidade de vida. E como
consequência provavelmente a qualidade de nossa felicidade. Isto por que a
filosofia tem em si a força de modificar o modo como percebemos as coisas
aumentando os limites e penetrando a profundidade. Ler e estudar filosofia
proporciona o estar bem no mundo. É certo que a felicidade não depende
unicamente de nós, mas cada um de nós é responsável pelas próprias escolhas. Em
vista disso somos nós que decidimos qual a filosofia que escolhemos para
receber as alegrias e fazer frente aos infortúnios.
Não é suficiente sentir prazer, em que pese que o prazer
seja um componente da felicidade. Almejamos ser felizes, mas o somos daquilo
que somos. É senso comum que uma vida recheada de consciência, de buscas
pessoais, de respostas que demandam novas perguntas, gera muitas probabilidades
que nos façam pessoas felizes, seja uma felicidade duradoura ou passageira.
Com o título: “Os filósofos Falam de Felicidade” (I
Filosofi Parlano di Felicità) a editora italiana Enaudi lança a releitura dos
textos de filosofia da autoria de Fulvia de Luise e Giuseppe Farinetti.